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A novela ainda é o futuro da TV brasileira, aposta Aguinaldo Silva

Ao renovar o interesse do público das 9, o autor revê a própria trajetória como telenovelista e brinca com os fãs de ‘Império’ ao mandar o Comendador José Alfredo para debaixo da terra

Por Patrícia Villalba
6 dez 2014, 14h58

Em plena semana do Natal, Aguinaldo Silva vai dar a entender que o personagem do momento, José Alfredo de Medeiros, o “comendador” interpretado por Alexandre Nero em Império (Globo, 21h15), foi para debaixo da terra. Mas o homem será visto logo depois, mais vivo do que nunca num garimpo em Minas Gerais. “Ele chega à conclusão de que vive de pedras preciosas mas que, no fim das contas, nunca trabalhou num garimpo – o que era para ter feito lá em 1987. Então, vai ver como é que é”, conta o autor ao site de VEJA, divertindo-se com mais um lance fantástico que ele mesmo inventou para o protagonista. “Essa morte de mentira é uma volta dele ao passado, quando conheceu Sebastião (Reginaldo Faria) e acabou ficando rico.”

O autor vai usar um dos velhos truques do folhetim para movimentar a trama, que voltou a um patamar confortável no Ibope depois da mal-sucedida Em Família. A morte fingida de personagens de novela costuma agradar o público, quem sabe porque todo mundo já se pegou pelo menos uma vez querendo “sumir da face da Terra”. Com Aguinaldo, parece ser o contrário -ele adora aparecer. No dia anterior a esta entrevista, há duas semanas, esquecido de que era um domingo, ele deixou o apartamento na Avenida Atlântica, em Copacabana, e foi espairecer no shopping do bairro, um dos mais movimentados da cidade. “Foi um frisson danado! Todo mundo queria saber sobre o Comendador”, comemora ele, que não se furta a um contato com o público. Quando morava na Barra da Tijuca, por exemplo, gostava de fazer as compras da semana no hipermercado próximo ao condomínio, e ouvir a conversa das moças do caixa – não por acaso, Maria Paula (Marjorie Estiano) trabalhou como uma delas em Duas Caras (2007). “Um ficcionista tem de andar, experimentar. Muito do que escrevo vem das minhas observações e do que eu mesmo vivi. Não há como se fechar e achar que vai escrever uma novela”, observa. “Sobre o que vão falar esses autores do futuro? Sobre a vida no condomínio?”

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Ele parece tirar mesmo de si boa parte de suas tramas, recriando a história do menino educado com sacrifício pelo pai frentista e a mãe dona de casa em Carpina, no interior de Pernambuco. Escritor precoce, que publicou o primeiro livro aos 16 anos (Redenção para Job, 1960), destacou-se nas redações da capital Recife e planejou fazer fama como jornalista em São Paulo. Mas num desvio no meio do caminho, parou no Rio de Janeiro em pleno 1964. Mas para ser de fato um folhetim, talvez sua trajetória precisasse de um lance incrível de sorte a torná-lo milionário, como aconteceu com José Alfredo em Império. Na vida real, Aguinaldo trabalhou, e muito: desde que estreou na Globo, em 1979, como um dos roteiristas do seriado Plantão de Polícia, escreveu 15 novelas, todas no horário nobre – Roque Santeiro (1985), Vale Tudo (1988, em co-autoria com Gilberto Braga), Tieta (1989) e Pedra sobre Pedra (1992), entre outras -, fora as duas produzidas em Portugal sob sua supervisão. Na última década, ainda é dele o primeiro lugar entre as dez maiores audiências das 9: em 2004, Senhora do Destino teve média geral de 50 pontos, na época o maior sucesso da emissora em 18 anos.

Sem meias-palavras, uma de suas marcas registradas nas redes sociais, ele confessa que, mesmo diante dos números que faz questão de divulgar, ressente-se pelo pouco caso que a intelectualidade ainda faz da telenovela. “É, sim, um produto popular. Mas tem muita coisa refinada ali, muita informação relevante sendo transmitida. Não só nas minhas novelas, mas nas de Gilberto Braga, do Silvio de Abreu, do Maneco”, sublinha ele, que assume a vaidade, mas que, aos 71 anos, demonstra não ter ilusões sobre o quanto tudo isso pode ser efêmero. Ao ser questionado sobre como será lembrado daqui 50 anos, é categórico: “Não serei lembrado. Ninguém mais vai estar falando que existiu um tal Aguinaldo Silva, claro que não. Mas quando um estudioso quiser saber como era o Brasil destes últimos 60 anos, com certeza terá de recorrer às telenovelas.”

