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“Liderança é a alavanca que impulsiona melhorias”

Irma Zardoya, presidente de organização americana que treina professores para serem diretores, explica a importância dos bons líderes

Por Lecticia Maggi
28 Maio 2012, 07h39

Uma pesquisa da Fundação Victor Civita de 2011 revelou que 42% dos diretores de escolas públicas brasileiras são escolhidos por influência política. É uma pena. Em Nova York, o trabalho da organização Leadership Academy (Academia de Liderança) aponta que os maiores avanços no desempenho escolar dos alunos são obtidos com diretores muito bem treinados para a função, profissionais que, além de bons gestores, conhecem o conteúdo programático de suas unidades de ensino. Criada em 2003, a instituição ajudou a formar um em cada seis diretores de escolas públicas da cidade americana, que estão concentrados principalmente em áreas de maior vulnerabilidade, como o Bronx. “Liderança é a alavanca que impulsiona a mudança em uma escola. O diretor define a melhoria e alinha tempo, dinheiro e recursos”, afirma Irma Zardoya, presidente da Academia. Irma, que participa de um ciclo de debates no Brasil, nesta segunda-feira, promovido pela Fundação Itaú Social, concedeu a seguinte entrevista ao site de VEJA:

Qual o contexto que permitiu a criação da Academia de Liderança? Há nove anos, Michael Bloomberg, prefeito de Nova York, e Joel Klein, chefe do Departamento de Educação da cidade, perceberam que havia a necessidade de líderes escolares apaixonados, dedicados e inovadores. Além disso, muitos diretores estavam para se aposentar e não havia líderes disponíveis para essas escolas. Foi quando a comunidade empresarial e as principais organizações filantrópicas se uniram e contribuíram para o desenvolvimento da Academia de Liderança de Nova York, com um investimento de 84 milhões de dólares.

Irma Zardoya, presidente da Leadership Academy
Irma Zardoya, presidente da Leadership Academy (VEJA)

Como se mantêm? Somos uma organização sem fins lucrativos que presta serviço aos sistemas de ensino e recebe por isso. Também recebemos dinheiro de algumas fundações e do governo.

Como é a seleção dos possíveis diretores? O que procuram? Qualquer pessoa que queira fazer parte do nosso processo seletivo precisa ter, no mínimo, três anos de experiência com ensino. É o que estado exige. Há uma rigorosa ficha de seleção a ser preenchida. Os aprovados são convocados para uma dinâmica em grupo, na qual são colocados de frente a um problema e questionados – como grupo – sobre como lidar com ele. Precisamos ter certeza de que o candidato sabe escrever e se expressar bem, é um eficaz solucionador de problemas e tem habilidade para lidar com as pessoas. Depois, os melhores são convidados para uma entrevista individual, em que devem apresentar trabalhos acadêmicos, e são questionados sobre questões pedagógicas. Temos um guia que orienta os nossos processos seletivos e aponta o que precisamos considerar nos candidatos. Os principais pontos são: comportamento pessoal, responsabilidade, resiliência, liderança, capacidade de se comunicar, de resolver problemas e de supervisionar os funcionários; cultura, gestão de tempo e tecnologia.

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Como é o treinamento dado pela academia? Oferecemos um programa de 18 meses, dividido em três fases. A primeira expõe os participantes a rigorosas simulações do que é ser um diretor; a segunda é uma fase de residência em que ele fica em uma escola por 10 meses e convive duas vezes por semana com um diretor para aprofundar seu conhecimento em campo. Por fim, a terceira etapa é customizada para atender às necessidades da escola e do profissional para efetuar a transição de poder.

Como uma boa liderança pode mudar a realidade de uma escola? A liderança é a alavanca que impulsiona a mudança em uma escola. O diretor define a melhoria e alinha tempo, dinheiro e recursos para que seu objetivo seja atingido. Um estudo do Instituto de Política Educacional e Social, da Universidade de Nova York, mostra que os formados pela academia estão atuando em escolas que têm mais desafios e ainda assim conseguiram que os alunos tivessem um aprendizado mais acelerado em língua inglesa e matemática. Os diretores têm a oportunidade de implementar sistemas de ensino com foco no aprendizado dos alunos, o que inclui: selecionar professores altamente qualificados, desenvolver programas curriculares de ensino e avaliação que se alinhem com as necessidades do estudante, e dar suporte para as relações de colaboração entre os funcionários e entre eles e os alunos.

Como os diretores devem colaborar com os professores? O diretor deve guiar o professor na tomada de decisões curriculares e de ensino. É fundamental que dê aos profissionais a possiblidade de trabalharem juntos para resolverem os problemas de aprendizagem dos alunos. Os professores devem avaliar juntos o que e como estão ensinando, visitar uns aos outros nas salas de aula e trocar informações. Um diretor eficaz é aquele que fornece ‘feedback’ aos professores e os orienta sobre o seu trabalho e a melhor forma de melhorá-lo. É muito importante para o líder gerir a escola bem e configurar os sistemas e estruturas que permitirão que ela seja um lugar seguro e bem organizado, propício à aprendizagem.

É possível criar um bom líder ou algumas pessoas simplesmente não têm as características necessárias? Nós, enquanto reconhecemos que algumas habilidades podem ser desenvolvidas, também procuramos características específicas nos candidatos. São elas: integridade profissional, compromisso de diminuir as lacunas de aprendizado e trabalhar com estudantes de áreas mais vulneráveis, conhecimento pedagógico, resiliência (capacidade para se recuperar de derrotas e seguir em frente) e postura aberta ao aprendizado. Já as habilidades que podem ser aprimoradas na academia são: supervisão pedagógica, comunicação, resolução de problemas, análise de dados e planejamento estratégico.

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Você acredita que é possível implantar um sistema similar ao da cidade de Nova York em outros países, como o Brasil? Os sistemas de ensino devem primeiro reconhecer a importância da liderança, enxergá-la como uma forte alavanca para impulsionar e melhorar o aprendizado dos estudantes. Depois, devem identificar, treinar e dar suporte a estes líderes para que tenham condições de melhorar as escolas em que atuam. Cada sistema de ensino é único e deve identificar seus próprios padrões de liderança. Com isso, serão capazes de enfrentar o contexto e as necessidades locais.

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