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Revolução energética nos EUA pode atrapalhar o ‘milagre’ do pré-sal brasileiro

Complexidade e custo de produção deixariam o preço do barril competitivo apenas em um cenário de petróleo valorizado. No entanto, perspectiva é de demanda reduzida e aumento na produção norte-americana

Por Luís Bulcão, do Rio de Janeiro
18 set 2012, 12h13

Em 2005, 60% do petróleo dos Estados Unidos vinha de importações. O percentual caiu para 49% em 2010 e as estimativas da EIA para 2035 variam de 14% a 36%. O fenômeno é tratado pelos especialistas como a auto-suficiência da América do Norte

Descobertas em 2007, as reservas de petróleo na camada do pré-sal, tidas como o milagre necessário para lançar o Brasil rumo ao desenvolvimento, ou como “uma dádiva de Deus”, como afirmou o então presidente Lula à época, ainda não estão sendo aproveitadas. Com os leilões para a exploração dos novos campos completamente interrompidos até que o Congresso entre em acordo sobre os royalties a serem aplicados no novo regime de partilha, o pré-sal é realidade apenas nos campos da Petrobras já em operação. A demora nas definições é um complicador a mais para uma exploração complexa, em uma área extremamente distante e profunda do oceano.

A lentidão também dificulta prever com exatidão o cenário em que ocorrerá, enfim, o benefício que o país pode ter com o pré-sal. A alta complexidade tecnológica e custo de produção deixariam o preço do barril competitivo apenas em um cenário de petróleo valorizado. No entanto, a perspectiva que agora surge é de que quando o Brasil passar a figurar na cena geopolítica como grande exportador da commodity, a demanda mundial pelo combustível mais cobiçado do último século pode não ser a mesma. A mudança aparece justamente porque os Estados Unidos – maior consumidor e importador de petróleo do planeta – vive uma revolução em sua matriz energética com o aprimoramento das técnicas para a produção de gás e petróleo provenientes de fontes não convencionais através da fracção de hidrocarbonetos.

Adam Sieminski, chefe da agência americana de informação energética (Energy Information Administration, EIA), afirma que diversos fatores contribuem para uma mudança radical no cenário geopolítico. Uma delas é a estabilização da demanda energética nos países desenvolvidos. Segundo ele, o crescimento da demanda vai se dar em países não pertencentes à OCDE, como Índia e China. Os consumidores tradicionais, como Estados Unidos, Europa e Japão estabilizaram a demanda. Os Estados Unidos, por exemplo, tiveram um aumento significativo na eficiência energética, uma vez que ao longo dos anos a indústria se esforçou para inovar e desenvolver tecnologias que utilizassem menos combustível. O outro fator que alivia a pressão americana por energia é justamente a variação de fontes. É aí que entram os combustíveis não convencionais.

Sieminiski aponta para duas formações rochosas nos EUA. Bakken, no estado de Dakota do Norte, e Eagle Ford, no Texas. “Não fiquem encabulados de não saberem onde fica Dakota do Norte. Grande parte dos americanos não sabe. Acham que fica em algum lugar perto do Canadá. E estão certos. Só que este lugar vai rapidamente chegar à segunda posição da cadeia produtiva de gás e petróleo nos Estados Unidos”, disse. Em 2005, 60% do petróleo dos Estados Unidos vinha de importações. O percentual caiu para 49% em 2010 e as estimativas da EIA para 2035 variam de 14% a 36%. Em ambos os cenários, a demanda americana daqui a 23 anos seria completamente suprida pelas exportações canadenses e mexicanas. O fenômeno é tratado pelos especialistas como a auto-suficiência da América do Norte. “Acredito que os Estados Unidos possam até mesmo se tornar exportadores de petróleo. Isso seria muito curioso, porque temos uma lei federal que não permite exportação, justamente por sermos muito dependentes”, disse Sieminski. “A oportunidade para o Brasil, caso o país possa aumentar sua produção, pode acabar sendo destinada a outros mercados”, afirmou.

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Dividindo a mesa com Sieminiski na Rio Oil & Gas, Helder Queiroz, diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) se mostrou mais otimista com as projeções para o pré-sal. Segundo ele, o Brasil é capaz de atingir os 4,5 milhões de barris de petróleo ao dia em 2020 – o que permitiria uma exportação variando de 1,5 milhões a 2 milhões de barris de petróleo ao dia.

Giovani Machado, superintendente de petróleo e gás natural da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), destaca que a estabilização nas importações de petróleo por países desenvolvidos, tanto pelo aumento da eficiência energética quanto pelo efeito da crise econômica mundial, implica em um cenário totalmente diverso para a atuação do Brasil como exportador. “Não só o Brasil terá que colocar os excedentes de petróleo em um mercado mais distante, como vai precisar chegar lá com um barril competitivo, ao mesmo tempo em que outros países produtores estarão perdendo mercado. Haverá uma dupla dificuldade para ser competitivo”, disse.

Helder Queiroz disse não acreditar, no entanto, que o Brasil estaria correndo risco elevado para produzir no pré-sal, em um cenário de baixo preço do petróleo. “O fim do petróleo barato se traduz no fato de que as melhores reservas já foram descobertas. Hoje ficará cada vez mais difícil encontrar reservas de custo muito baixo”, afirmou. No entanto, Queiroz admite que haveria problemas de viabilidade, caso o valor do barril ficasse abaixo dos 50 dólares. “Não existe risco zero na indústria do petróleo. Algumas das possibilidades ficam mais consolidadas à medida que você aumenta o conhecimento e tem resultados positivos. Você melhora a posição de risco, mas não chega a ser zero. Sabemos que o pré-sal fica longe da costa, a 7 mil metros de profundidade”, afirmou.

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