Petrobras e Braskem terão de explicar balanços à CVM
Empresas adotaram contabilidade de hedge para se proteger contra oscilação do dólar
A adoção da contabilidade de hedge (proteção) por companhias abertas para reduzir o impacto da alta do dólar nos resultados do segundo trimestre está sendo apurada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O regulador pediu explicações para pelo menos dois grupos: Petrobras e Braskem.
Uma consulta a dados públicos revela que a Superintendência de Relações com Empresas (SEP) da CVM abriu processos administrativos para analisar as informações trimestrais dessas companhias. O da estatal foi iniciado na segunda-feira, três dias após a publicação do balanço financeiro do segundo trimestre.
Consultada, a CVM informou que não comenta casos específicos. No entanto, confirmou que a SEP �está analisando o referido tema contábil para um conjunto de companhias, no âmbito do Sistema de Supervisão Baseada em Risco (SBR)�.
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A prática da contabilidade de hedge é legal e autorizada no país desde 2009. A opção por esse modelo já foi feita anteriormente por grandes companhias. A hipótese é que a CVM esteja questionando o momento e a forma como as duas empresas comunicaram ao mercado a nova política. Esse mecanismo neutraliza parte do impacto da variação sobre a dívida da empresa no curto prazo.
Em entrevista coletiva realizada na segunda, o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, afirmou que a contabilidade de hedge �veio para ficar�. Para Barbassa, a medida é um instrumento muito útil para países em desenvolvimento, que têm maior dificuldade de captar recursos no mercado internacional �e acabam expostas a variações�. Além disso, reduz a volatilidade no resultado fruto de variações cambiais.
Repercussão – Tanto a estatal quanto a Braskem passaram a adotar a contabilidade de hedge em maio. No entanto, as companhias só comunicaram a nova prática ao mercado em julho, quando os balanços já estavam fechados. É possível que a CVM também olhe a maneira como o impacto dessa contabilidade foi destrinchada nos balanços. Outro ponto é verificar se as companhias cumpriram o trâmite necessário à adoção do hedge. Por exemplo, se há garantias de receita futura compatível com a perda contábil referente ao efeito do câmbio sobre a dívida.
Na contabilidade de hedge as exportações são usadas como proteção contra a variação da dívida em moeda estrangeira. A manobra elimina o descasamento contábil entre os efeitos benéficos da valorização do câmbio na receita de empresas exportadoras – mais demorado – e o imediato peso negativo sobre a variação da dívida em moeda estrangeira.
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A decisão da Petrobras de adotar a mudança a partir de maio evitou um resultado trimestral fraco. O lucro de 6,201 bilhões de reais reportado entre abril e junho foi alcançado porque um montante de 7,982 bilhões de reais em perdas cambiais não foi contabilizado no resultado, mas no patrimônio líquido da empresa.
No caso da Braskem, o hedge adotado evitou que o prejuízo líquido de 128 milhões de reais no segundo trimestre fosse mais de oito vezes superior ao prejuízo da petroquímica teria chegado a 1,082 bilhão de reais no período, segundo a própria empresa.
Resposta – A Braskem confirmou nesta terça-feira que está prestando explicações à CVM sobre a adoção da contabilidade de hedge. Em nota, a petroquímica disse que “considera natural o ofício da CVM com pedido de esclarecimentos diante da relevância do tema hedge accounting, e já enviou ao órgão os documentos solicitados: cópia da documentação que formaliza a estratégia de gestão de risco objeto da nova norma contábil e pareceres técnicos que embasaram a decisão e dos auditores”.
(com Estadão Conteúdo)