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O feminismo está com tudo nas séries americanas

Da senhora dos dragões de 'Game of Thrones' às presidiárias de 'Orange Is The New Black', a questão de gênero está no centro das melhores produções do momento

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 jun 2016, 21h48

A personagem Daenerys Targaryen dispensou a ajuda de seus decantados dragões para mostrar aos marmanjos quem é a dona do pedaço na cena culminante e escaldante de um episódio recente de Game of Thrones, série de fantasia adulta que está na sexta temporada, produzida e exibida pela HBO. Ameaçada pelos líderes da tribo guerreira dothraki, a loira vivida pela inglesa Emilia Clarke não se abalou diante da ostentação de testosterona dos brutamontes. Do alto de seu 1,57 metro, afirmou que nenhum homem ali tinha estatura para guiar seu povo. Se as feministas dos anos 60 queimavam sutiãs (peças de vestuário que seriam incongruentes no universo medievo da série), Daenerys foi mais longe: ateou fogo ao templo onde se reunia com os dothraki. Imune ao calor graças a seu mágico parentesco com os dragões, ela em seguida se apresentou nua à multidão que acorreu ao incêndio, com os seios dourados resplandecendo em meio às chamas. A consagração dessa Genghis Khan de saias atesta o poder feminino na safra atual de séries americanas.

Da ancestral Mulher-Maravilha às agentes de As Panteras, faz ao menos quatro décadas que a emancipação feminina chegou aos seriados. Mas o que se verifica agora não é só a emergência de novas categorias de mulheres fortes (confira ao longo da reportagem). O debate sobre gênero tornou-se inescapável, a ponto de às vezes ser o motor da trama. Tal é o caso de Orange Is the New Black, produção do Netflix cuja quarta temporada estreou há pouco: no retrato de uma prisão feminina americana, a autora Jenji Kohan insere traços de franca militância.

Faces mais variadas e mais sutis do feminismo foram abordadas em uma série que encerrou sua trajetória na semana passada para entrar no panteão das imortais do gênero. Na terceira e última temporada de Penny Dreadful, o roteirista John Logan apimentou o caldo de cultura da Inglaterra da era vitoriana (quando surgiu o sufragismo, a primeira grande eclosão dos movimentos pela emancipação da mulher) com uma vertente de feminismo radical. Ressentida pelas humilhações que sofreu nas mãos de homens, Lily (Billie Piper), criatura fabricada pelo Dr. Frankenstein, montou uma brigada de prostitutas dedicadas a exterminar os porcos chauvinistas. “Prefiro morrer a ter de viver como esposa recatada”, proclamou. A subtrama de Lily representava uma derivação extrema e monstruosa da guerra dos sexos. Mas isso não significou falta de simpatia da série pela afirmação feminina. Como se confirmou ao final, raras vezes uma heroína fez tanto pela causa quanto a protagonista Vanessa Ives: a personagem de Eva Green elevou a mulher à condição de essência divina do universo. Aliás, divina ou diabólica – cabia só a ela escolher.

No lugar dessas altas divagações teológicas, roteiristas feministas preferem temáticas mais próximas da esfera terrena. O que nem sempre implica realismo de fato: a americana Shonda Rhimes estabeleceu um padrão de feminismo açucarado. Séries como Scandal e How to Get Away with Murder falam de mulheres negras poderosíssimas, mas presas fáceis do romantismo – ah, esse doce veneno. Mesmo campeãs da eficiência como Olivia Pope, de Scandal, só se sentem completas no colo aconchegante de um tigrão tão poderoso quanto elas.

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Em Orange Is the New Black, Jenji Kohan oferece o oposto do romantismo. A série mostra a vida dura de representantes das minorias dentro da cadeia. Com seu retrato irônico de questões como a intolerância racial, exploradas com ainda maior vigor na nova temporada, Orange inebria os adeptos do progressismo. Jenji dirige-­se calculadamente ao segmento que dita a opinião pública elegante nos Estados Unidos, os liberais. Que, aliás, não raro mostram ânimo patrulheiro. Desde o início de Game of Thrones, feministas denunciam o suposto sexismo de qualquer cena forte com mulheres – da nudez de Daenerys ao estupro sofrido pela nobre Sansa Stark (Sophie Turner) na noite de núpcias com o perverso Ramsay Bolton (Iwan Rheon). A participação essencial das mulheres na nova temporada veio calar a boca dos chatos.

A maré liberal favorece a expansão do feminismo televisivo. Mas a ascensão ficcional delas se explica pela emancipação da mulher real: a briga pela audiência feminina tornou-se feroz. Game of Thrones é a série mais popular não só entre os homens, mas também entre as mulheres, talvez por resumir o fenômeno com eloquência. A fantasia baseada na obra de George R.R. Martin traz mulheres em todos os estágios da evolução, de escravas sexuais a líderes impetuosas. E elas amadurecem: Sansa passou de mocinha palerma a dama altiva, com um papel crucial na “Batalha dos Bastardos” travada por seu meio-irmão Jon Snow (Kit Harrington) contra o sádico Bolton no penúltimo episódio da temporada (o último vai ao ar neste domingo, 26). Com ou sem dragões, as moças das séries atuais são fogo.

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