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Megainvestidor aposta US$ 1 bi que a Herbalife é uma pirâmide

Gestor de um fundo de 12 bilhões de dólares em Wall Street, Bill Ackman fez uma aposta alta contra as ações da empresa no mercado financeiro; poderá perder muito dinheiro caso os órgãos reguladores não concordem com sua teoria

Por Ana Clara Costa
8 set 2013, 09h53

O gestor Bill Ackman é figura célebre em Wall Street. Junto com Carl Ichan e Daniel Loeb, ele forma a tríade de investidores ativistas que não só compram ações de empresas, mas também interferem na sua gestão e, em muitos casos, criam brigas inflamadas com outros acionistas e controladores. Ackman controla a Pershing Square, uma gestora que tem uma carteira de investimentos de mais de 12 bilhões de dólares. Em dezembro do ano passado, fez uma operação arriscada: apostou 1 bilhão de dólares na certeza de que as ações da Herbalife na Bolsa de Nova York vão despencar. Para ele, a empresa foi criada com base em um esquema de pirâmide que será, em breve, comprovado pelos órgãos reguladores americanos. Ackman, no entanto, nega ter informações privilegiadas sobre uma possível intervenção judicial na Herbalife.

A operação feita pelo investidor nos Estados Unidos é chamada de ‘venda a descoberto’ (ou shortselling, em inglês). Para executá-la, o investidor aluga as ações de uma determinada empresa por um preço alto com o compromisso de comprá-las depois de um certo prazo. Se o preço subir, o investidor perde dinheiro, pois se vê forçado a adquirir os papéis por um valor superior ao total de sua aposta. Ao alugar 20 milhões de ações da empresa que vende shakes de emagrecimento, Ackman apostou que o preço cairia mais a zero ainda em 2013. Ele fez uma apresentação de PowerPoint de 342 páginas para embasar sua decisão. Com isso, conseguiu derrubar as ações da Herbalife de 40 para 26 dólares em poucas semanas.

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Contudo, o sucesso da operação de Ackman durou pouco. No início deste ano, Carl Ichan, um dos maiores desafetos de Ackman, tomou a posição contrária e comprou mais de 16 milhões de ações da Herbalife, apostando em sua valorização. O ativista Daniel Loeb fez o mesmo. Em agosto, outro megainvestidor comprou mais de 5 milhões de ações da empresa: o húngaro George Soros. No fechamento de quinta-feira, 6, o papel da Herbalife era negociado a 64 dólares – uma alta de 60% em relação ao período em que Ackman anunciou a operação de venda a descoberto. Em entrevista concedida ao site de VEJA, o investidor explicou porque está convicto de que a empresa de produtos emagrecedores sediada nas Ilhas Cayman e com presença em mais de 80 países é um esquema ilegal e insustentável de pirâmide. “Trata-se de uma certeza. Há dois anos analiso as operações da empresa e tenho certeza que é uma pirâmide. E acredito que os órgãos reguladores dos Estados Unidos vão fechá-la”, afirma. Confira trechos da entrevista.

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Sua aposta na queda das ações da Herbalife foi amplamente divulgada. Apostar o capital do seu fundo na queda da ação de uma empresa que talvez seja uma pirâmide não é um movimento arriscado demais? Fiz essa transação porque não acho seja um ‘talvez’. Trata-se de uma certeza. Há dois anos analiso as operações da empresa e tenho certeza que é uma pirâmide. E acredito que os órgãos reguladores dos Estados Unidos vão fechá-la. No curto prazo, o mercado parece não acreditar nessa hipótese porque há alguns investidores bem conhecidos que investiram nas ações da Herbalife. E se o Brasil começar a investigar essa empresa assim como está fazendo com as outras suspeitas de pirâmide, certamente ajudará muito.

A Herbalife já foi acusada de ser uma pirâmide em outras ocasiões, mas a empresa sempre argumenta que sua receita se baseia na venda de produtos, não na entrada de novos distribuidores para a rede. Essa explicação não lhe convence? Não, pois ela é falsa. O que ocorre é que 100% da receita da Herbalife é decorrente da venda de produtos para os distribuidores, não para consumidores. A empresa, além disso, faz questão de não saber se seus distribuidores estão vendendo ou não os produtos aos clientes.

