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Gringos na Copa: muita paixão e pouco dinheiro no bolso

Turistas vieram ao Brasil com o intuito de gastar pouco e beber muito; compras, restaurantes e passeios caros ficam para a próxima — se houver uma

Por Naiara Infante Bertão e Marília Carrera
13 jul 2014, 10h24

As expectativas eram altas: hotéis lotados, aeroportos movimentados, filas em renomados restaurantes, shopping centers fervilhando, táxis sempre ocupados e pontos turísticos cheios de estrangeiros ávidos por diversão e bons serviços – e com muito dinheiro para gastar. O comércio se preparou para um mês tão próspero quanto o de dezembro, mas se deparou com um dos períodos mais calmos – e frustrantes – dos últimos tempos. A decepção com o apetite por consumo dos gringos foi quase tão grande quanto aquela enfrentada com a seleção brasileira durante sua derrota para Alemanha na fatídica semifinal de terça-feira. Os endinheirados alemães, os consumistas japoneses, os bon vivants franceses e os perdulários russos parecem ter desembarcado em outras praias que não as brasileiras. O empresário Enrico Fermi, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), arrisca descrever o perfil do turista tão aguardado pelos comerciantes – que não é nada animador: “Muitos vieram sem ingresso, sem dinheiro, querendo apenas aventura. São especialmente latino-americanos que querem participar deste momento, mas que não comem em restaurantes caros, não fazem questão de conforto e um banheiro decente para tomar banho “, diz.

Restaurantes, lojas, casas noturnas e até mesmo os hotéis tiveram movimento abaixo do esperado até mesmo na comparação com junho dos anos anteriores. Os gringos da Copa não estavam interessados na tal cerveja artesanal que faz a cabeça da classe média paulistana, ou no novo bistrô que acaba de abrir na Dias Ferreira, coração do Leblon, no Rio de Janeiro. Passeios com motoristas particulares em carros blindados para escapar de assaltos? Nem pensar. Transporte público foi a pedida. As festas badaladas da noite de São Paulo, em dias de jogos do Brasil, tinham o público de sempre: paulistano. Os gringos queriam beber cerveja vendida por ambulantes na Vila Madalena, sem cogitar pagar a consumação que os bares do bairro exigiam durante as partidas. Outros optavam pelas festas Fan Fest promovidas pela Fifa em locais de fácil acesso popular, cerveja barata e sem qualquer sofisticação. O balanço da Copa para os gringos foi positivo: amaram o Brasil (e as brasileiras). Mas as empresas, por sua vez, já começam a divulgar números mais desanimadores que o 7 a 1 de terça-feira.

O mico do setor hoteleiro é uma das maiores surpresas. Das doze cidades-sede da Copa, apenas Salvador, Porto Alegre, Cuiabá e Fortaleza tiveram aumento da taxa de ocupação na Copa em comparação à média do mesmo período do ano passado. Já Belo Horizonte, São Paulo e Recife tiveram queda ante 2013. Não só os turistas da Copa preferiram hostels, hospedarias ou casas de amigos, como os eventos corporativos que ajudavam a trazer estrangeiros ao país foram pausados durante os meses do Mundial. “O mercado corporativo antecipou-se e, no caso de São Paulo, os eventos ficaram concentrados no primeiro semestre”, disse Fermi. A distribuição das partidas entre as cidades-sede também pautou a demanda por hotéis. “Curitiba, por exemplo, recebeu apenas a Espanha entre os times grandes. E espanhóis não lotam estádios. Mexicanos, argentinos, uruguaios e americanos, sim.”

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Enquanto os turistas brasileiros reservam com meses de antecedência mesas em restaurantes estrelados quando vão a ao exterior, nem que seja apenas para postar a foto no Instagram, os gringos da Copa deixaram restaurantes renomados às traças – e não se intimidaram com o status, digamos, espartano, dos restaurantes populares oferecidos pela prefeitura. “Os restaurantes simples e desconhecidos tiveram um fluxo maior. Não faz parte da cultura do turista estrangeiro gastar muito em viagens internacionais”, diz, em tom de resignação, o empresário Percival Maricato, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP). Exemplo disso é a discrepância entre os gastos de brasileiros em viagens internacionais e turistas estrangeiros no Brasil – 25,34 bilhões de dólares contra 6,71 bilhões de dólares em 2013.

Os taxistas tampouco pouparam reclamações. Acostumados a levar turistas durante o ano, afirmaram que a Copa foi uma grande frustração. “O problema é que a prefeitura deu preferência ao transporte público. Ônibus e vans foram colocados para levar os turistas ao jogos. E comportam um número maior de pessoas do que o táxi”, explica o presidente do Sindicato dos Taxista Autônomos do Município do Rio de Janeiro, Luiz Antônio Barbosa da Silva. Não se pode dizer ainda que houve prejuízo, diz Silva, mas o aumento no número de corridas foi insignificante. Em São Paulo, que conta com uma rede maior de transporte metroviário, não foi diferente. “A Secretaria de Transportes estava muito preocupada com o movimento. Mas foi, na verdade, um fracasso total. Os taxistas não faturaram nem a metade do que eles imaginavam”, desabafa Natalício Bezerra, presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo.

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Entre as empresas aéreas, apenas a Avianca arriscou fazer um balanço do evento antes da final, neste domingo. Segundo o presidente em empresa, José Efromovich, houve redução de cerca de 15% na demanda, na comparação com o mesmo período do ano passado. “Em 20 ou 30 dias, devemos ter um número mais definido”, disse. A Gol deve divulgar um balanço no início da próxima semana.

Nem os brasileiros – O cenário poderia ter sido menos frustrante se os turistas brasileiros, gastadores inveterados, tivessem decidido viajar no período de férias escolares. Contudo, o medo do caos nas estradas e aeroportos coibiu os passeios. “O jargão ‘imagina na Copa’ foi muito forte e os brasileiros evitaram aeroportos e hotéis com medo do que pudesse acontecer”, diz Marco Ferraz, presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa). O público local também ficou acanhado em ir às compras. Com os inúmeros feriados durante o Mundial, as vendas recuaram não apenas nas cidades-sede, como em todo o país. “Em dias de jogos do Brasil, as vendas caem entre 30% a 35%. É como se fosse um feriado, mas sem o fator agregador de vendas. A atenção dos consumidores se volta para o evento e a demanda fica reprimida”, afirma Luís Augusto Ildefonso, diretor de relações institucionais da Alshop, a associação que representa os lojistas de shoppings. A expectativa dos lojistas é que, para curar a alma da frustração da derrota, os brasileiros apelem para a terapia dos gastos.

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