Na entrevista a seguir, entre objetos de art déco no bairro que é a reserva art déco da cidade, o comendador legítimo – ele recebeu a Ordem do Mérito Cultural em 2012 – fala sobre o passado e o futuro da televisão e do país, além, é claro, do momento presente da sua Império:

Das informações que circulam sobre o que virá a seguir na novela, já se sabe que a morte fingida do Comendador José Alfredo (Alexandre Nero) é certa. É isso mesmo, o senhor vai correr o risco de ficar sem seu melhor personagem? Não. Ele resolve sair de cena porque chega a uma situação em que o Fisco invade a empresa, a Polícia Federal está atrás dele, toda uma situação que de vez em quando acontece com nossos empresários. Ele toma um veneno que simula a morte e é enterrado, mas tem um prazo para sair da tumba. Uma série de impedimentos atrasa a chegada do Josué (Roberto Birindelli) ao cemitério. Quando o Comendador é resgatado, está morto – já terá usado o cilindro de oxigênio deixado no caixão. Josué começa a chorar mas, de repente, o Comendador pergunta “está chorando por quê?”. Ou seja, ele escapa.

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Não ficará sumido de cena, portanto. Não, nenhum capítulo! Ele fica seis meses sumido na novela. Como a Duda (Josie Pessoa) está grávida (e eu detesto mulher grávida em novela, porque atrapalha a trama) farei o seguinte: uma passagem de tempo de seis meses, e a marcação é ela sentindo as dores do parto. Só que nesta passagem, que dura três ou quatro capítulos, o Comendador não some para o público. Ele vai atrás de suas origens em Minas, vai trabalhar como garimpeiro. Isso foi rigorosamente armado para que ele continue na novela mesmo tendo saído.

Há cenas dele enterrado vivo? Sim, terríveis! Ele acorda dentro do caixão. O Josué coloca cápsulas pequenas de oxigênio no caixão e um celular no bolso dele (senão como iriam iluminar a cena, não é mesmo?). Tive muito cuidado para não me estender nesta sequência, porque poderia resultar em algo muito angustiante.

Acontece quando? Deixa eu te contar uma história. No entusiasmo de Vale Tudo, eu, Gilberto Braga e Leonor Bassères matamos Odete Roitman (Beatriz Segall). Na semana antes do Natal, o Dennis Carvalho, que era o diretor, ligou para a gente e disse: “Sabem quando a Odete morre? Na véspera de Natal.” E morreu, não teve jeito. Agora, estou aqui escrevendo e, de repente, me dou conta de que aconteceria o mesmo. Pensei “preciso acelerar”. Há toda uma situação em que um dos filhos quer que ele seja cremado. Cristina (Leandra Leal) vai impedir, pois ela sabe que ele não estará morto. Essa situação teve de ser reduzida, senão a parte dele sepultado iria ao ar na véspera de Natal. Com a aceleração, vai acontecer lá pelo dia 22. No Natal, ele já estará no garimpo.

Percebe-se que o senhor não tem problemas com spoilers. Não. Eu mesmo solto spoilers o tempo todo! Acho que você tem de aguçar a curiosidade do público e contar uma outra passagem tem esse efeito no telespectador de novelas. Não adianta você contar o que vai acontecer, a pessoa quer ver. Então, eu gosto instigar. E quando a cena vai ao ar, tem de ter alguma surpresa.

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Sei que não há fórmula de sucesso em novelas, mas, com a experiência que o senhor tem, imagino que já consiga prever certas reações do público. O José Alfredo engoliu a novela – as pessoas não dizem “vamos ver Império”, mas “vamos ver o Comendador”. Até que ponto ele foi criado para agradar? Na semana da novela, um dicionário on-line publicou que a palavra mais comentada da semana foi “comendador”. Até então, muita gente nem sabia o que é comendador. Ele foi rigorosamente pensado para isso: eu queria um personagem maior que a vida, mas, ao mesmo tempo, que fosse muito humano – porque ele tem qualidades e defeitos -,muito verdadeiro. Foi tudo pensado para isso, mas ele não seria o que é se eu não tivesse o ator certo. E a minha intuição disse que o ator seria o Nero. Tive, inclusive, que brigar muito por ele. O Nero era considerado bom ator, mas não uma estrela. Houve um longo período de perplexidade até que me disseram “tem certeza de que quer que seja ele?” e eu respondi “sim, quero”. Fiquei com medo, pensando “e se não der certo?”. A culpa seria minha. E contei com a maravilha que é o Chay Suede para fazê-lo jovem. Ou seja, tem novelas que você percebe já nas gravações que vão dar certo. Essa é uma delas.

