Impasse na Itália preocupa investidores e derruba bolsas
Terceira maior economia da zona do euro atingiu situação de ingovernabilidade após o resultado das eleições deste domingo
O impasse político na Itália preocupa os investidores e afeta o mercado financeiro nesta terça-feira. A terceira maior economia da zona do euro atingiu uma situação de ingovernabilidade depois que nenhum partido conseguiu maioria no Senado nas eleições gerais italianas, realizadas nos últimos dois dias.
A coalizão de esquerda de Pier Luigi Bersani obteve por uma escassa margem de votos a maioria na Câmara de Deputados, mas o Senado se perfila sem maioria clara, em uma forte disputa com a direita do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Esta situação, sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial, ameaça a governabilidade, já que a formação de um gabinete requer o apoio das duas câmaras.
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Na Ásia, o euro fechou o dia cotado no menor patamar das ultimas sete semanas em relação ao dólar: US$ 1,3. Os eleitores que foram às urnas no domingo e nesta segunda-feira deixaram um recado contra as medidas de austeridade adotadas pelo governo do tecnocrata Mario Monti – sua coalizão não passou do quarto lugar nas votações para o Senado e para a Câmara, bem atrás do terceiro colocado, o comediante Beppe Grillo. O comparecimento às urnas ficou em 75%, abaixo dos 80% de 2008 e dos 83% de 2006.
A Bolsa de Paris operava em queda de 1,72% às 11h20 desta terça. Em Milão, índice FTSE Mib registrava queda de 3,76%. A Bolsa de Londres operava em baixa de 1,13%, enquanto Frankfurt perdia 1,52%.
No mercado asiático, a situação da Itália também afetou o mercado. A Bolsa de Tóquio fechou em queda de 2,26%. Além disso, as bolsas locais também foram afetadas por notícias da região. Na Austrália, o índice S&P ASX /200 caiu 1%, para 5.003,60 pontos, depois de recuar até 1,5% no começo da sessão. Empresas de bens de consumo reverteram os fortes ganhos obtidos na segunda-feira, com a Woolworths, a Wesfarmers e a Coca-Cola Amatil terminando a sessão em queda entre 1,2% e 2,2%.
As empresas que trabalham com recursos naturais também apresentaram fracas performances: a BHP Billiton, a Rio Tinto e a Fortescue Metals recuaram entre 0,9% e 3%. Além do pessimismo trazido da Itália, o clima em Sydney ficou ainda mais negativo por causa de uma série de resultados decepcionantes de lucros corporativos. A Atlas Iron e o QBE Insurance Group caíram 3,4% e 2,2%, respectivamente, depois de anunciar seus últimos números.
Apesar das notícias dos mercados estrangeiros, as ações na China foram influenciadas por informações locais, levando o índice Xangai Composto a uma queda de 1,4%, para 2.294,34 pontos, após o editorial de um jornal estatal afirmar que a política monetária de relaxamento do país está chegando ao fim. O índice Shenzhen Composto avançou 1,3%, para 943,33 pontos.
Contexto – Nesta terça-feira o porta-voz da Comissão Europeia, Olivier Bailly, afirmou que a Itália deve continua a cumprir com o corte de déficit e outros compromissos que o governo anterior assumiu com a União Europeia. “Esses compromissos italianos continuam em vigor e a Comissão espera o cumprimento”, disse Bailly. Segundo ele, aderir às reformas do ex-primeiro-ministro Mario Monti e à agenda de consolidação fiscal “reforça a confiança de todos” na economia italiana.
Ele admitiu, contudo, que as políticas seguidas por Monti e aplaudidas pela Comissão Europeia não mostraram ainda os resultados esperados. “Por enquanto não temos visto alguns efeitos positivos sobre o nível da dívida e do desemprego”, disse Bailly, acrescentando que os efeitos positivos das medidas que os italianos pareceram rejeitar nas urnas virão mais tarde.
Para o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, o resultado da eleição parlamentar na Itália é uma mensagem de protesto contra as duras medidas de austeridade impostas por algumas autoridades da União Europeia. Segundo ele, o que acontece na Itália afeta toda a Europa. “Nós precisamos de um governo estável em um dos países mais importantes da UE. Essa eleição é uma mensagem. Nós precisamos de uma combinação de disciplina orçamentária e rigor fiscal com investimentos no crescimento e no emprego. Nós precisamos levar isso a sério. As pessoas estão prontas para fazer sacrifícios, mas não a qualquer custo”, comentou.
Juros em alta – A Itália captou nesta terça-feira 8,75 bilhões de euros em uma operação de venda de títulos de seis meses, com taxas de juros em considerável alta, de 1,237%, contra 0,731% registrado na operação anterior de 29 de janeiro. A demanda foi inferior a da operação anterior, equivalente a 1,44 vez a oferta contra 1,65 em janeiro. A alta dos juros significa que os consumidores estão menos confiantes com a política econômica do país e estão cobrando mais para poder emprestar dinheiro ao governo.
(Com agências EFE, Reuters e France-Presse)