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Inflação fecha 2011 na meta, o que não alivia para o BC

Alta dos preços encerrou o ano passado em 6,5%, exatamente no teto da meta estabelecida pelo Banco Central. Ainda assim, a autoridade monetária terá de lutar para reforçar credibilidade

Por Beatriz Ferrari
6 jan 2012, 08h47

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou nesta sexta-feira que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – indicador oficial de inflação do país – ficou em 0,5% em dezembro. Desta maneira, a elevação dos preços na economia encerrou 2011 em 6,5%, ficando exatamente no teto do sistema de metas de inflação – mas longe do centro da meta, que é de 4,5%. Desde 1999, quando foi implantado tal regime, o teto da meta foi ultrapassado em 2001, 2002 e 2003 (veja as justificativas do BC).

Se tivesse ultrapassado o chamado teto da meta, ficaria evidente a falha do BC em controlar a inflação no primeiro ano de Dilma Rousseff na Presidência da República e de Alexandre Tombini à frente do órgão. Ainda assim, com o número no limite do que foi fixado pelo governo, a vitória não dá margem a comemoração. A avaliação feita pelos analistas ouvidos pelo site de VEJA é que a autoridade monetária, de fato, não conseguiu preservar o poder de compra do brasileiro. Após um ano de flagrante choque com as opiniões do mercado, Tombini e os outros diretores do BC vivem sob o olhar desconfiado de boa parte dos economistas. Reforça essa postura arredia o fato de que, diferentemente dos outros anos em que a inflação ficou claramente fora de controle, o país não sofreu em 2011 nenhum tipo de ataque especulativo, nem desvalorização acentuada do real. O comportamento do BC, portanto, dá corpo à tese de que o IPCA de 5,91% no ano passado foi uma temerosa opção de governo – com a desculpa de que um pouco de inflação é aceitável desde que o crescimento do PIB não seja sacrificado.

Ano de conflito – Em 2011, o Banco Central e o mercado vivenciaram um embate na discussão de como usar os juros e outros instrumentos para combater a alta dos preços. O episódio de maior tensão deu-se em agosto, quando o BC reduziu a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto porcentual, contrariando todas as expectativas. Dados posteriores da atividade econômica mostraram, entretanto, que o Produto Interno Bruto (PIB) estava, de fato, desacelerando – como havia argumentado a autoridade monetária – e que tanta cautela tinha seus méritos.

Ainda assim, o mercado prossegue arredio com a gestão do BC sob a liderança de Alexandre Tombini – tanto que os analistas preveem inflação acima do centro da meta para todos os anos do governo Dilma, ainda que os diretores da instituição insistam em dizer o contrário. “O descompasso entre as previsões do BC e do mercado tem a ver com a avaliação de que o BC tem dado mais importância ao crescimento do que à inflação”, diz Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria.

Mercado arredio – Embora parte do mercado tenha dado o benefício da dúvida ao Banco Central após a desaceleração do PIB no terceiro trimestre, ainda ecoa entre os economistas a suposição de perda de independência do BC em relação à Fazenda. “Esse arranhão na credibilidade do BC é resultado de um ano inteiro; sobretudo do abandono prematuro da meta de 2011”, acrescenta Alessandra.

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A favor do Banco Central jogam quatro fatores. O primeiro é a desaceleração da economia mundial, que contribui para diminuir a inflação “importada” e moderar a atividade doméstica. Em seguida, vem o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que baliza uma série de contratos, sobretudo de aluguéis, e é um dos grandes responsáveis por “carregar” a inflação passada para o futuro – fenômeno denominado indexação. O índice acumula alta de 5,10% em 2011, bem abaixo dos 11,32% de 2010. Também deve colaborar para a desaceleração do IPCA o congelamento temporário dos preços de transporte público em função das eleições municipais. Além disso, passa a valer em 2012 o novo cálculo do IPCA, que deve reduzir a inflação do ano em 0,2 ponto percentual.

As justificativas do BC para a inflação fora da meta

2001 A desaceleração da economia mundial, o contágio da crise argentina e os ataques de 11 de setembro aos Estados Unidos provocaram forte desvalorização do real, que chegou a 42,6% quando a moeda atingiu o pico de R$ 2,84 por dólar em setembro. O choque cambial contaminou os preços no país, abrindo caminho para o surto inflacionário. No âmbito interno, o BC destacou o crescimento acentuado dos preços administrados, principalmente das tarifas de energia elétrica. A inflação desta categoria atingiu 10,4% naquele ano. 2002 A elevada inflação do período, de 12,5%, foi reflexo da severa crise de confiança que viveu o país. Em meados daquele ano, as pesquisas de opinião já apontavam uma expressiva vantagem na corrida eleitoral à Presidência da República do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Como o político havia defendido por muitos anos uma ruptura com a política econômica vigente, os investidores tornaram-se fortemente avessos ao país, ainda que, na campanha, Lula tivesse mudado seu discurso. Tudo isso ocorreu num momento em que o mundo ainda se recobrava do choque dos ataques terroristas às Torres Gêmeas em 2001. Esses fatores refletiram-se em turbulências no mercado financeiro, dificuldades de administração da dívida pública e quedas bruscas no financiamento externo, com consequências negativas sobre a inflação. 2003 Já no governo Lula, os investidores começaram o ano com os mesmos temores que haviam apresentado em 2002. Logo, os fatores que causaram o surto inflacionário daquele ano repetiram-se nos primeiros meses de 2003. A inflação totalizou 6,8% de janeiro a maio – o equivalente a 73% de toda a meta anual. Com isso, já com Henrique Meirelles na presidência do BC, o país deu início a um ciclo de aperto monetário e o mercado, pouco a pouco, recobrou a confiança na política econômica. Com isso, a Selic pôde cair de 25,5% em janeiro para 16,5% em dezembro.

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