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Por que Taylor Swift vai salvar a indústria musical

Aos 24 anos, a cantora é a grande cartada do mercado fonográfico americano para evitar que este ano se torne o mais catastrófico da história

Por Meire Kusumoto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 ago 2020, 17h02 - Publicado em 1 nov 2014, 09h58

“Querido, eu sou um pesadelo disfarçado de sonho”, canta Taylor Swift em Blank Space, a segunda faixa de 1989, disco que chegou às lojas americanas na última segunda-feira e desembarca no Brasil no dia 11 de novembro, marcando a sua mudança definitiva da música country para o pop. A frase pode soar autodepreciativa aos desavisados, mas que eles não se enganem. Ela é criação exemplar de uma cantora que faz autoficção nas suas letras e agora adota uma atitude bem-humorada diante do que deu errado, na carreira e na vida. Quer dizer, só na vida, já que a carreira não poderia estar melhor. Aos 24 anos, Taylor Swift soma sete estatuetas do Grammy, mais de 30 milhões de discos vendidos pelo mundo e, apenas entre junho de 2013 e junho de 2014, uma receita de 64 milhões de dólares oriundos de shows e contratos publicitários, segundo a revista Forbes. Ela vive o seu melhor momento, exatamente quando o mercado fonográfico americano amarga o seu pior. A conjunção levou a cantora a ser apontada como a salvação da lavoura – sem trocadilhos com a sua origem country. É ela quem, na opinião de analistas e executivos da indústria musical, pode impedir que o setor tenha em 2014 o seu ano mais trágico: até aqui, nenhum artista ou banda vendeu 1 milhão de cópias de um mesmo disco nos Estados Unidos, condição para conquistar um disco de platina no país. Uma história que Taylor Swift agora pode reescrever.

Na próxima quarta, dia 5, a revista Billboard, que compila dados de vendas nos EUA, publicará os números desta semana e então será possível saber se Taylor terá cumprido a profecia. Mas, dado o histórico da cantora, que vendeu mais de 1 milhão de unidades dos seus dois discos anteriores, Red (2012) e Speak Now (2010), em apenas uma semana, a meta não chega a ser um grande desafio. E, ao que indica reportagem publicada nesta quinta pelo site da Billboard, Taylor percorreu mais de metade do caminho já no primeiro dia: 1989, segundo a nota, teria vendido incríveis 600.000 cópias no dia de estreia, 27 de outubro.

Nem mesmo a troca de estilo pode frear Taylor, que chega ao quinto disco de estúdio embalada pela boa repercussão de Shake It Off, canção feita para o ex Harry Styles, do One Direction, que passou duas semanas no topo da Billboard Hot 100, por uma mudança de cidade – ela trocou Los Angeles por Nova York, onde mantém uma de suas quatro casas – e por novas amizades no mundo pop, como a cantora neozelandesa Lorde, a maior revelação do cenário nos últimos anos, que a substituiu na trilha da saga Jogos Vorazes, um fenômeno de bilheteria. “Qualquer mudança é arriscada, mas o trabalho de Taylor agora é mais abrangente. Puristas vão reclamar, mas ela tem mais a ganhar do que a perder”, diz Danielle Lage, diretora do setor internacional da Universal Music no Brasil, gravadora da cantora no país.

E a troca de estilo é clara. Se começou a ser insinuada no disco Fearless (2008), que punha um pouco de pop nas faixas Love Story e You Belong With Me, e avançou em Red (2012), em que o pop já sobressaía ao country na maior parte do repertório, ela agora é total. Em 1989, o traço caipira se desvaneceu, deixando de lado banjos, bandolins e o produtor Nathan Chapman, responsável por seus quatro álbuns anteriores e que só produziu uma faixa do novo disco. Esse espaço agora é ocupado por guitarras, por sintetizadores e por Max Martin, o nome por trás de trabalhos de Britney Spears e Kelly Clarkson e que assina a produção de várias canções do novo CD. 1989, ano de nascimento da cantora, é um título simbólico, como muita coisa no álbum. Este é um disco que marca, afinal, a chegada de uma nova Taylor Swift.

