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Mais pobre, pessimista e vulnerável: este é o brasileiro da atualidade

Pesquisa da consultoria Ponte Estratégia mostra que 82% dos brasileiros são pessimistas com a situação econômica e 68% não apostam em melhora futura

Por Luís Lima e Teo Cury
3 abr 2016, 14h47

As incertezas com o cenário político e econômico do país têm minado as esperanças dos brasileiros tanto em relação ao presente quanto ao futuro. Essa é uma das principais conclusões que saltam de uma pesquisa realizada em todo o país pela consultoria A Ponte Estratégia, à qual o site de VEJA teve acesso. O levantamento, realizado com 915 pessoas de todas as classes sociais, mostra que 82% dos entrevistados são pessimistas com a situação atual e que 68% não acreditam que haverá melhora nos próximos dois anos.

Com menos renda e medo de perder o emprego, mais da metade dos consultados admitem, por exemplo, ter barateado o plano de celular e cortado gastos com alimentação fora de casa. Além disso, 88% dos entrevistados declaram se sentir vulneráveis. “Os brasileiros reclamam que sentem na pele os efeitos da deterioração econômica, com mais desemprego e menor poder de compra”, diz André Torretta, coordenador da pesquisa. O levantamento foi feito entre os dias 10 e 15 de fevereiro com moradores de 250 cidades, distribuídas nas cinco regiões do país.

A deterioração do mercado de trabalho é uma das preocupações apontadas no levantamento, com 68% dos entrevistados admitindo ter receio de perder o emprego. “Eu me sinto vulnerável porque não sei se continuo a trabalhar. Eu sei que a demissão vem, estou só esperando ela aparecer”, disse ao site de VEJA Carlos Taveiros, de 56 anos, que trabalha em um banco de investimentos.

Giuliana Rodrigues
Giuliana Rodrigues (VEJA)
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A situação da estudante de direito Giuliana Rodrigues, de 20 anos, é mais crítica. Ela está sem emprego há um mês, quando foi demitida do escritório em que trabalhava como estagiária. “Fui mandada embora porque a empresa estava cortando custos, então começaram da base”, conta a futura advogada.

Para os próximos dois anos, 73% dos entrevistados esperam um aumento do desemprego. O índice médio de desocupação ficou em 8,5% no ano passado, segundo dados da Pnad Contínua, do Insituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A percepção de piora declarada pelos entrevistados é ancaroda nas estimativas de analistas. José Pastore, professor da Faculdade de Economia da USP (FEA/USP), um dos maiores especialistas da área no país, prevê um aumento da taxa de desocupação para até 11% este ano e 13% no que vem, puxado pela queda do investimento.

Menos TV e jantar fora – Para tentar proteger o poder de compra, os entrevistados afirmaram que têm reduzido suas despesas com serviços. Das pessoas que participaram da pesquisa. 70% dizem ter atualmente um plano de celular mais barato que o anterior e 72% assumem ter reduzido gastos com comidas fora de casa. Carlos Taveiros, por exemplo, conta que se saía para comer duas vezes por semana. “Agora, só a cada 15 dias”, disse. Outra medida: economizar 200 reais por mês com a mudança no pacote de televisão. “Eu tinha mais de 200 canais, mas cortei. Hoje tenho TV aberta e gasto só 80 reais com internet”, conta.

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Ainda segundo dados da Pnad, a renda média do brasileiro foi de 1.913 reais no último trimestre de 2015, queda de 2% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Enquanto isso, a inflação não dá trégua: alcançou 10,67% em 2015 e já acumula alta de 10,36% em 12 meses até fevereiro. Diante de um cenário com menos dinheiro e mais inflação, 76% dos pesquisados também declararam que piorou a capacidade de fazer uma compra maior, como a de um carro ou uma casa.

César Augusto
César Augusto (VEJA)

“No atual cenário, a cautela é predominante: a pessoa física não consome e o empresário não investe. Temos uma questão histórica de grandes empresários associados à demanda do setor público, que já não pode gastar”, diz Ricardo Macedo, coordenador adjunto da graduação em Economia do Ibmec/RJ.

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Para minimizar o impacto da crise no bolso, o manobrista César Augusto, de 26 anos, trocou os supermercados mais conhecidos pelos atacados, passando a fazer compras mensais e de produtos em quantidades maiores. Além disso, deixou de comer o que queria. “Só temos comido frango e carne de porco. Carne bovina aparece só de vez em quando”, conta.

Outro dado que chama a atenção na pesquisa é o que reforça a fragilidade dos brasileiros diante do atual cenário politico e econômico. Dos entrevistados, 88% dizem se sentir vulneráveis com a situação atual. “O brasileiro viveu 15 anos de bonanças, aumentou seu poder de compra, mas as conquistas estagnaram-se ou foram subtraídas com a deterioração econômica”, diz Torretta, organizador da pesquisa. “Hoje, a vida dele não está totalmente ruim. Está melhor que a de seus pais. Mas ele já começa a sentir, de forma prática, os efeitos dessa piora de cenário.

O tal sentimento de vulnerabilidade também pode ser explicado pelo maior medo das pessoas de que que a deterioração econômica alimente a criminalidade. “Em uma ambiente de crise econômica, sem perspectiva de reversão, a tendência é que as pessoas fiquem mais receosas de que haja um aumento da violência, com roubos ou assaltos, por exemplo”, diz Macedo, do Ibmec.

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Índice de confiança – O cenário de pessimismo também é refletido pelo Índice de Confiança do Consumidor (ICC), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O indicador atingiu em dezembro do ano passado o menor valor da história: 64,9 pontos. Depois disso, subiu em janeiro e fevereiro, mas voltou a cair em março.

“As perspectivas realmente não são favoráveis. Houve uma melhora por dois meses, mas ela não deve se sustentar. O cenário deverá ser bem difícil nos próximos meses”, diz Viviane Seda, economista do Ibre/FGV, responsável pelo ICC.

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