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Problemas da Webjet evidenciam a escassez de profissionais no setor

Com um quadro de funcionários apertado, pedidos de demissão e a quebra de um simulador de voo explicam o elevado número de cancelamentos

Por Derick Almeida e Benedito Sverberi
29 set 2010, 12h36

O fato, apesar de cheio de imprevistos, não isenta a companhia nem a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) de ser responsabilizada pelo transtorno causado aos viajantes

Os cancelamentos dos voos da companhia aérea Webjet, que atingiram 55% do total na segunda-feira e 38% nesta terça, estão diretamente relacionados à falta de tripulação para atender à demanda crescente. O site de VEJA apurou que a empresa foi vítima de um problema pontual. Já naturalmente pressionada a incorporar com rapidez novos integrantes ao seu quadro de funcionários, a companhia viu mudarem para a concorrência dois co-pilotos em agosto e cinco nas últimas semanas. Para piorar, quebrou-se um simulador de vôo (equipamento fundamental no treinamento destes profissionais) da Flex Aviation Center, empresa terceirizada responsável pela formação de uma nova turma de co-pilotos que seriam contratados pela Webjet. Resultado: atraso na entrada dos tripulantes que atenderiam a demanda por viagens neste mês.

Os imprevistos, contudo, não isentam a companhia nem a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) de responsabilidade pelo transtorno causado aos viajantes. A empresa, por não trabalhar com o contingente de pilotos e co-pilotos necessário para manter suas operações mesmo em situações de emergência. A agência, porque deveria fiscalizar com maior eficiência as companhias aéreas.

O atraso na reposição de profissionais, somado à perda de co-pilotos ao longo dos últimos dois meses, forçou a Webjet a pôr em prática um plano de emergência. Assim, desde a terça-feira da semana passada, a direção da companhia decidiu cancelar os vôos que não teriam tripulação disponível. Em nota, a empresa explicou ter tomado a decisão para não desrespeitar a Lei nº 7.183, que regula os limites de trabalho dos aeronautas. Ao mesmo tempo, foi intensificada a negociação junto às concorrentes para reacomodar seus clientes em outras aeronaves.

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Comparação – Segundo Jorge Leal Medeiros, especialista em setor aéreo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), a empresa agiu de maneira correta ao não exceder o limite de carga horária trabalhada por seus tripulantes, o que implicaria problemas éticos e legais. Uma fonte do setor destacou à reportagem que a Webjet evitou, ao decidir cancelar os vôos previamente, a repetição do cenário de caos instalado nos aeroportos no início de agosto por conta de problemas com a tripulação da Gol. Para os especialistas, a companhia de Nenê Constantino – que creditou seus atrasos e cancelamentos a problemas com um software – teria deixado a situação se deteriorar até o limite; tanto que as operações só foram suspensas porque os funcionários recusaram-se a trabalhar mais. Na ocasião, sobraram críticas à empresa e às dificuldades de acompanhamento e fiscalização da Anac.

A medida tomada pela Anac de suspender até sexta-feira a comercialização de passagens aéreas pela Webjet também foi elogiada pelos analistas ouvidos pelo site de VEJA. Entretanto, a decisão não esconde a necessidade latente de mudança nos padrões técnicos e administrativos da agência reguladora. Alexandre Gomes de Barros, ex-diretor da agência reguladora e professor de engenharia de transporte da Universidade de Calgary, explica que o órgão não precisa e manter fiscais presentes em todos os aeroportos e acompanhar de perto a prestação de centenas de vôos diários. Na avaliação dele, uma simples ampliação do número de servidores da Anac seria uma saída pouco eficiente, além de muito custosa. “Existem melhores formas de aprimorar o serviço do ANAC. Uma delas é destinar mais recursos para ‘inteligência’, de modo que se invista mais em mecanismos tecnológicos de acompanhamento dos dados para detectar problemas com o máximo de antecedência”, explica.

A fim de que as companhias aereas tornem-se ainda mais precavidas e aperfeiçoem sua administração, Barros diz que uma possível saída seria a reavaliação das punições impostas pela ANAC. “No momento em que a empresa sabe que, se não cumprir a programação corretamente, tomará multa altíssima, tudo indica que fará de tudo para evitá-la”, concluiu.

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Mercado de trabalho aquecido – A saída de profissionais da Webjet reflete o aquecimento do mercado de pilotos, co-pilotos e comissários de bordo, na esteira do forte desenvolvimento setorial. O fenômeno traz problemas especialmente sérios às empresas de aviação civil de menor porte, cujos empregados sofrem constante assédio das gigantes TAM e Gol. Da forma semelhante, todos recebem convites tentadores das companhias aereas estrangeiras. Segundo Medeiros, é natural que pilotos e co-pilotos busquem construir carreiras em grandes empresas.

Do lado da formação, aponta uma fonte do setor, as escolas têm dificuldade para pôr no mercado novos profissionais (a exceção seria a oferta de novos comissários, considerada adequada). Pilotos e co-pilotos precisam somar quantidades mínimas de horas-vôo – de, respectivamente, 4 000 e 1000 horas-vôo – para obter autorização para exercer a profissão, além de fazer cursos específicos para operação dos diversos modelos de aeronave.

Com oferta e demanda apertada, a tendência natural é de pressão para aumento da remuneração desses profissionais. Num futuro próximo, não está descartada a ocorrência de novos problemas nos aeroportos justamente em função da escassez de mão-de-obra especializada. Cabe às empresas e à Anac estruturar, desde já, políticas para evitar esse infortúnio.

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