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O penteado caipira podia mesmo ser uma tática comercial. Apesar de ter se apaixonado pelo country, estilo forte no Sul dos EUA, Taylor não é uma caipira de raiz, por assim dizer. Natural da Pensilvânia, ela só se mudou para Nashville, a capital de Tennessee e da country music, aos 14 anos. A partir daí, adotou a cidade como sua, “sem nem pensar duas vezes”, como disse em entrevista à revista Time. E de fato tem endereço próprio lá, onde os pais moram em uma mansão presentada por ela: a cobertura de um prédio comprada por 2 milhões de dólares em 2009, segundo a Forbes. Mas Taylor também tem outros três endereços para chamar de seus: uma casa em Los Angeles, um apartamento em Londres e outro em Nova York, para onde se mudou em março.

O deslocamento para Nova York, aliás, pode ser ele também parte de uma estratégia comercial. O que poderia ser mais simbólico, para ilustrar a migração do country para o pop, do que a troca do interior pela cidade grande? Para corroborar essa imagem, 1989 abre com uma faixa em que Taylor canta as maravilhas de se viver em uma metrópole: “Quando deixamos nossas malas / no chão dos nossos apartamentos / colocamos nossos corações partidos em uma gaveta / todos aqui eram outra pessoa antes / e podem ser quem elas quiserem”, diz a letra. A ode à cidade – outro truque do marketing? – vem acompanhada de um gesto beneficente. Nesta semana, Taylor anunciou que irá reverter o lucro obtido com o single para escolas públicas da cidade, notícia tão bem recebida que a artista se transformou em embaixadora do turismo de Nova York.

Outra característica de Taylor, criada ou não por marqueteiros, é esta: ela é uma “fofa”. Sempre disposta a aplaudir colegas com elegância, a sorrir e a dar a sua contribuição contra as mazelas do mundo, ela chegou a ser apontada pela Forbes como a mais caridosa das celebridades por dois anos seguidos, em 2012 e 2013. E as histórias sobre a sua generosidade não para de surgir. “Em shows, já cheguei a ver Taylor dar jóias que ela estava usando para pessoas que estavam na plateia, que ficaram em choque com a atitude”, conta Mark Razz, diretor musical da rádio country 92.5 XTU, na Filadélfia.

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Selo de qualidade – Orientações comerciais à parte, é fato que a renovação sonora de Taylor é acompanhada por uma transformação pessoal. Em entrevista à revista americana Rolling Stone, a cantora afirmou que o novo álbum não é tão centrado em garotos como os outros porque eles não são mais prioridade em sua vida. Mais precisamente, desde que o namoro com Harry Styles, do One Direction, adernou, em janeiro de 2013, e que ela travou amizade com figuras de pendor feminista como a atriz Lena Dunham, criadora e protagonista da série Girls (HBO). Seu perfil na rede social Instagram agora é ocupado por comentários sobre passeios com as amigas (ela parece se divertir bastante) e por fotos com suas duas gatas, Meredith e Olivia (gatas mesmo, com pelos e cauda).

E é fato, também, que a mudança não traz prejuízo à discografia da cantora. As qualidades musicais que acompanham Taylor há pelo menos oito anos, quando ela se lançou no mundo da música com um disco que levava o seu nome, continuam presentes, mas com nova roupagem, mais animada e dançante. As boas composições autobiográficas abandonaram o tom choroso e deprimente, como o de Dear John (“Vejo agora que você se foi / Você não acha que eu era nova demais para ser machucada?”), faixa do disco Speak Now escrita para John Mayer, com quem namorou quando ela tinha 20 anos e, ele, 32. Agora as músicas têm uma pegada leve e autoconfiante, mesmo quando falam de rompimentos, como All You Had to Do Was Stay (“Deixe-me lembrar que isso era o que você queria / Você terminou / Você era tudo o que eu queria / Mas não desse jeito”).

A personalidade impressa por Taylor às músicas, capaz de fazer o público identificar que uma canção é dela, também não se perdeu. Enquanto entoa versos, ela emana um sentimento entre o sério e o brincalhão e entre o romance e o drama. “Taylor passa uma verdade muito grande, esse personagem delicado que ela apresenta parece ser realmente quem ela é. E é isso o que conquista o público, o fato de ela ser ‘normal’, uma pessoa que poderia ser a sua vizinha, sua amiga querida do colégio”, diz Danielle Lage. Faltou dizer que vizinhas não dão joias de presente, assim, do nada. Há coisas que, como a indústria da música está prestes a comprovar, agradecida, só mesmo Taylor Swift faz por você.

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