Los Hermanos emociona e toca até ‘Anna Júlia’ para celebrar 15 anos de carreira
Banda carioca fez nesta quinta o primeiro de uma série de quatro shows que realiza em SP; nos próximos dias, toca também em Porto Alegre e no Rio de Janeiro
Parecia a reunião dos Beatles. Vários minutos antes do show, a plateia pedia pela banda com coros e gritos de torcida. Quando a apresentação começou, o vocalista Marcelo Camelo nem cogitou entoar os primeiros versos de O Vencedor. Ele sabia que a plateia se encarregaria disso, cantando cada verso a plenos pulmões e mais alto do que seu microfone poderia chegar. É como definiu o vocalista Rodrigo Amarante, ao olhar para a plateia do Espaço das Américas, nesta quinta-feira: “Não dá para se acostumar com isso aqui”. Desde 1999, quando a banda carioca Los Hermanos lançou seu primeiro álbum, homônimo, sabe que todos os seus shows, sem exceção, serão catárticos. E, ainda assim, é surpreendente ver que, mesmo sete anos após o lançamento do último disco do grupo, 4, e vários de hiato, os fãs continuam tão fiéis como se a banda tivesse surgido há poucos meses. A apresentação desta quinta-feira foi a primeira de quatro em São Paulo e faz parte da turnê comemorativa de 15 anos do grupo. Nos próximos dias, os músicos tocam em Porto Alegre e Rio de Janeiro.
No primeiro show no Espaço das Américas, aparentando certa falta de entrosamento, Camelo e Amarante passaram boa parte do tempo revezando os microfones a cada música. Mas a plateia parecia nem ligar — afinal, o que importava era ver os ídolos e cantar com (ou sem) eles. No caso das músicas de Camelo, sem eles, já que o músico preferia deixar a plateia cantar. Assim seguiram Retrato pra Iaiá e Todo Carnaval Tem Seu Fim, do disco Bloco do Eu Sozinho (2001), O Vento, Morena e Primeiro Andar, do álbum 4 (2005), e Além Do Que Se Vê, Um Par, De Onde Vem a Calma e Do Sétimo Andar, do disco Ventura (2003). Sempre mesclando repertório de todos os trabalhos do grupo a fim de contemplar os fãs com suas favoritas.
No bloco seguinte, o primeiro disco do grupo ganhou destaque. Camelo cantou, na sequência, Azedume e Descoberta. Depois, cedeu o microfone novamente para Amarante mostrar uma versão ainda mais melancólica da faixa Sentimental, de Bloco do Eu Sozinho — aliás, embora tenha sempre sido considerado a metade solar do grupo, o músico aparentou estar em um momento mais introspectivo. Atualmente gravando seu primeiro disco solo, Amarante apresentou uma música nova, Um Milhão, bonita e triste. Camelo, por outro lado, parece mais feliz e sorridente do que nunca — e bem mais do que em sua carreira solo na divulgação dos discos Sou (2008) e Toque Dela (2011). Vai ver é o casamento com a cantora Mallu Magalhães?
Embora o clima geral na plateia já fosse de êxtase total desde a primeira música, foi depois de A Flor que a catarse se instaurou. Foi a primeira vez, em pouco mais de 1 hora, que Camelo e Amarante dividiram os vocais, inclusive, no mesmo microfone. A cena ficou bonita no telão gigante instalado atrás do palco, mostrada por uma câmera no microfone. O indicativo do bom entrosamento entre os dois era o que faltava para os fãs irem de vez à loucura. E a plateia respondeu cantando junto ainda mais nas faixas seguintes, Cara Estranho, Condicional, A Outra, Deixa o Verão, Casa Pré-Fabricada e O Velho e o Moço. Para se despedir antes do bis, uma execução emocionante de Último Romance, dançada como valsa por vários casaizinhos na plateia.
O bis começou com Dois Barcos, de 4, mas o repertório foi fechado somente com músicas do primeiro disco: Tenha Dó, Quem Sabe, Pierrot e — quem diria — até Anna Júlia, que o grupo tem deixado de fora nas apresentações mais recentes. Parte da plateia hesitou, mas, no refrão, não houve quem resistisse gritar: “Ôôô Anna Júlia!”