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Concentração é a tendência entre universidades privadas. E isso pode ser bom

Megacompras como a da Uniban pela Anhanguera devem se intensificar. Para especialistas em educação, nível das instituições pode melhorar

Por Nathalia Goulart
24 set 2011, 12h18

A Anhanguera Educacional anunciou no início desta semana a aquisição da Universidade Bandeirante (Uniban) por 510 milhões de reais. É um episódio em que gigante engole gigante. O movimento no segmento de ensino superior privado do Brasil deve se manter nos próximos anos, acreditam analistas, a tal ponto que, em 2016, segundo a consultoria Hoper Educacional, apenas 12 grupos deverão abocanhar metade do mercado hoje estimado em 28 bilhões de reais ao ano – atualmente, 16 empresas respondem por 30%. Mais importante é que, segundo especialistas em educação, a tendência pode provocar o aprimoramento dessas instituições. Em outras palavras, a qualidade do ensino que elas oferecem pode melhorar.

Compras vultosas não são uma novidade no segmento. Desde 2007, quando importantes grupos abriram capital na bolsa de valores, aquisições vêm se somando: foram 162 operações. Nesse período, a Anhanguera multiplicou por quatro seu número de estudantes, chegando a mais de 400.000. A tendência para o futuro próximo é de concentração, apostam os analistas. “A Anhanguera já manifestou interesse em atingir a marca de 1 milhão de estudantes. Esse é um dos sinais de que o mercado deve continuar aquecido”, diz Marcos Boscolo, sócio da consultoria KPMG. A Hoper estima que mais de 150 fusões ou aquisições deverão ocorrer até 2013. “A tendência é que haja negociações entre os grandes grupos”, afirma Ryon Braga, da Hoper. “Antes, as empresas de pequeno e médio portes eram alvo dos grandes grupos. Agora, as grandes miram as grandes.”

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O Brasil conta atualmente com 2.069 instituições de ensino superior privado, que abrigam 74% do alunato do país. O ponto de mudança nesse setor foi o ano de 1996, quando foi sancionada a lei que permitia a abertura de universidades com fins lucrativos. Até então, elas se restringiam à filantropia, como é o caso Pontifícia Universidade Católica (PUC). Seguiu-se, então, a criação dos grandes grupos, como as Faculdades Pitágoras, do grupo Kroton, quinto maior do país. Essas instituições passaram a atender uma demanda até então reprimida por cursos de nível superior, já que nem de longe as universidades públicas cuidavam dessa necessidade. O setor privado respondeu: entre 2002 e 2009, ele ampliou sua oferta de vagas em 55%, ante um crescimento público de 17%. Continue a ler a reportagem

Crescimento acelerado: Avanço das universidades privadas é maior do que das públicas
Crescimento acelerado: Avanço das universidades privadas é maior do que das públicas (VEJA)
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Dez anos depois de sancionada a lei que permitiu o crescimento do setor privado no ensino superior, as empresas da educação se aventuraram em uma nova seara: a bolsa de valores. Em 2007, quatro delas realizaram sua IPO, sigla em inglês para oferta inicial pública de ações, captando cerca de 450 milhões de reais. O ingresso na bolsa foi o marco da aceleração das operações de compra e venda. “Com o lançamento das ações, grupos como a Anhanguera conseguiram financiar a expansão e a multiplicação do alunato”, diz Marcos Boscolo, da KPMG.

No ano seguinte à captação, a Anhanguera realizou 30 compras. Desde dezembro de 2010, foram mais nove. “O mercado está amplamente favorável àqueles que tiverem dispostos a investir. No próximo ano devemos voltar ao mercado”, diz Antônio Costa, vice-presidente do grupo.

Outro fator favorece o aquecimento do setor: o interesse estrangeiro no mercado brasileiro. “Qualquer grupo internacional que deseja crescer olha para o Brasil”, diz Braga, da Hoper. Alguns motivos explicam tal interesse. O Brasil ainda registra uma taxa muito baixa de estudantes no ensino superior. Ou seja, ainda existe uma parcela grande de brasileiros sedenta por chegar à universidade. Do outro lado, a classe média não para de crescer – ela já representa 50% da população. Com mais dinheiro no bolso, o sonho do ensino superior entrou de vez na cesta de consumo.

Maior grupo de educação do planeta, o americano Apollo já ofereceu, em 2008, 2,5 bilhões de reais pela Universidade Paulista (Unip), do empresário João Carlos Di Genio. A oferta foi recusada. Mas os especialistas apostam que os americanos aportam em breve por aqui. Em 2005, outro grupo dos Estados Unidos, o Laureate, assumiu o controle da Universidade Anhembi-Morumbi. Continue a ler a reportagem

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Os gigantes privados do ensino superior
Os gigantes privados do ensino superior (VEJA)

Os meganegócios também podem ser bons para os estudantes e, portanto, para a educação brasileira. Segundo especialistas da área, a expansão dos grupos pode dar a escala necessária ao aprimoramento, reduzindo custos e possibilitando investimentos. “Se a empresa possui muitas unidades, o gasto de operação passa a ser reduzido”, explica Jacques Schwartzman, economista, especialista em educação e diretor do Centro de Estudos Sobre Educação Superior e Políticas Públicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na prática, isso significa comprar equipamentos e materiais pela metade do preço; o custo de elaboração de material didático, parte onerosa do negócio, também cai drasticamente. Aí está a chance de melhorar infraestrutura e investir na capacitação dos professores. “Pode haver, inclusive, reducação no preço das mensalidades”, diz Schwartzman. De fato. Desde 1996, o valor médio das mensalidades das instituições privadas despencou 44%, passando de 900 reais para os atuais 500 reais.

Helena Sampaio, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em ensino superior privado, concorda que a concentração pode ser benéfica à educação. “Trabalhar em escala permite aos gestores promover melhorias. Isso não garante, no entanto, que essas melhorias sejam implementadas. A fiscalização pelo governo nesse setor ainda se faz necessária.”

Atualmente, o Ministério da Educação dispõe de um sistema de conceitos para avaliar as faculdades, universidades e centros universitários. A partir do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e de visitas aos campi, o MEC atribui notas às instituições, que vão de 1 a 5, sendo que os conceitos 1 e 2 são considerados insuficientes (consulte aqui a pontuação das universidades avaliadas). Não raro, unidades de instituições privadas como a própria Anhanguera obtêm avaliações ruins. É hora, portanto, de aproveitar o bom momento dos negócios para aprimorar o ensino.

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