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‘Sangue Azul’ é o Brasil bem brasileiro em Berlim

Longa-metragem do diretor Lírio Ferreira, premiado no Festival de Paulínia, é bem recebido em festival alemão

Por Mariane Morisawa, de Berlim
8 fev 2015, 11h23

Sangue Azul, quinto longa-metragem de Lírio Ferreira, que abriu a mostra Panorama do 65º Festival de Berlim, tem sexo, cor, paisagem paradisíaca – foi engraçado quando um espectador alemão perguntou ao diretor, depois da primeira sessão do filme, na quinta-feira, por que ninguém usava camisinha.

É o Brasil brasileiro, com a marca do diretor pernambucano, de “Baile Perfumado”, em parceria com Paulo Caldas, e “Árido Movie” (2005). Isso significa: um certo caos, com realidade misturada a fantasia e considerações filosóficas, tudo filmado lindamente. Daniel Oliveira interpreta Pedro, que adotou o nome Zolah no circo e agora volta à sua terra natal, Fernando de Noronha, onde os fantasmas e traumas do passado começam a ser desenterrados – a mãe (a ótima Sandra Corveloni) o entregou para o circo quando ele ainda era menino, e sua adorada Raquel (Caroline Abras) agora está noiva de Cangulo (Rômulo Braga).

Nunca um longa-metragem tinha sido inteiramente rodado em Noronha, que serve aqui como um cenário real e metafórico para o estado emocional dos personagens. O longa levou os prêmios de fotografia e figurino no Festival de Paulínia e de filme, direção e ator coadjuvante (Rômulo Braga) no Festival do Rio, além de ser exibido na Mostra de Cinema de São Paulo. Lírio Ferreira e Daniel Oliveira, que vieram a Berlim para representar “Sangue Azul”, conversaram com o site da VEJA:

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Sangue Azul foi bastante premiado no Brasil. O que vir a Berlim representa para o filme?

Lírio Ferreira – Para mim, é muito bacana, é minha primeira vez em Berlim e com filme na Berlinale, abrindo a mostra Panorama, é fantástico. É uma vitrine muito bacana para o filme e para mim pessoalmente é um sonho. Conhecia os principais festivais, mas Berlim é a primeira vez. E conhecer a cidade nevando, nessa época do ano, enquanto o Brasil está pegando fogo no calor, na falta d’água e no Carnaval. A gente está fazendo Carnaval aqui, representando o cinema brasileiro.

Fazia um tempo que você não fazia filmes de ficção.

Lírio – Sim, o último foi Árido Movie, de 2005. Depois fiz um filme para a televisão, documentários musicais e uns curtas. Fazia quase dez anos que não me metia. Estava com saudade disso! Principalmente de trabalhar com atores.

Desde o princípio a ideia era fazer uma ilha? Por que a ilha?

Lírio – A ideia sempre foi ter a ilha como uma coisa distante. Obviamente que Noronha, por ser uma ilha continental, ela dá para o personagem do Zolah um distanciamento, uma volta mais pródiga. E a ilha é um reflexo de um magma que explode no fundo do mar, Fernando de Noronha tem um vulcão. A combinação da distância e do vulcão é uma coisa muito simbólica para a relação que se desenvolve num filme. É como se os atores estivessem na boca de um vulcão. E como o filme nasceu dessa ideia de ser uma ilha dentro de uma ilha – uma ilha que não se move e uma ilha que se move, o circo.

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Como esse projeto para você?

Daniel Oliveira – Um dia ele me ligou e me falou: “É Lírio Ferreira, tem um filme aí pra gente fazer!”. E aí é Lírio, né? Já tem um currículo e uma história respeitáveis, um cara muito querido, pernambucano arretado. Um cara apurado mesmo no cinema, na música. Um cara massa. E aí é irrecusável. A gente foi a um bar conversar no Rio. E ele jogou o Sangue Azul assim. Falei: “Não acredito que você vai me fazer sair de um canhão, vai montar um circo em Noronha”. Uma coisa até então impensável.

Como foi a preparação para o personagem, que é um artista de circo?

Daniel – Sempre gostei de circo. Quando o circo ia para a minha cidade, Belo Horizonte, era na rua de casa. Sempre ia ao circo. Gosto de artes marciais, faço jiu-jitsu e krav magá, que já ajudam na mobilidade. Aí vi que na minha academia no Rio tem uma coisa de acrobacia de solo. O mais importante mesmo depois dessa preparação física foi a chegada na ilha. Eu tenho essa coisa de querer ir antes. Para o filme Órfãos do Eldorado, do Guilherme Coelho, fui de carro do Rio de Janeiro até Belém do Pará. Demorei seis dias para chegar. E aí aqui eu cismei que queria chegar de barco a Fernando de Noronha. Mas não deu certo. Fiquei em Olinda, que foi bom para aprender o sotaque. Aí quando cheguei a Noronha, fui entendendo o espírito da ilha. Acordava com a ajuda de Dorival Caymmi, que combina muito com lugar de praia. Foi bom demais estar naquela ilha.

Você falou das delícias, mas quais foram as dificuldades de filmar em Fernando de Noronha?

Daniel – Eu falei delícias porque não sou da produção (risos). A produção cortou um perrengue. Veio um canhão, veio um circo, toda uma bagagem que um filme comum não leva.

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Lírio – É aquela coisa que o prazer do elenco e do diretor, para a produção, é trabalho. A produção levou 26 toneladas de barco, do Recife para lá, demorou seis dias para chegar. É o primeiro filme inteiramente rodado em Fernando de Noronha. Não tem um take que não seja na ilha. Mas aí a gente descobriu por que ser o primeiro: é dificultoso, é caro, é uma ilha a 300 quilômetros do litoral do Rio Grande do Norte. Mas eu e o Renato Ciasca, produtor do filme, fomos chegando aos poucos, dois ou três anos antes. A ilha participou muito. A gente criou um vínculo muito forte, antes, durante e depois. Foi a comunhão de forças que possibilitou esse sonho maravilhoso de filmar no paraíso.

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