O Chay não era conhecido na Globo, mas tem uma legião de fãs nas redes sociais, assim como outros atores de Império, como Josi Pessoa (Duda), Marina Ruy Barbosa (Ísis) e Klebber Toledo (Léo). Essa capaciddade de mobilização já está contando na escalação dos atores? Sim, porque a escalação é algo muito delicado em novela. Nós temos grandes atores veteranos, e você pensa que seria bom contar com fulano ou ciclana, mas a gente sabe que esse universo de telespectadores mudou muito. Os jovens não veem mais a novela com aquela fidelidade toda das gerações anteriores. Eu vejo a novela de olho no real time [que informa a medição de audiência do Ibope]. No momento em que a Cora (Drica Moraes) beijou o Comendador, uma surpresa, o Ibope subiu quatro pontos. Como as pessoas sabem da cena e mudam de canal? É um mistério. Acho que uma parte do público fica pulando de canal, e quer ver os grandes momentos da novela e os atores que eles adoram.

Não deve ser fácil alimentar isso. Não mesmo. Alguém escreveu que ninguém aguenta as cenas de brigas na casa do Comendador. Mas isso é o que as pessoas querem! Desde o começo, por exemplo, cobravam: “Cora está muito boazinha, precisa matar alguém.” Ela não era uma assassina, foi feita para ser uma manipuladora, uma vilã muito mais sutil. Mas houve um momento em que cheguei à conclusão de que ela deveria matar, já que é o que o público quer.

E quando ela matou Fernando (Eron Cordeiro), o senhor fez uma referência à Nazaré de Senhora do Destino, de 2004, que se livrava dos desafetos jogando-os escada abaixo. Muita gente disse que estava copiando a si mesmo. Ficou chateado? Sim, esse tipo de coisa me dá uma tristeza… A referência é parte importante da literatura, do cinema e de todas as artes. E por que não pode na novela? Por que tem de ser criticado? Agora, vou ser um pouco arrogante: a novela é, disparado, o fenômeno cultural mais importante deste país. A gente sabe que não há nada que mobilize o país como a novela das 9. Você pode brigar com a novela de vez em quando, mas tem de ter consciência de que aquilo é bom simplesmente porque mobiliza um país inteiro. Isso tem importância, e muitas vezes ela é tratada como o comediante da esquina que finge saber cantar.

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Outro ponto de Império que não me parece muito bem compreendido é que ela tem uma estrutura monárquica, funciona como um reino. De onde veio essa ideia? Isso é outra coisa que me deixa tão triste… Pouca gente percebeu! Se você for ver, todos os filmes que se passam na Inglaterra dos séculos 16 e 17 são assim. É Tudors, é Henrique VIII. Na verdade, existe uma peça de teatro inglesa escrita nos anos 60 pela qual sou apaixonado e sempre quis fazer algo parecido: O Leão no Inverno, de James Goldman. Ela se passa na Inglaterra, na Idade Média, e é uma briga danada na família do rei, que não quer largar o poder de jeito nenhum. Império é isso. As relações entre o imperador, a imperatriz e os possíveis herdeiros é medieval, de autoritarismo, do sangue, da bastarda que aparece e estraga tudo. Entendeu?

E Santa Teresa é a vila. Exatamente, são os arredores do castelo. Mas as pessoas não percebem ou não querem perceber que há uma elaboração ali. A gente consegue fazer um produto totalmente popular e ao mesmo tempo muito elaborado – não só eu, as novelas das 9 em geral. O que me entristece nos críticos, o erro fundamental, é que eles acham que a novela tem de ser escrita para eles. Quando não é. Ela tem de ser escrita para 40 milhões de pessoas. Isso impõe limites ao que você pode escrever e, ao mesmo tempo, não se pode querer agradar meia dúzia de pessoas. O objetivo é ter audiência, não é outra coisa.

