Há muito tempo rachado, o PMDB encontrou uma bandeira de união: não ao aumento de impostos e sim ao corte de gastos. O estopim da reconciliação foi a Cide, o tributo sobre combustíveis. A proposta de elevação da Cide havia sido apresentada à presidente Dilma Rousseff por representantes do setor sucroalcooleiro. Dilma não demonstrou interesse. Delfim Netto, que andou tendo conversas com o setor, telefonou para Michel Temer para explicar a proposta, antes de defendê-la em artigo no jornal Valor Econômico publicado na edição de terça-feira.
O vice marcou sua entrada no debate econômico encampando a ideia do imposto. Convocou um jantar entre governadores e parlamentares peemedebistas para consultar sua viabilidade política. Ouviu um sonoro não. Um dia depois de a presidente Dilma falar que alguns “remédios amargos” são indispensáveis para reavivar a economia e no mesmo dia em que o ministro da Fazenda sugeriu subir o imposto de renda, Temer e todo o PMDB se uniram na direção contrária.
A posição categoricamente oposta à do governo aumentou as faíscas entre a presidente e o vice. Durante a tarde desta quarta, Nelson Barbosa, do Planejamento, foi até Renan Calheiros para entender melhor o que o partido quer dizer com “cortes”. O ministro é um dos defensores de “reformas estruturantes”, como a reforma da previdência, para aumentar o caixa do governo no ano que vem — e não de cortes de programas sociais. Contudo, o PMDB admite internamente que não há clima político para qualquer proposta de reforma e que o único jeito de alcançar um orçamento superavitário é justamente abrir mão dos programas que ajudaram a edificar os governos petistas. Os caciques do partido definiram, contudo, que não assumirão a paternidade de qualquer corte impopular. As propostas terão de vir do governo. (Ana Clara Costa, de Brasília)
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