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O que leva Dilma Rousseff à pequena São João da Barra

Presidente vai festejar obras de 3,8 bilhões de reais do Porto do Açu, de Eike Batista. Último chefe de estado a pisar na cidade foi Dom Pedro II

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 abr 2012, 09h39

Município de 33 mil habitantes pode ser o primeiro da região a criar independência dos royalties do petróleo e caminha para ser o queridinho dos políticos na próxima década

A pequena São João da Barra continua pequena. Tem apenas 33 mil habitantes. Mas tem todas as chances de se tornar uma cidade de médio porte até 2020. A guinada é radical. Em 1997, São João encolheu, com a emancipação de uma porção que, hoje, é a cidade de São Francisco de Itabapoana. A previsão é de que, na próxima década, a população seja sextuplicada. Essa mudança começou em 2007, quando o empresário Eike Batista deu início às obras do Porto de Açu. É o complexo criado por Batista que leva a presidente Dilma Rousseff à cidade na tarde desta quinta-feira. Até então, a presença de políticos de peso fora do período eleitoral era nula. O último chefe de estado a pisar no município foi Dom Pedro II, para visitar as obras da Usina Barcelos, já desativada.

Assim como muitos municípios do Norte fluminense, São João passou a existir no mapa econômico do Brasil em meados dos anos 2000, com a poderosa injeção de recursos dos royalties do petróleo. Mas até a chegada do megaempreendimento de Eike Batista, pouco mudou na rotina dos moradores, que em sua maioria vivem da agricultura, da pesca e do turismo. Seu produto mais conhecido era o Conhaque de Alcatrão de São João da Barra, e a cidade ostentava indicadores pífios de infraestrutura. Até meados de 2005, não havia sequer cinco quilômetros de rede de esgoto na cidade. Navegar pela internet era missão impossível. E conseguir uma linha telefônica demorava, pelo menos, três meses. O celular praticamente não pegava no município- tarefa ainda complicada em algumas localidades.

O Porto do Açu, maior obra de infraestrutura portuária da América Latina, receberá investimento de 3,8 bilhões de reais, sendo 1 bilhão pela LLX, a empresa de logística do Grupo EBX, e 2,8 bilhões pela LLX Açu, que é a responsável pela operação de cargas em geral. A expectativa é de que o porto movimente, anualmente, 350 milhões de toneladas de exportações e importações. Se a previsão vingar, o Porto do Açu estará entre os três maiores complexos portuários do mundo. E São João da Barra terá sido a primeira cidade daquela região a funcionar sem a dependência extrema dos royalties do petróleo.

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No complexo industrial, serão instaladas siderúrgicas, fábricas de cimento, uma unidade de construção naval da OSX, um complexo termelétrico da MPX, indústrias offshore, indústrias de tecnologia da informação, um polo metalmecânico e uma unidade para tratamento de petróleo, entre outros projetos. O funcionamento do Porto do Açu está previsto para ter início em 2013. A LLX está em fase de negociação com as empresas que querem se instalar no local. Há cerca de 70 memorandos de entendimento em negociação com essas empresas que pretendem se estabelecer em São João ou apenas usar o porto para movimentar cargas.

Com o porto e com o complexo industrial em funcionamento, devem ser gerados 50 mil postos de trabalho. Para 5 mil moradores do quinto distrito, onde fica o Porto do Açu, somente agora chegará água potável. E até hoje a cidade não tem um hospital sequer – a construção do primeiro está em negociação entre a prefeitura e as empresas de Eike Batista.

As obras do porto têm promovido transformações significativas para São João da Barra. O PIB saiu de 665.837,00, em 2005, para 2.039.370,00 em 2009. O Imposto sobre Serviços (ISS) arrecadou 700 mil reais no ano de 2004. Em 2010, subiu para 12 milhões. A geração de emprego também aumentou na comparação de 2010 com 2011, saiu de 400 para 1286 postos de trabalho.

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As mudanças passarão também pela arrecadação municipal, mas essa ainda não foi mensurada. Atualmente, os royalties do petróleo correspondem a 74% da arrecadação. “Hoje São João arrecada cerca de 300 milhões de reais por ano. A médio prazo não seremos mais tão dependentes dessa fonte de receita”, diz Carla. Para a subsecretária de planejamento, Doralice Maria Gonçalves, é a oportunidade de conseguir a independência financeira de São João da Barra. “Na região, quase todas as cidades, sobretudo as menores, sobrevivem dos royalties do petróleo. Como ele isso não vai durar para sempre, entendemos que a independência financeira passa por cultivar e gerar nova matriz econômica. A atividade industrial se tornará a matriz econômica da cidade”, afirma Doralice.

A prefeita da cidade, Carla Machado, sabe que a cidade está vivendo um momento ímpar. O crescimento acelerado exigiu que o plano diretor de São João da Barra fosse refeito – dessa vez, com assinatura do escritório de Jaime Lerner, o arquiteto que quando foi prefeito de Curitiba transformou a cidade em exemplo internacional de boas práticas urbanas. Um dos objetivos é evitar o crescimento desordenado que marca a maior parte das cidades brasileiras, e seus conhecidos efeitos colaterais: engarrafamentos, aumento da criminalidade, favelização. “Vamos tentar mitigar isso”, afirma Carla.

As primeiras providências estão sendo tomadas. A prefeita solicitou a criação de uma estrutura de patrulhamento independente de Campos dos Goytacazes. Carla também pediu a instalação de outra delegacia na cidade, para ficar na área do Açu. É esse o novo cenário que surge na pequena São João da Barra, que Dilma visitará. De patinho feio do Norte fluminense, o município está se transformando em queridinho dos políticos.

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