O blogueiro fofoqueiro Téo Pereira (Paulo Betti) vem apenas da sua observação da imprensa ou é uma vingança aos jornalistas que o incomodam? Não, não é uma vingança. Eu queria um personagem que pudesse falar por mim, do que eu penso de um certo tipo de jornalismo, esse que a gente sabe como é leviano, dos blogs de fofoca, do vale tudo. Por isso criei o Téo. E por que fiz o Téo tão pintoso? Porque isso o transforma num estereótipo, que é o que eu queria. O Cláudio (José Mayer) é outra coisa, é uma pessoa. O Téo é um boneco de desenho animado e, como tal, ele pode falar as coisas mais pavorosas. Se ele fosse sério, as pessoas iam se escandalizar.

Nos últimos dias, tem chamado a atenção na novela o líder sem-teto inescrupuloso que se aproveita dos militantes do seu movimento popular, Cardoso (Ravel Cabral). É um personagem de certa forma surpreendente para um autor que chegou a ser preso político como o senhor. É impressão ou o senhor se desencantou com a esquerda? Sim. Eu quis tocar nesse assunto porque a gente sabe que não há caminho mais fácil para ganhar dinheiro neste país do que criar uma ONG. Mas, primeiro, nunca fui bem-visto pela esquerda naquela época. A esquerda era o Partidão, que predominava nas redações, até porque tinha pessoas talentosíssimas e o doutor Roberto Marinho fazia muito bem em dar emprego para eles. E eu era uma figura maldita, muito novo para estar na redação – tinha 20 anos quando cheguei ao Rio. Era pintoso, meio despudorado e a esquerda sempre achou isso suspeito – nunca me deram muita bola. Depois, fui vendo que havia muita hipocrisia. Um cara, por exemplo, era do Partidão e tinha mais de um emprego público, em plena ditadura. Depois, fui me desencantando de vez com a esquerda no Brasil. A esquerda satanizou demais a direita. Em todo país civilizado existe esquerda. E a direita não é o diabo, assim como a esquerda também não é. Aqui, não. Veja que eleição após eleição, todos os candidatos dizem que são de esquerda! Comecei a achar que esse jogo é meio esquisito. Percebi que o mundo é ambíguo, as pessoas são assim. Então, a esquerda também tem as suas figuras execráveis. Passei a pensar assim. E, depois, veio essa ascensão desastrosa do PT. Nunca fui petista, mas sempre achei que o PT era uma referência de ética e moralidade. E quando os caras assumiram o poder, foram com uma sede ao pote como nunca antes neste país! Aí, me decepcionei de vez.

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O senhor vê a novela todos os dias? Sim, e na hora. Tenho essa superstição: acho que ver na hora a novela te passa uma energia, porque todo mundo está vendo ao mesmo tempo. Trago isso da época de Roque Santeiro. Em 1985, eu morava em São Conrado e na época a Globo tinha a vinheta do plim-plim. Quando chegava no intervalo, eu ouvia nitidamente o plim-plim saindo de todas as casas em volta, ecoando pela ladeira – todo mundo está vendo, eu pensava. É incrível. Quando estou em Portugal, vejo pelo site da Globo, mas é muito sem graça – eles que me desculpem.

Seu perfil no Twitter é um balcão de reclamações e pedidos dos telespectadores. Na hora da novela está atento a tudo isso também? Não, somente nos intervalos. O real time, eu deixo ao lado e olho de vez em quando. Mas quando entra nos intervalos, eu corro para o Twitter e vejo o que estão escrevendo. As pessoas não querem, por exemplo, que eu separe a Ísis e o Comendador. Mas se eles ficarem naquela coisa de “sweet child” a novela toda vai ficar muito chato! Precisa da separação para depois juntar, mas o público não entende que é esse o mecanismo. Daí, ameaçam que não vão mais ver a novela, é engraçado. Imagine, serão 202 capítulos. Se eles gostam do personagem, querem que tudo seja bom para ele. Aí, você não tem novela.

Por que o senhor parece muito mais áspero na internet do que é pessoalmente? Porque sou tímido! Então, na internet eu mais atrevido – porque não sou eu, é outra pessoa, mais ou menos como acontece com todo mundo. Mas de uns tempos para cá estou tentando me controlar, ser menos ríspido. Porque a palavra escrita é terrível, é muito forte. Tanto que quando quero resolver algum assunto grave, escrevo cartas.

