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‘Filmes de herói ainda serão impostos pelos estúdios por muito tempo’, diz autor de livro sobre a Marvel

Em entrevista ao site de VEJA, o jornalista e escritor Sean Howe fala sobre o processo de escrever ‘Marvel Comics – A História Secreta’ e a moda de heróis no cinema, que parece interminável em duração e como fonte de lucro

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 set 2013, 11h07

Sim, a moda dos heróis no cinema está durando. E não tem data para acabar. Além de a tecnologia permitir filmes cada vez mais verossímeis e incríveis, o filão ainda dá muito, muito dinheiro para os estúdios – basta lembrar que Homem de Ferro 3, deste ano, passou de 1 bilhão de dólares em bilheteria, prova do fôlego que o gênero ainda tem. Notícia melhor do que essa, para os amantes dos quadrinhos, é que a sobrevida dos heróis nas telas deve ampliar o exército de bem feitores nas salas escuras. É o que deixa ansioso o jornalista americano Sean Howe, autor de Marvel Comics – A História Secreta (tradução Érico Assis, Leya, 560 páginas, 49,90 reais), livro que acaba de chegar ao Brasil.

“Tem muito dinheiro envolvido na promoção destes filmes e eles rendem muita bilheteria. Por um bom tempo, continuarão sendo empurrados para as pessoas, queiram elas ou não”, diz Howe em entrevista ao site de VEJA.

Fã de HQs, o autor só vê um ponto chato nessa onda sem fim: a seriedade com que as pessoas teimam em encarar os super-heróis. É só lembrar da recente escalação de Ben Affleck para viver o Batman no longa Batman vs. Superman, previsto para 2015. Fãs do herói chegaram a criar uma petição online, pedindo a demissão do ator, que foi aconselhado por amigos a se manter afastado da internet por um tempo. “As pessoas levam super-heróis muito a sério”, diz.

Capa do livro 'Marvel Comics - A História Secreta'
Capa do livro ‘Marvel Comics – A História Secreta’ (VEJA)
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No livro, ele cita um caso exemplar dessa gravidade dedicada aos quadrinhos. Durante a Guerra do Vietnã, na década de 1960, americanos cobraram posicionamento de uma proeminente figura da época, que, em sua opinião, deveria entrar em combate: o Capitão América. A exigência não aconteceu em uma fictícia história em quadrinhos ou em um filme, e sim na realidade. Os leitores queriam uma revista em que o herói americano lutasse na guerra.

A pressão caiu sobre o roteirista Stan Lee, criador de boa parte dos heróis da Marvel, que se recusou a escrever a tal história do Capitão América lutando no conflito. Afinal, a guerra era séria, os heróis não. “Tratamos estes personagens meio na brincadeira. Não sei se seria de bom gosto pegar algo sério como o que está acontecendo no Vietnã e usar com um personagem como o Capitão América”, disse Lee à época.

Ainda que diga não levar a sério os heróis, a pesquisa de Howe para compor o livro de 557 páginas foi feita com afinco e, é claro, seriedade. O jornalista amante de histórias em quadrinhos, principalmente do grupo de heróis da Marvel, se dedicou por 10 anos ao livro, período em que entrevistou cerca de 150 pessoas. Lá estão histórias que vão desde o quase pedido de demissão de Stan Lee, em 1961, quando a pequena editora Magazine Management Company, criadora da Marvel, estava à beira da falência e o roteirista teve medo do seu futuro profissional, até o acordo bilionário, em 2009, quando a Marvel foi vendida para a Disney.

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A extensa pesquisa e dedicação valeram a pena. A obra ganhou o Eisner Award, o “Oscar das HQs”, de melhor obra relacionada a quadrinhos este ano. Entre as histórias levantadas por Howe, estão curiosidades sobre a criação dos heróis e as brigas e processos por direitos autorais que transformaram artistas, antes amigos, em grandes inimigos. Na entrevista a seguir, o autor fala sobre sua paixão por super-heróis, o boom de filmes com a temática e os lançamentos que prometem mais milhões (ou, quem sabe, bilhões) em bilheteria.

Por que os heróis, desde que estouraram no cinema, não saíram mais de moda? Uma interpretação razoável seria a de que as pessoas estão necessitadas de heróis, mas também acho que o principal motivo é a evolução da tecnologia, que se aprimorou nos últimos anos e hoje possibilita a criação de cenas fantásticas, não mais ridículas. A falta dessa tecnologia foi um problema por muito tempo. Se você olha para o passado, para os filmes antigos de super-heróis, são produções ruins e vergonhosas, difíceis de assistir.