Como assim? Ela não abre essa informação. Em 1986, reguladores do estado da Califórnia ordenaram que a Herbalife passasse a contabilizar as vendas feitas aos consumidores. Desde então, a empresa exige que seus distribuidores guardem consigo os dados das vendas. Mas a empresa não pede a eles essa informação e tampouco a divulga no balanço. E por que ela não faz isso? Porque, para ela, não interessa quem compra seus suplementos.

Pirâmides são consideradas insustentáveis porque não conseguem durar por muito tempo. A Herbalife existe há mais de 30 anos. Isso não o faz duvidar de sua teoria? De jeito nenhum. O que os mantém vivos por tanto tempo é o fato de eles conseguirem novos mercados. Uma das razões de Bernard Maddoff ter conseguido operar seu esquema por 30 anos foi essa: ele tinha braços no mundo inteiro. Há, hoje, 3,2 milhões de distribuidores da Herbalife. Eles precisam achar 2 milhões de distribuidores por ano para manter o esquema. O mundo tem 7 bilhões de pessoas e a empresa está em praticamente todos os países. É por isso que consegue sobreviver. O que salvou a Herbalife nos Estados Unidos foi a internet e a comunidade latina, que deu à empresa um novo público. Além disso, seus administradores passaram a usar ferramentas mais sofisticadas de marketing, como o patrocínio de times de futebol e outros esportes.

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A linha que separa uma empresa de marketing multinível de uma pirâmide é muito tênue? Não. Há uma diferença gigantesca. A Herbalife é o maior exemplo disso. O porcentual de distribuidores que lucra com as vendas é mínimo. As pessoas que entram na rede pagam 3 000 dólares por ano em estoque de produtos, mas não conseguem vender tudo. As comissões que 95% desses distribuidores ganham é de, no máximo, 8 dólares por semana. Apenas o topo da cadeia lucra. Além de tudo, os shakes são feitos com base em commodities baratas, como soja. E, em alguns casos, são similares a produtos de laboratórios renomados, como o Abbott. Mas quando se olha os preços, são de três a quatro vezes mais altos que os produtos encontrados nas lojas especializadas em suplementos. Ou seja, não são produtos competitivos e não têm qualidade que justifique o preço cobrado.

George Soros é considerado um investidor conservador e, recentemente, fez um alto investimento em ações da Herbalife. Isso dá credibilidade à empresa. Eu não concordo que ele seja conservador. Mas, de qualquer forma, não foi ele que fez o investimento. Foi um de seus gestores, um cara de 35 anos chamado Paulo Sohn. Ele é um daqueles que pensam que os órgãos reguladores não farão nada contra a empresa porque não fizeram nada nos últimos 30 anos. Mas é inegável que esse investimento endossa a Herbalife e instiga outros investidores a entrar também, o que é muito ruim.

Carl Icahn, outro célebre investidor, também comprou uma fatia da Herbalife depois que o senhor anunciou sua aposta. E ele também vai se dar mal. Os reguladores de todo o mundo estão interessados nessa empresa e, mais cedo ou mais tarde, vão agir. O Icahn, inclusive, está ajudando o esquema de pirâmide ao fazer relatórios elogiosos e parciais. Ele fica propagandeando a companhia em benefício das ações que possui. E essa atitude é muito arriscada porque, quando os reguladores agirem, ele pode se tornar um alvo.

Icahn é seu desafeto no mundo dos negócios. A Herbalife tem algo a ver com isso? Não. Nós entramos em um negócio juntos quase dez anos atrás e ele saiu da operação me devendo 4,5 milhões de dólares. Eu o processei e, oito anos depois, consegui reaver o dinheiro. Ele ficou constrangido com essa situação e, desde então, toma decisões de investimento contrárias às minhas, dando a entender que quer me dar o troco.

Esquemas de pirâmide não são bem uma novidade nos Estados Unidos. Acha que a desregulamentação ajudou a aumentar o número de casos? Certamente. O governo quis mudar a lei que regulamenta empresas de marketing multinível, o que daria mais transparência ao setor. Mas o lobby do setor conseguiu impedir isso. Assim, esquemas que usam o marketing multinível como fachada proliferaram, sobretudo durante o governo de George W. Bush, que foi menos vigilante. Foi uma falha. Mas ela será desfeita mais cedo ou mais tarde.

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