Para Ipea, país não está em fase de pleno emprego
Instituto fez análise dos dados divulgados recentemente pela Pnad 2012 e detectou que participação dos jovens no mercado de trabalho vem caindo
Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) disseram os dados divulgados recentemente pela Pesquisa Nacional de Amostra de Domicilio (Pnad) referentes a 2012 não indicam uma fase de pleno emprego, como tem sido divulgado pelo governo. De acordo com Marcelo Néri, presidente do Ipea e ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), a queda da participação de jovens no mercado de trabalho mostra que há espaço para expansão da oferta.
O Ipea emitiu um comunicado nesta segunda-feira sobre o mercado de trabalho a partir dos dados da Pnad, divulgada em setembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo Néri, os dados da Pnad mostram desaceleração no mercado de trabalho – e não o pleno emprego. “A taxa de desemprego é muito baixa, mas a taxa de participação entre os que estão em idade produtiva e poderiam entrar no mercado de trabalho continua baixa e pode ser ampliada, especialmente entre as mulheres e os jovens entre 15 e 24 anos. Com isso, diminuiria um pouco a pressão sobre o mercado de trabalho”, disse Neri. Segundo ele, a queda da participação dos jovens no mercado ocorre desde 2009.
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Entre 2009 e 2012, a taxa de participação entre as mulheres caiu 4,2%, contra 2,5% dos homens. Já entre os jovens na faixa de 15 a 24 anos, a queda foi de 5,9%. O estudo revelou também que, no mesmo período, aumentou o número de jovens nessa faixa etária fora do mercado de trabalho e da escola. Cerca de 23,2% dos jovens não estavam na escola nem trabalhando em 1999, e essa relação aumentou para 25,7% em 2012. Entre as mulheres esse, porcentual que era de 38,4% e, 1999 passou para 40,6%.
Renda – Entre as categorias em que houve maior aumento de renda, segundo o estudo, estão agricultura, construção civil e serviços, onde estão incluídos as empregados domésticos. O aumento de renda estaria associado a uma melhor escolarização, na visão de Néri. “É um bônus educacional, o trabalhador saiu de um nível muito baixo de qualificação para um menos baixo.”
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Apagão na base da pirâmide – A consequência do movimento seria um “apagão” de mão de obra de baixa qualificação. A avaliação é radicalmente contrária à ideia difundida entre empresários de que há escassez de mão de obra qualificada no país. “Entre as pessoas com baixa qualificação, o salário está aumentando, pela redução da oferta. É um processo retardado, o país começou a viver isso em 2001. Talvez seja um sinal de que o Brasil não está dando um salto tecnológico. O grande apagão é de gente pouco qualificada.”
Segundo Ulyssea, os dados do IBGE demonstram que há um aumento da oferta de trabalho para as categorias mais qualificadas. “O quantitativo dos trabalhadores qualificados vem aumentando acima dos não qualificados. Outro fator é a evolução da renda da mão de obra qualificada, que está em queda. Isso é coerente com o aumento da oferta de mão de obra. Essas duas características são incompatíveis com a ideia de escassez.”
População – O estudo mostrou também que, atualmente, o gargalo para uma maior expansão no mercado de trabalho é a queda na taxa de participação da população em idade produtiva. A taxa se refere à relação entre a população inserida no mercado e o total da população em idade produtiva. O problema atinge, sobretudo, mulheres e jovens entre 15 e 24 anos que não estão no mercado ou em busca de uma ocupação. Entre 2009 e 2012, a taxa de participação entre as mulheres caiu 4,2%, contra 2,5% dos homens. Já entre os jovens nessa faixa etária, a queda foi de 5,9%.
“É surpreendente, pois acontece no momento de melhora no mercado, quando deveria ter maior atratividade”, explica Néri. Segundo ele, em 2012, o mercado de trabalho cresceu 6,45%, ou “duas vezes mais rápido que em toda a década (3,08%), o que surpreende dado que o PIB cresceu apenas 0,9%”.
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Para Gabriel Ulyssea, coordenador de pesquisas em trabalho e renda do instituto, a queda chama atenção pela intensidade em curto intervalo de tempo e “preocupa, pois tira a possibilidade de aumento na oferta de mão de obra”. No caso das mulheres, a razão apontada é uma saída do mercado de trabalho pela decisão de ter e cuidar dos filhos. “Nesse sentido, a provisão de creches terá papel importante no futuro”, explica Ulyssea.
Para os jovens, o pesquisador afirma que não há clareza sobre as causas do fenômeno. “É possível que esteja relacionado ao aumento de renda por outras vias que não o trabalho, isso inclui os programas sociais. Mas o fato de a queda ter sido mais intensa no Nordeste é um fator que demonstra a influência de ações sociais nesse tema.”
(com Estadão Conteúdo)