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‘Na Hungria, risco de calote é real’, diz analista

Economista da Capital Economics explica como as reformas do premiê Viktor Orbán podem agravar os problemas bancários da zona do euro

Por Ana Clara Costa
17 jan 2012, 18h43

A situação econômica e política da Hungria foi ofuscada nos últimos dois anos por problemas aparentemente muito maiores que atingem a Europa: as turbulências nas dívidas soberanas dos países da união monetária e as dificuldades vividas pela Grécia. Contudo, à medida que a crise europeia se agrava e as saídas tornam-se mais restritas, atores que antes não teriam tanta relevância para o bloco ganham destaque. Desde 2010, quando o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, foi eleito, uma onda antidemocrática – no estilo Hugo Chávez – começou a tomar o país.

Logo em seu discurso de posse, Orbán posicionou-se contra o Fundo Monetário Internacional (FMI) e as demais instituições soberanas. Em seguida, iniciou um processo de reformas na legislação que fez com que o governo assumisse o poder do Banco Central local. Tantas mudanças motivaram uma reação europeia. Nesta terça-feira, a Comissão Europeia (CE) anunciou a abertura de três procedimentos de sanção contra o governo húngaro pela incompatibilidade das mudanças previstas na nova Constituição nacional com as leis da União Europeia (UE).

Desde meados do ano passado, os investidores fogem do país – e a moeda local (o florim) iniciou acentuada trajetória de queda. Já os títulos da Hungria desceram ao grau especulativo na avaliação das três principais agências de classificação de risco internacionais (Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch). O FMI bloqueou as negociações para conceder um empréstimo de 20 bilhões de euros ao país. Há sérias dúvidas sobre se o governo conseguirá honrar o pagamento de suas dívidas.

O peso da questão húngara para a eclosão de uma crise sistêmica na zona do euro ainda é incerto. Contudo, a proximidade do país com a Áustria e com a Alemanha causa preocupações. Ambos fazem parte do seleto grupo de seis nações que garantem a sustentação do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) – mecanismo que nasceu para resgatar países europeus em dificuldades.

Os bancos austríacos possuem uma exposição de mais de 40 bilhões de dólares a títulos húngaros, enquanto a Alemanha tem na Hungria um importante parceiro comercial no fornecimento de suprimentos para a indústria manufatureira. A interligação das economias não termina aí. “Os bancos húngaros são extremamente dependentes das linhas de crédito dos países mais ricos da União Europeia, como Alemanha, França e Áustria”, afirma o economista William Jackson, da consultoria londrina Capital Economics. Em entrevista ao site de VEJA, o analista alerta: se os bancos credores da Hungria não conseguirem rolar sua dívida, há um risco grave de crise bancária na zona do euro.

Há, realmente, uma possibilidade de calote da Hungria?

Os riscos são reais desde dezembro do ano passado, quando o governo apresentou as mudanças na legislação do Banco Central húngaro. Isso fez com que as equipes do FMI e da União Europeia que tratavam com o país paralisassem as conversas. De lá para cá, o Parlamento aprovou as mudanças, o que tornou ainda mais remota a possibilidade de acordo entre a Hungria e o fundo.

Qual é o risco dessa mudança na lei que rege o BC?

As mudanças causaram insegurança – e fizeram com que os investidores saíssem do país. Esse abandono, por sua vez, fez com que a moeda húngara, o florim, se depreciasse a partir da segunda metade de 2011. Com isso, a dívida em moeda estrangeira tem se tornado cada vez mais pesada para o país, fazendo com que recuem os gastos do próprio governo e das famílias. Nesse cenário, cresce a desconfiança em relação aos títulos do governo húngaro – o que, por sua vez, leva a um aumento do prêmio de risco sobre esses papéis.

A Hungria pode, então, se tornar uma nova Grécia?

Em termos de dívida pública, não creio que as situações dos países sejam comparáveis. O endividamento da Hungria não é tão alto para os atuais padrões europeus. A necessidade de ajuste fiscal é bem menor do que na Grécia. Há ainda um outro fator: os depósitos que o governo húngaro possui junto ao Banco Central, somados aos ativos conseguidos com a estatização dos fundos de pensão empreendida pelo Executivo, poderiam ser usados para cobrir os gastos governamentais na primeira metade deste ano. Mas, veja bem, nada disso funcionará se não houver ajuda do FMI.

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Mas o FMI e o Banco Central Europeu se posicionaram de maneira firme em relação à situação húngara. O que acontece se o país decidir não seguir os conselhos desses órgãos?

Os comunicados de ambos os órgãos sugerem que qualquer tentativa de renegociação estará sujeita a condições severas. Em resumo, o FMI não vai interceder em favor da Hungria se não houver um compromisso sério por parte das autoridades locais no cumprimento das condições estabelecidas pelo fundo. Já o BCE parece ter perdido a confiança e está pressionando para que o país reveja as alterações feitas na legislação do Banco Central. Mas não se sabe até que ponto a Hungria está disposta a negociar.

Qual é a possibilidade de contágio para o resto da Europa?

É difícil fazer essa avaliação. Mas há uma situação clara: os bancos da Hungria são extremamente dependentes das linhas de crédito dos países da União Europeia. Se os credores não quiserem ou não conseguirem rolar a dívida húngara, há um risco iminente de crise bancária na zona do euro.

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