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Diretor de romance gay com Maria Antonieta defende o amor livre

‘Ter alguém nos braços é uma necessidade humana’, diz Benoît Jacquot. Seu novo filme, ‘Adeus, Minha Rainha’, estreia nesta sexta-feira

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 21 jun 2013, 10h03

Aos 66 anos, o diretor francês Benoît Jacquot acumula no currículo filmes destituídos de troféus e grandes números de bilheteria, mas marcados pelo carimbo dos principais festivais de cinema da Europa e da chancela de críticos especializados. Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1998, por Escola da Carne, Jacquot sustenta a pose blasé de um renomado cineasta europeu, mas, é preciso admitir, começa a flertar com o cinemão comercial. O primeiro passo nesse sentido foi dado com Adeus, Minha Rainha, filme que estreia nesta sexta-feira no Brasil.

O longa, que se passa no período histórico da Queda da Bastilha, joga luz sobre a solitária vida da rainha Maria Antonieta, e sobre o seu relacionamento lésbico com uma duquesa tão frívola e esnobe quanto ela. “Eu a vejo como uma pobre garota rica e mimada, nada mais do que isso”, disse o diretor em entrevista ao site de VEJA. Não que a despreze: para Jacquot, a rainha era “desesperadamente solitária”, alguém que ficou perdida em Versalhes. “Ela fez o que pôde para ter um pouco de amor e romance.”

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A presença de atrizes conhecidas de Hollywood como Léa Seydoux (Missão: Impossível – Protocolo Fantasma e Meia-Noite em Paris) e Diane Kruger (Bastardos Inglórios e Troia), pode aumentar o interesse do público que ainda não conhece a obra do diretor. Seus próximos trabalhos seguem o mesmo caminho. Catherine Deneuve e Marion Cotillard, que embora francesas foram aclamadas nos Estados Unidos, serão as musas de dois longas em gestação.

“É importante para essas garotas que são famosas em Hollywood que saiam desse circuito de vez em quando e façam filmes franceses”, disse o diretor, sem demonstrar entusiasmo genuíno por trabalhar com elas – talvez como um francês de fato faria. “Não há nada de especial em dirigir uma atriz experiente. No entanto, se uma jovem atriz dirigida por mim fizer um trabalho ruim, aí eu levarei a culpa.”

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Confira a entrevista concedida por Benoît Jacquot ao site de VEJA:

Como o lado gay de Maria Antonieta foi recebido pelo público francês? O público francês tem uma visão ambígua de Maria Antonieta. Muitos acham que ela era uma garota superficial e luxuriosa, que se envolvia com homens e mulheres ao seu modo, e outros acham que ela é um mártir, uma heroína, a rainha da tragédia. No entanto, para a maior parte das pessoas da França, ela foi as duas coisas.

Com qual opinião o senhor fica? Acho que Maria Antonieta era desesperadamente solitária, e que precisava sempre de companhia. Para o dia e para a noite. Ter alguém nos braços é uma necessidade humana, seja hétero ou seja gay. E como ela não podia ter o marido nos braços, mantinha amigos, alguns de um jeito mais erótico. Espero que ela tenha se divertido com essas pessoas (risos). Depois de estudar muito a personagem para fazer o filme, eu hoje a vejo como uma pobre garota rica e mimada, nada mais do que isso. E esse tipo de relacionamento que ela tem com outra mulher no filme me faz ter pena dela.

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Por quê? Pois essa mulher, a duquesa Gabrielle de Polignac, era uma aproveitadora de mau caráter. Ela se aproxima da rainha para fazer fortuna. E essa jovem rainha chega em Versalhes com 15 anos, sem saber de nada, talvez nem fale francês, e se casa com Luís XVI, um homem que não tinha interesse nenhum em amor, em mulheres, em nada, só em caçar e consertar relógios. Foram necessários oito anos para que ele a engravidasse. Isso significa que ele não tentava. Então, ela era completamente sozinha no palácio, era a rainha mais poderosa do mundo e não sabia o que fazer com isso. Esse contexto a levou a ser quem ela era. Ela fez o que pôde para ter um pouco de amor e romance.

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Como foi o processo de pesquisa para fazer o roteiro do filme? Li diversos livros históricos, mas minha principal fonte de informação foi a biografia Maria Antonieta Retrato de uma Mulher Comum, do escritor Stefan Zweig. É um livro belo e completo, que abrange toda a sua vida.

O que você achou do filme Maria Antonieta, da diretora Sofia Copolla? Eu gostei muito, porque é sofisticado, esnobe, frenético e insolente, tudo o que pensamos da personalidade da rainha. E ela gostou muito do meu filme. Sofia foi à première de Adeus, Minha Rainha em Nova York e conversamos bastante depois.

A personagem da criada que se apaixona por Maria Antonieta é real? Não, ela não existiu, é completamente fictícia. A rainha tinha realmente alguém que lia para ela, mas não sabemos exatamente quem era. A personagem do filme foi mesmo uma invenção.

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As duas atrizes principais também fazem filmes em Hollywood. Como foi levá-las para a França, que não tem tantos longas comerciais? Na verdade, é importante para essas garotas, que são famosas em Hollywood, sair desse circuito de vez em quando. Elas gostam de estar em Hollywood porque a indústria paga bem e os filmes são distribuídos para um público grande. Mas elas sabem que é importante fazer longas diferentes, especialmente europeus. Meu próximo trabalho será com Marion Cotillard. Ela é uma grande estrela em Hollywood, mas precisa, neste momento, voltar às raízes e fazer cinema francês. Em Hollywood, o objetivo é fazer dinheiro e ser vista. Na Europa, fazemos o filme que queremos fazer sem pensar se vai ou não dar certo comercialmente. Se não der certo, ok, não é importante, isso não desqualifica o trabalho. Muitas obras de arte foram fracassos completos de bilheteria.

Qual a diferença de trabalhar com atores famosos e experientes e com jovens atores? Não existe diferença, mas não há nada de especial em dirigir uma atriz experiente. No entanto, se uma jovem atriz dirigida por mim fizer um trabalho ruim, a culpa será minha e, se a atriz experiente fizer um trabalho ruim, a culpa será dela.

Pode falar um pouco mais sobre o projeto com a Marion Cotillard? Vou fazer dois filmes nos próximos dez meses. O primeiro é uma produção contemporânea de uma história original que escrevi, chamada Trois Coeurs. No elenco, estão Catherine Deneuve, Charlotte Gainsbourg, Léa Seydoux e Benoît Poelvoorde. É sobre um homem que se apaixona por duas irmãs que não sabem que são irmãs. E depois começo as filmagens do longa com Marion Cotillard, que será a adaptação de um livro chamado Diário de uma Camareira, de Octave Mirbeau, adaptado por Luis Buñuel, em 1964, e por Jean Renoir, em 1946. A minha será a terceira adaptação do livro.

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