Acha que a febre de super-herói deve acabar logo? Provavelmente não, por motivos financeiros. Tem muito dinheiro envolvido na promoção destes filmes, eles rendem muita bilheteria. Por um bom tempo, eles continuarão sendo empurrados para as pessoas, queiram elas ou não.

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O cinema vive uma saturação de super-heróis há dez anos. No entanto, alguns, como Batman e Homem-Aranha, são mais explorados que outros. Por quê? É difícil dizer, alguns personagens funcionam melhor que outros no cinema, mesmo assim é sempre uma surpresa quando alguns não vingam nos filmes. Fizeram um piloto de uma série da Mulher Maravilha para o canal de TV NBC, em 2011. E nunca lançaram. Eu vi um trecho e é horrível (risos). No caso da Marvel, eles demoraram mais que a DC Comics para emplacar longas de sucesso. Eles nunca tiveram um Superman ou um Batman, então, na última década, começaram a investir no cinema com cuidado. Escolheram primeiro, para as adaptações, os personagens que deram certo nos quadrinhos, como o Homem-Aranha e o Quarteto Fantástico. Um diferencial da Marvel é que a empresa envolve os artistas dos quadrinhos no processo de adaptação cinematográfica. Acho que isso ajuda a explicar o sucesso de seus longas.

Qual super-herói merece um filme? Eu gostaria de um ver um filme melhor do Demolidor, não gostei do outro. Acho que o Doutor Estranho também poderia ser um ótimo filme, mas fico preocupado que não consigam fazer isso bem. O Doutor Estranho precisa de uma estética meio torpe, com cores fortes e, enfim, estranha. Mas estou ansioso para ver o Homem-Formiga e os Guardiões da Galáxia, mas tenho uma tendência de gostar de filmes mais silenciosos (risos). O que a maioria das pessoas gosta nos filmes de heróis é dos momentos com grandes explosões, eu prefiro as partes de diálogos, das cenas mais humanas. Por isso quero ver o Homem-Formiga, acredito que terá uma veia mais cômica. As pessoas levam super-heróis mais a sério do que deveriam.

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Estão nos planos da DC lançar a Liga da Justiça. Acha que eles são melhores que Os Vingadores? Eu gosto dos dois grupos e sinto nostalgia por ambos. É como perguntar se você gosta mais dos seus amigos da faculdade ou do colégio (risos). Acho que passei mais tempo com os Vingadores, mas a Liga da Justiça me lembra de bons tempos no passado.

Que herói famoso da Marvel o surpreendeu ao ser bem recebido pelo público? O Homem de Ferro é um caso surpreendente, pois era secundário nos quadrinhos. É difícil imaginar por que ficou tão popular comparado a outros heróis da Marvel, já que é um personagem com muitos defeitos e falhas de caráter – é muito vaidoso e egocêntrico, por exemplo. No entanto, a jornada de Tony Stark no filme é bem interessante. Ele não é virtuoso ou bom como são os heróis que as pessoas estão acostumadas a ver. Wolverine também é assim. Eles são quase anti-heróis. Acho que o público gosta de um pouco de ambiguidade.

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Acha que as pessoas começaram a ler mais HQs por causa dos filmes? Eu penso muito sobre isso, pois sou um fã de histórias em quadrinhos e todo mundo fala sobre como super-heróis estão na moda. Aqui nos Estados Unidos, chamam os filmes de “filmes de quadrinhos”, mas eu os chamo de “filmes de super-heróis”. Traduzir a arte de um quadrinho para o cinema não é algo fácil e comum de ser feito. Infelizmente, muitos assistem aos filmes e acham que já sabem do universo todo e que não é preciso ler as HQs de origem, mas isso não é verdade, existe todo um belo universo por trás dos longas.

O que difere a Marvel da DC Comics? Quando eu era criança, e lia quadrinhos das duas editoras, via como uma das maiores diferenças o fato de tudo fazer mais sentido no universo da Marvel. Os personagens da DC não tinham um pé na realidade. Isso mudou um pouco ao longo do tempo. No cinema, a Marvel passou à frente da DC, ao conseguir lançar o blockbuster Os Vingadores e os filmes solos dos personagens, inclusive Homem de Ferro, também arrasador na bilheteria. A sinergia que a Marvel fez com os seus personagens no cinema, a DC ainda não conseguiu alcançar.

Como foi o processo de pesquisa do livro? Na verdade, essa pesquisa durou minha vida toda. Sou leitor de histórias em quadrinhos desde os 5 anos de idade. Decidi que queria escrever um livro sobre HQs há 10 anos e demorou um pouco até me dedicar de fato. O processo de escrever levou três anos, mas foi divertido. Entrevistei cerca de 150 pessoas envolvidas de algum modo com a Marvel.

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