HSBC suíço escondeu dinheiro suspeito de ditadores e celebridades
Fraudes, que somaram € 180,6 bilhões, transitaram em Genebra nas contas de 100 mil clientes e de 20 mil empresas offshore
O banco garante que, desde 2007, o banco “tomou passos significativos para implementar reformas e expulsar clientes que não atendiam aos padrões HSBC” e, por isso, perdeu quase 70% de seus clientes na filial suíça
Traficantes de drogas, de armas, ditadores e até famosos do mundo da música e do esporte estão entre os milhares de clientes do HSBC na Suíça que foram beneficiados das frouxas leis fiscais do país. Os dados se referem ao período de 2005 a 2007, mas foram revelados ao mundo neste fim de semana pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ na sigla em inglês), com sede em Washington. Além da sonegação fiscal, as contas estão ligadas também a lavagem de dinheiro e até financiamento de crimes internacionais.
Segundo o jornal francês Le Monde, 180,6 bilhões de euros transitaram em Genebra nessas contas na contas de 100 mil clientes e de 20 mil empresas offshore no Panamá e nas Ilhas Virgens britânicas, entre os dias 9 de novembro de 2006 e 31 de março em 2007.
Batizada de “SwissLeaks”, a revelação veio à tona após o ICIJ enviar para mais de 40 veículos de comunicação ao redor do mundo dados secretos levantados pelo técnico de informática Hervé Falciani, ex-funcionário do banco HSBC em Genebra, que estavam em posse da Justiça e órgãos fiscais de diversos países. Os documentos são apenas uma parte do que seria o sistema bancário suíço, duramente criticado por autoridades de todo o mundo por permitir a existência de contas secretas, uma espécie de “buraco negro” no sistema financeiro internacional.
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Envolvidos – Entre os nomes mencionados pela imprensa figuram o rei Mohamed VI de Marrocos e o rei Abdullah II da Jordânia, personalidades da moda como a modelo Elle McPherson e a estilista Diane von Fürstenberg, a atriz Joan Collins, o piloto de motos Valentino Rossi, o ator John Malkovich e o humorista Gad Elmaleh. Na França, é citado também Jacques Dessange, fundador de uma rede de salões de beleza, titular de uma conta na filial suíça do HSBC que chegou a ter até 1,6 milhão de euros entre 2006 e 2007, segundo os arquivos consultados. Tanto Elmaleh como Dessange pagaram multas para regularizar a situação, segundo o Le Monde.
O jornal suíço Le Temps, cita o ex-presidente e o ex-ministro haitianos Jean Claude “Baby Doc” Duvalier (que morreu no ano passado) e Frantz Merceron, respectivamente. Também está listado o ex-ministro egípcio da Indústria e Comércio Rashid Mohamed Rashid, condenado a cinco anos de prisão em junho de 2011 por abuso de bens sociais procedentes de recursos para o desenvolvimento do país.
Também foram relevados nomes como o de Gennady Timchenko, um bilionário russo associado ao presidente Vladimir Putin e que hoje é alvo de sanções da União Europeia pela guerra na Ucrânia, e Rami Makhlouf, primo e aliado do ditador sírio Bashar Assad.
Já o jornal La Repubblica afirma que sete mil italianos estão envolvidos no esquema e cita outros famosos investigados: a modelo Elle MacPherson, o ator Christian Slater, o músico Phil Collins, a cantora Tina Turner, o estilista Valentino Garavani, o empresário Flávio Briatore e o piloto de Fórmula 1 Fernando Alonso.
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Brasil – O Brasil é o quarto país com maior número de clientes no ranking das nacionalidades que mais usaram o banco e as contas secretas. No total, foram mais de 8,7 mil contas ligadas a 6,6 mil brasileiros, onde foram depositados 7 bilhões de dólares. Entre as personalidades brasileiras estava Edmond Safra. As contas registradas nesta lista existem desde os anos 1970, mas o período avaliado vai até 2006.
Pelos documentos, o que se revela é que o crime organizado sul-americano usou as contas do HSBC para lavar dinheiro da droga e não se exclui que parte das contas tinha relações com organizações criminosas.
Na semana passada, delatores do caso de corrupção na Petrobras indicaram que abriram 19 contas em nove bancos suíços para receber a propina.
Em resposta ao ICIJ, o HSBC reconhece que os controles sobre a origem do dinheiro no passado nem sempre foram corretos. Mas garante que, desde 2007, o banco “tomou passos significativos para implementar reformas e expulsar clientes que não atendiam aos padrões HSBC”. Segundo o banco, como resultado disso, a instituição na Suíça perdeu quase 70% de seus clientes desde 2007.
(Com agência France-Presse e Estadão Conteúdo)