O senhor ainda vê a telenovela como grande força no futuro próximo da TV? Sim. Entre outras coisas, porque a televisão não tem condições de viver sem ela. A novela é o único produto que realmente se paga, porque fica muito tempo no ar. Vamos dizer que amanhã, como fizeram com o jogo no Brasil, a Dilma proíbisse as novelas, de uma hora para outra. Como que a Globo faria para preencher o espaço de quatro programas? Não há saída: a novela ainda vai sobreviver por muito tempo, mesmo que com audiências menores. Mas será sempre o produto mais visto, porque induz o público a continuar vendo. É a mágica do folhetim. O que entraria no lugar? Um programa sobre as borboletas de Bali?

Em 2004, quando escreveu Senhora do Destino, o senhor abandonou o realismo mágico que o consagrou em tramas como Tieta (1989), Pedra sobre Pedra (1992) e A Indomada (1997). Se vê agora num novo ciclo? Nessa novela eu resgatei o que eu acho que é a minha essência como novelista, que é uma certa estranheza. Não é mais o realismo mágico, que é datado, mas tem um clima diferente. A Santa Teresa da novela funciona como uma cidadezinha de interior. O lobisomem, por exemplo, está lá – mas ele ataca mulheres para tentar roubar bolsas (Jairo/ Julio Machado). Ou seja, Império ilude: dá a impressão de que é uma novela urbana contemporânea mas, como você falou, ela é medieval.

O senhor só escreveu novelas das nove e não me parece que tenha tido algum fracasso retumbante. Já passou algum momento ruim como novelista? É verdade, não tive fracassos. Mas em, 2001, com Porto dos Milagres, passei por uma depressão. Por não gostar do que estava fazendo, sabe? Senti que estava me repetindo muito, que era tudo igual. Fiquei uns três anos sem fazer novela, e quando me pressionaram para voltar, fiz Senhora do Destino e me reinventei. Foi uma fase que eu comecei a ver muitos seriados americanos e me ajudou muito. Aprendi com Os Sopranos (HBO, 1999-2007) e todos esses seriados fantásticos. De qualquer maneira, é muito difícil fazer algo novo aos 70 anos, e as pessoas ficam querendo que você apareça com algo absolutamente novo. Mas aos 70 anos o próprio mundo não tem novidade nenhuma. Então, é muito difícil você ter um frescor de adolescente. Ao mesmo tempo, a idade te deixa mais assim “ah, dane-se”. Você tem que tomar cuidado, senão se repete. E eu sou muito voraz com relação à audiência.

É uma vaidade? Não é a vaidade pelos pontos no Ibope, mas é que é muito bom saber que você é querido. É a repercussão. Ontem (23) eu fui ao shopping e não me dei conta que era domingo e estava chovendo – aquilo estava lotado. Pela minha presença na internet, as pessoas acabaram me conhecendo fisicamente, com esse cabelo branco e tal. O pessoal enlouqueceu, eu parecia um pop star! Fui descendo a escada rolante e as pessoas todas apontando “olha o Aguinaldo Silva!”. Fiquei tão assustado que peguei o táxi de volta. A satisfação de me sentir querido é o que me empurra a tentar fazer uma coisa nova – mesmo que eu não consiga.

De uns tempos para cá, o senhor resolveu se aventurar em outras funções além de novelista: tornou-se dono de pousada, dois restaurantes e até uma grife de sapatos. Por quê? Porque eu queria me testar em outras coisas. Vim de interior de Pernambuco, fui jornalista por 18 anos, virei autor de TV e depois novelista, o que sou até hoje. Me perguntei se seria capaz de fazer outras coisas. Agora, estou fazendo uma casa de cultura, num imóvel tombado que comprei em Petrópolis. Terá também um restaurante de comida portuguesa, que vai se chamar Comendador Silva. Depois, vou fazer uma pousada, porque o empreendimento precisa se pagar. Até porque eu não quero nenhuma ajuda oficial – qualquer ajuda oficial no Brasil nesse momento é viciosa. Então, setentinta, estou aqui às voltas com a novela e com mais essa aventura. Acho que é uma maneira de você dizer “não posso morrer, ainda tenho muita coisa para fazer!”.

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