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Risco de contágio coloca em xeque atuação do BCE

Países até então imunes, como Áustria, Holanda e Finlandia, começam a ter seus títulos afetados no mercado

Por Ana Clara Costa e Beatriz Ferrari
16 nov 2011, 20h25

A crise da dívida europeia já começa a respingar em campos antes considerados imunes. A taxa de retorno sobre os títulos da dívida de países como Áustria, Holanda, Finlândia e até mesmo a França disparou nos últimos dias. O prêmio de risco dos títulos franceses com vencimento em 10 anos passou de 2,5% em setembro para 3,68% nesta quarta-feira. Os números não são alarmantes, se comparados aos da Itália – cujo prêmio pago aos compradores dos títulos de 10 anos ultrapassa 7%. Contudo, a situação revela que o mercado não está disposto a confiar nem mesmo naqueles que são considerados “confiáveis”.

A pressão sobre os títulos significa que os investidores estão desconfiados e exigem um prêmio muito maior para comprar os papéis dos países europeus. Dependendo do aumento das taxas de retorno, algumas economias poderão ter dificuldades em captar e rolar suas dívidas no futuro, o que complica ainda mais o quadro de endividamento. Com esse movimento de desconfiança em cadeia, o mercado quer passar uma mensagem clara de que as taxas só deixarão de subir quando o Banco Central Europeu (BCE) resolver intervir e garantir as emissões feitas pelos países da zona do euro que estão em dificuldades. “O mercado está exigindo uma atuação mais eficaz do BCE. Ele precisa acreditar que o BCE vai impedir a piora da crise”, afirma Bob Baur, economista-chefe da Principal Global Investors, gestora de recursos sediada em Nova York.

No entanto, o BCE não prometeu, até o momento, que tomará qualquer atitude de proteção aos títulos europeus. O que a autoridade monetária fez foi comprar, na última semana, cerca de 5 bilhões de euros em emissões italianas – um volume pequeno se comparado à dívida total do país, que é de 120% do Produto Interno Bruto (PIB). “O único jeito de sair desse círculo vicioso é o BCE fazer o que o banco central americano fez nos Estados Unidos: virar credor de última instância”, afirma o economista Robert Wood, da Economist Intelligence Unit (EIU). Ser credor, nesse caso, significa comprar uma ampla parcela (ou a totalidade) dos títulos da dívida dos países em crise.

Se, por um lado, o mercado pressiona o banco para que ele se torne credor quase que universal da dívida europeia, por outro, o BCE pressiona os países endividados a aplicar reformas internas para conseguir honrar o compromisso de suas dívidas. “O BCE mostra que não vai intervir comprando títulos enquanto os países não começarem as reformas. É a forma que o banco encontrou de pressionar as economias periféricas”, afirma Baur, da Pincipal Global Investors. E, neste ponto, está o grande impasse. O mercado não acredita que os países consigam aplicar as reformas se não tiverem sua captação externa garantida pelo BCE. “O BCE hoje compra títulos de maneira muito limitada, e não a um nível que daria folga para esses países introduzirem reformas eficazes”, afirma Wood, da EIU.

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Uma das principais discussões na Europa é justamente se o BCE deve ampliar seu leque de atuação para além do mero controle da inflação. Alemanha e França são contra. A versão oficial é que a autoridade já está quase ultrapassando seu limite de compra de títulos estabelecido pelas leis que regem a União Europeia. “Da forma como enxergamos os acordos na União Europeia, o BCE não pode resolver os atuais problemas”, afirmou a chanceler alemã Angela Merkel. O mercado terá uma noção maior da disposição do BCE em comprar títulos a partir desta quinta-feira, quando França e Espanha realizarem as emissões previstas, de 8,2 bilhões de euros e 4 bilhões de euros, respectativamente.

Os Estados Unidos e a Inglaterra tomaram para si os anseios do mercado e vêm falando abertamente sobre a necessidade de uma atuação mais próxima da autoridade monetária europeia. Segundo o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, a Europa não está fazendo o suficiente para superar a crise. “Há muitas formas de o BCE atuar de maneira mais eficaz, apoiando mais a economia europeia”, afirmou Geithner ao Wall Street Journal. Segundo ele, é preciso que haja uma atuação em conjunto da autoridade monetária e dos governos dos países. Já na Inglaterra, a descrença em relação ao BCE é tão grande que o Tesouro inglês já está até mesmo traçando um plano de contingência para caso o euro não suporte a pressão da crise e comece a ruir.

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