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Mesmo com juro menor, bancos recuperarão rentabilidade

Apesar de o 'spread' menor ter vindo para ficar, analistas dizem que instituições financeiras ficarão mais rentáveis graças a operações novas e em maior número

Por Talita Fernandes
4 out 2012, 07h38

Depois de sofrerem pressão do Palácio do Planalto para baixar juros, começaram a surgir nos últimos dias índices que demonstram que os bancos estão ficando menos rentáveis. O Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central referente ao primeiro semestre, divulgado nesta terça-feira, mostrou que as instituições financeiras tiveram em junho baixa recorde de sua rentabilidade. O índice que compara o ganho dessas entidades com seu patrimônio líquido recuou de 16,4% no final de 2011 para 14,4% nos doze meses encerrados em junho – o menor patamar desde o início da série histórica, em 2002.

O documento revelou ainda a avaliação do BC de que a trajetória de queda dos juros no país representa um desafio aos bancos. Especialistas ouvidos pelo site de VEJA são unânimes em afirmar que, de fato, o cenário de juros mais baixos veio para ficar. Contudo, eles também formam um consenso de que o setor recuperará rentabilidade graças à sofisticação dos produtos e, principalmente, à expansão das operações.

Na última semana, o mercado financeiro precificou a redução de rentabilidade do setor bancário: o encerramento do pregão na Bolsa de Valores de São Paulo, na sexta-feira, mostrou que os maiores bancos brasileiros perderam quase 35 bilhões de reais em valor de mercado. O BC vem fazendo, desde agosto de 2011, cortes seguidos da taxa básica de juros (Selic), a qual está hoje em seu patamar mais baixo na história, de 7,5% ao ano. A queda da taxa que baliza todas as demais operações de crédito foi usada como argumento para que o governo Dilma forçasse as instituições financeiras a reduzir juros cobrados de seus clientes.

Gráfico: desempenho das ações dos bancos na bolsa de valores
Gráfico: desempenho das ações dos bancos na bolsa de valores (VEJA)

Desde o início do ano, o Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal (CEF), atendendo às ordens do governo federal, vêm anunciando redução das taxas de financiamento. Eles se tornaram instrumentos da presidente Dilma para estimular a competição bancária e, de quebra, promover a redução dos chamados ‘spreads’ – a diferença entre os custos de captação de uma instituição e os valores que são cobrados dos clientes finais. “Os bancos privados perderam para os públicos. Por isso, foram forçados a baixar as taxas de juros”, explica André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

Para o analista, ao reduzir os juros, o governo estimula a economia ao tornar as coisas “mais baratas”, já que o crédito diminui de preço. Por outro lado, isso tem um reflexo direto na rentabilidade dos ativos da economia, inclusive dos bancos.

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Ajuste – O economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicolas Tingas, explica que essa queda de rentabilidade é temporária e que é motivada não só pela queda de juros, mas também pela baixa perspectiva de crescimento da economia. As previsões do mercado e do BC para a expansão do PIB nacional neste ano estão hoje em 1,6%. “O que vai mudar é o perfil de oferta dos bancos. Não vejo um cenário de rentabilidade elevada e também não vejo rentabilidade zero. Nós deveremos ver em breve uma situação mais harmonizada”, explica Tingas.

Recuperação – Para o economista, o Brasil está passando por uma fase de ajuste de um alto patamar de juros e spreads para um cenário mais acomodado. Ele acredita que, nos próximos anos, a rentabilidade dos bancos voltará a subir – mas não pelo aumento do custo do dinheiro. “Estamos caminhando para um novo equilíbrio entre a oferta e a demanda de crédito. As pessoas estão aprendendo a tomar emprestado. Essas oscilações que estamos vendo são de curto prazo”, completa.

Essa também é a avaliação do professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FeaRp-USP), Alberto Borges Matias. Ele admite que o senso comum preconiza que os bancos sediados no Brasil ganham muito mais que instituições financeiras em outros mercados. Contudo, assegura o acadêmico, isso não é verdade. “Se você pegar a rentabilidade dos últimos dez anos no Brasil e no exterior é a mesma”, justifica.

Para Matias, a diferença entre o setor bancário brasileiro e os de nações mais ricas está na origem da rentabilidade. O Brasil tem um histórico de spread muito alto. A diferença do valor de captação dos bancos para o valor cobrado no empréstimo estava em torno de 28% no início do ano, mas, nos últimos meses, vem caindo para patamares mais baixos, em torno de 22% – um dos menores já registrados.

O economista acredita que, ainda que o número tenha caído muito, a diferença segue expressiva e significa que há um amplo espaço para lucrar em cada empréstimo. Mesmo assim, como a perspectiva é de juros e spreads baixos, as instituições financeiras locais – cuja eficiência e sofisticação é reconhecida internacionalmente – devem se movimentar. Isso significa que sua lucratividade não se baseará mais em spreads elevados, mas sim no aumento do volume de operações ou por meio da criação de novos produtos.

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A tendência é que busquem diversificar e investir em novidades. Neste sentido, explica Matias, a tendência é de aproximação do padrão operacional vigente nos Estados Unidos e na Europa, onde o lucro bancário baseia-se mais na sofisticação dos produtos e no volume de clientes. Um relatório da gestora americana Pimco, publicado na última segunda-feira, aponta que uma das formas mais prováveis de diversificação dos bancos será a criação de novos produtos relacionados ao crédito imobiliário.

Essa sofisticação, no entanto, não deverá acontecer apenas no portfólio dos produtos oferecidos, avalia o analista André Perfeito, mas também no modo de trabalho de seus funcionários. “O gerente vai ter de parar de ser chamado para vender produtos para clientes e vai procurar conhecer mais dos negócios. Um gerente de banco de uma agência de Sorocaba, por exemplo, vai ter de saber dos negócios da cidade”. De acordo com ele, as instituições financeiras terão de ser criativas para melhorar a qualidade de seus serviços e, assim, garantir maior rentabilidade “O banco vai ter de fazer melhor seu papel, que é o de intermediar quem tem poupança e quem quer investir”.

Gráfico: Evolução da queda dos juros
Gráfico: Evolução da queda dos juros (VEJA)

Novo patamar de juros – Para Nicola Tingas, da Acrefi, apesar de o país já ter visto nos últimos anos uma ampliação do acesso da população aos bancos, ainda há espaço para o crescimento da bancarização. O economista acredita que, se a projeção de crescimento de 4,5% do PIB e de 15% do crédito nos próximos anos se concretizar, as instituições encontrarão o caminho para recuperar a trajetória de lucros altos. “Os bancos ainda têm muito espaço para ter rentabilidade”, explica.

Ainda que o cenário seja de um leve aumento da taxa de juros para o próximo ano – de acordo com o último relatório Focus, a Selic deve ficar em média 8,25% em 2013 – é consenso entre os analistas que o país não deve mais voltar ao patamar dos juros bastante elevados. “Se o BC aumentar muito os juros, você pode desligar a máquina”, prevê André Perfeito, referindo-se à impossibilidade de acelerar a economia mediante uma nova política de aumento de juros.

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De acordo com os analistas entrevistados, esse novo modelo de rentabilidade – baseado na sofisticação da atividade bancária e em spreads mais baixos – veio para ficar.

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