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Graça Foster surge como ‘a Dilma da Petrobras’

Viciada em trabalho, ríspida e obcecada por cortes de gastos, a executiva que deve assumir a presidência da maior empresa do país terá de desenvolver seu lado político

Por Ana Clara Costa e Carolina Almeida
23 jan 2012, 18h43

Nos corredores da maior empresa brasileira, uma piada lançada pela diretora de Gás e Energia, Graça Foster, assombra alguns funcionários, com certo grau de sadismo: “Meu dia tem quatro horas a mais que o de vocês”, diz a executiva constantemente, quando exige que relatórios sejam entregues até altas horas da noite. Graça, que nasceu Maria das Graças Silva e se casou com o inglês Colin Foster, dorme apenas quatro horas por noite e acorda com ânimo de quem dormiu doze. Chega à empresa diariamente entre 7 e 8 horas da manhã e jamais deixa sua sala no prédio sede da Petrobras, no centro do Rio de Janeiro, antes das 21 horas. Religiosamente leva trabalho para casa. Casada, possui dois filhos – Flávia e Colin – e uma neta, Priscila.

Se sua indicação for acatada pelo conselho de administração da Petrobras – o que deve ocorrer em fevereiro – a executiva de 58 anos será a única mulher a comandar uma das dez maiores empresas do mundo, de acordo com o ranking mais recente da revista Forbes. Graça ingressou na estatal em 1978, como estagiária – e nunca mais deixou a empresa.

Apesar dos mais de 30 anos de casa, a executiva está longe de ser uma figura popular e carismática. No ambiente de trabalho, bom humor e delicadeza não costumam caminhar no mesmo corredor que ela. “É extremamente pragmática, ríspida e faz questão de deixar claro para todos os seus subordinados que não está lá para ser amiga de ninguém, e sim para cobrar resultados”, diz um executivo que trabalhou junto a ela na BR Distribuidora, empresa da qual foi presidente entre 2006 e 2007.

A postura enérgica lhe garantiu inimizades – e inevitáveis comparações com a presidente Dilma, de quem é amiga desde 1999. “A relação entre Graça e o (José Sergio) Gabrielli é muito semelhante à que havia entre Dilma e Lula, na época em que a presidente estava na Casa Civil. Graça centraliza tudo, resolve todas as questões técnicas, deixando a ele apenas as questões políticas”, afirma um executivo da Petrobras, que preferiu manter seu nome em sigilo.

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Amizade com Dilma – Graça e Dilma se conheceram quando a presidente ainda era secretária de Energia do governo do Rio Grande do Sul e tentava resolver os entraves para a instalação do Gasoduto Bolívia-Brasil, projeto que estava sob a responsabilidade de Graça na estatal. Desde então, as duas jamais se separaram.

Com Dilma no Planalto, a carreira de Graça nas empresas ligadas à estatal deslanchou. Foi a então ministra que a indicou para a presidência da Petroquisa, subsidiária de petroquímica da estatal, ao comando da BR Distribuidora e também à atual diretoria que ocupa na Petrobras, posto alcançado em 2007, quando Dilma era presidente do conselho de administração da estatal.

Apesar de ter guardado relações sempre afáveis com a presidente, a formação técnica de Graça a qualifica para os cargos que assumiu. Formada em Engenharia Química pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com mestrado em Engenharia de Fluidos e pós-graduação em Engenharia Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, além de possuir um MBA em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ), Graça é vista como alternativa eficiente para o comando da estatal. “A escolha foi boa. Ela é uma funcionária de carreira e conhece a empresa como ninguém. Apesar das relações estreitas com a Dilma, essa indicação é um mérito”, afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e professor da UFRJ.

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Política – As similaridades com a presidente ajudam, mas também atrapalham. Sem traquejo político, ela terá de lidar com um conglomerado repleto de ineficiências, centenas de cargos de confiança e uma influência petista clara. “A maneira ríspida de trabalhar pode dificultar as relações políticas que ela precisará ter como presidente da Petrobras”, afirma um antigo executivo da estatal, que preferiu não ter seu nome revelado.

Outro desafio será o relacionamento de Graça com os sindicatos. Como bom discípulo de Lula, Gabrielli sempre prezou o contato direto com as centrais sindicais e proporcionou aumentos salariais e participação nos lucros jamais vistos por funcionários nas administrações anteriores. Já a executiva é fanática por cortes de custos. “Houve um Natal em que ela cortou as cestas de todos os funcionários porque os resultados ficaram um pouco abaixo da meta”, conta um antigo subordinado de Graça na época em que presidiu a BR Distribuidora.

Diante de tantos desafios, a executiva tem ferramentas importantes para conseguir inaugurar um novo período de eficiência na estatal. Ao longo das mais de três décadas em que está na empresa, ela fez seguidores, que replicam seu modelo de gestão baseado na pressão, na meritocracia, e focado em resultados. “Ela costuma se cercar de gente eficiente para não ter de lidar com politicagem”, conta uma fonte ligada à estatal. Graça só precisa tomar cuidado para não iniciar sua gestão reproduzindo o exemplo de Dilma em seu primeiro ano de governo, quando o espírito centralizador da presidente e os escândalos envolvendo seus ministérios paralisaram Brasília.

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