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Setor de educação atrai grandes negócios

Mercado se aquece com o impacto dos exames de qualificação, a demanda da classe C e o avanço dos sistemas de ensino nas escolas públicas

Por Nathalia Goulart
17 ago 2010, 17h58

Novas e milionárias operações no mercado de sistemas de ensino podem acontecer no futuro próximo, aposta FGV

O setor da educação no Brasil assistiu a quatro grandes operações de aquisição em menos de dois meses. Em 12 de julho, a Abril Educação comprou o Anglo, um dos mais tradicionais grupos de educação do país. Um mês depois, o fundo de private equity (de investimentos em outras empresas) BR Investimentos adquiriu parte da Abril Educação por 226,2 milhões de reais. No último dia 22, foi a vez da britânica Pearson assumir o controle do Sistema Educacional Brasileiro (SEB), dono do COC, Pueri Domus e Dom Bosco. Na semana passada, a empresa de participações Buffalo Investimentos anunciou a aquisição da operação de apostilas e treinamento de professores do Universitário.

Longe de configurar simples coincidência, a proximidade das operações reflete o aquecimento do mercado de sistemas de ensino no país – métodos desenvolvidos por empresas de educação e distribuídos a escolas privadas, em sua maioria, e também instituições públicas. Alguns dos protagonistas desse mercado – em ordem, Positivo, Abril Educação/Anglo, Pearson/SEB e Objetivo – não informam faturamento e suas respectivas fatias de mercado, o que dificulta precisar o tamanho do bolo. Mas uma coisa é certa: trata-se de um negócio, de fato, bilionário. A Hoper Consultoria, especializada em educação, estima que a receita do setor gira em torno de 1 bilhão de reais.

“O mercado de fornecimento de material didático e métodos de ensino é promissor”, resume o economista André Portela, da Fundação Getúlio Vargas. Há ao menos três importantes fatores a impulsionar o setor. O primeiro é a crescente importância das avaliações a que estudantes e escolas têm sido sujeitos – campo em que se destaca o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Desde que a nota dos estudantes na prova passou a ser considerada como componente da média do vestibular de universidades federais, pais, alunos e escolas passaram a mirar o exame – e a se preparar para ele.

“Existe uma tendência de buscar uma educação de melhor qualidade, e os exames comprovam que as escolas que adotam sistemas de ensino consagrados obtêm melhor desempenho”, afirma Manoel Amorim, presidente da Abril Educação. Com a aquisição do Anglo, a companhia espera faturar 500 milhões de reais em 2010, o que inclui receitas provenientes dos sistemas de ensino SER e Anglo e também dos demais negócios, como as editoras de livros didáticos Ática e Scipione. Até janeiro, a empresa pertencia ao Grupo Abril – do qual faz parte a Editora Abril, que publica VEJA -, passando então ao controle exclusivo da família Civita.

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A classe C quer educação de qualidade – Outros fatores que impulsionam os sistemas de ensino são a própria evolução na economia e as mudanças da sociedade brasileira. Nos últimos cinco anos, a classe média cresceu. E muito. Em números da Cetelem, empresa financeira do grupo francês BNP Paribas, o avanço foi de 50%. Ou seja, o grupo social ganhou um contingente estimado em 26,1 milhões de pessoas.

Com mais dinheiro em mãos, esses brasileiros querem (e agora podem) consumir mais. Isso inclui obter educação de melhor qualidade – o que, no Brasil, é quase sinônimo de escola privada. As famílias, aliás, já percebem que a qualificação constitui fator determinante para a melhoria de vida. Dados da Tendência Consultoria apontam que pessoas que completam o ensino fundamental recebem salários cerca de 13% superiores aos pagos a quem não chega ao fim desse ciclo. Para quem vai mais adiante, a notícia é ainda melhor: quem se forma no ensino médio ganha, em média, 43% a mais do que quem termina apenas o fundamental. Se concluir a faculdade, o acréscimo sobre os vencimentos de quem chegou ao nível médio chega a 100%.

Os números confirmam a tese de que o brasileiro quer aprender. Ao não perceber qualidade no ensino público, muitos, quando podem, preferem pagar para ter acesso a isso. Somente no estado de São Paulo, entre 2006 e 2008, o número de alunos da rede privada cresceu 21%, de acordo com dados da Federação Nacional de Escolas Particulares (Fenep). A penetração dos sistemas de ensino nas escolas particulares é de 35%: e deve subir para 42% nos próximos anos, segundo a Hoper.

No entanto, sistema de ensino não é mais sinônimo de escola privada. Eis a terceira razão, não menos importante, do aquecimento do mercado. As instituições públicas já podem optar pelo uso desse material. “Desde 2004, os municípios recebem o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Com essa verba, podem comprar, se quiserem, material didático dos sistemas de ensino”, explica Ryon Braga, da Hoper Consultoria. “A vantagem, para elas, é que o material didático vem acompanhado de assessoria pedagógica, por exemplo”. A presença dos sistemas de ensino entre as escolas públicas ainda é pequena: apenas 3% das 130 mil instituições municipais utilizam os métodos. Ou seja: ainda há muito a crescer.

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Novos negócios à frente – Novas e milionárias operações no mercado de sistemas de ensino podem acontecer no futuro próximo, aposta Portela, da FGV. Contudo, de agora em diante, poderão envolver personagens menores da área, caso de Pitágoras, Expoente, Uno e Etapa. “Mas, certamente, veremos mais fusões e aquisições”, pontua.

João Carlos Di Gênio, dono do Objetivo, concorda. Mas garante que não vende o seu negócio. “As recentes aquisições são um reconhecimento da qualidade dos sistemas ante os velhos métodos de ensino”, afirma. “Quem quiser crescer deverá se unir às empresas que desenvolvem esses sistemas”. Foi essa conclusão que levou a Pearson a desembolsar 888 milhões de reais para comprar o SEB – a cifra inclui método de ensino, mas também gráfica, operações logísticas e produtos na internet. “Com o anúncio da compra do Anglo, percebemos que precisávamos buscar novos parceiros estratégicos”, afirma Chaim Zaher, da SEB. “O caminho natural foi buscar a Pearson”.

Com reportagem de Paula Reverbel

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