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Gol reduz a oferta, mas não a eficiência, diz CEO

Em entrevista ao site de VEJA, o diretor-presidente da companhia áerea, Paulo Kakinoff, afirma que redução do número de assentos não resultará em perda de espaço nos aeroportos, nem em diminuição de eficiência

Por Talita Fernandes
11 dez 2012, 16h46

Se 2012 não vem se mostrando favorável às companhias aéreas brasileiras, a Gol é que a menos pode comemorar. A empresa anunciou recentemente o fechamento da WebJet e a demissão de 850 funcionários – medida que se encontra suspensa pela Justiça. A decisão de por fim às atividades de uma empresa que se apresentava ao mercado como ‘low cost’ implicou críticas dos próprios funcionários e dos consumidores. Como pano de fundo para este ajuste está a própria conjuntura em que se insere a aviação civil. A lucratividade do setor tem sido ameaçada por uma conjunção de fatores, destacadamente o aumento dos preços do querosene de aviação, a alta das tarifas aeroportuárias e a apreciação do dólar. Diante disso, a saída encontrada pelas gigantes TAM e Gol é a otimização dos recursos, principalmente via redução da oferta de assentos e aumento das taxas de ocupação das aeronaves. Paulo Kakinoff, diretor-presidente da Gol, falou ao site de VEJA sobre as dificuldades enfrentadas pelo segmento, as estratégias adotadas pela companhia, o diálogo com o governo e as previsões para a aviação civil nos próximos anos. Sobre a política de redução de oferta, ele garante: a empresa não perderá espaço nos aeroportos e nem sofrerá diminuição da eficiência.

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Os consumidores reclamam que as passagens estão mais caras. A empresa alterou as tarifas?

O modelo tarifário não muda. O valor das tarifas também não mudou para alta temporada e não vai mudar para a baixa. O que acontece é que esse modelo tarifário baseia-se na premissa de que, com maior antecedência, você tem passagens mais baratas. Da mesma forma, com menor antecedência ou com o avião mais cheio, as passagens ficam mais caras. Esse mesmo modelo foi ofertado na alta temporada.

Mas com a redução da oferta, os aviões vão ficar mais cheios e os consumidores vão encontrar passagens mais caras…

Na verdade, ele vai encontrar as mesmas passagens mais caras que encontraria se os aviões estivessem mais cheios antes, como ocorre no Carnaval, como se opta por determinado destino em que a ocupação está muito alta, acima de 90% ou 95%, etc. Neste ano está acontecendo um fator que ajuda a aumentar a demanda, que é a desvalorização cambial. Isso faz com que a viagem ao exterior fique mais cara. Ainda não temos resultados consolidados, mas há uma tendência de que teremos mais pessoas viajando no mercado doméstico, o que faz com que haja aumento da demanda interna em detrimento da procura por viagens internacionais. Por isso, há menos assentos disponíveis para voos domésticos e, com certeza, eles estão naquela faixa da tarifa mais alta. Há mais assentos disponíveis para voos internacionais, com preços mais baixos.

Com menos oferta, a empresa pretende lançar o mesmo número de promoções ou esse número será reduzido?

Isso de fato é imprevisível. As promoções são muito pontuais. Geralmente elas são dedicadas a uma determinada rota cuja demanda ficou abaixo do que era previsto. É difícil fazer uma projeção. O mercado é realmente competitivo. Hoje é possível encontrar passagens no mesmo preço de antes, mas para voar depois da alta temporada, depois de março, por exemplo. Isso porque tem mais assentos disponíveis e são aviões ainda com ocupação baixa. A decepção que se dá agora (para o consumidor) na alta temporada deve-se ao fato de que os aviões enchem mais rapidamente. Estamos agora a duas semanas do Natal. Na baixa temporada, com três semanas de antecedência, é possível achar passagens mais baratas do que agora. Assim que passar a alta temporada vai acontecer a mesmíssima coisa.

Para diminuir a oferta, vocês vão deixar aeronave no chão ou vão devolvê-las para as empresas de leasing?

Não, vamos devolver todas. Os modelos B737-300 (que pertenciam à WebJet) nós vamos devolver, pois sua operação é mais ineficiente. No começo do ano, na redução de capacidade anunciada em abril, já devolvemos algumas.

Tem mais redução de aeronaves para o ano que vem?

Pode ter, mas não está planejado.

O espaço em alguns aeroportos é bastante disputado. Ante a decisão da Gol de reduzir a oferta, não é de se esperar que vocês percam os chamados slots – as autorizações para decolar e aterrissar nesses terminais?

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) monitora a eficiência e o atendimento dos slots. E não estamos diminuindo a eficiência de maneira geral. Isso acontecerá apenas em voos em regiões que não são economicamente viáveis. Essas rotas estão concentradas no Centro-Oeste, Norte e Nordeste, onde não existem aeroportos de operação restrita.

A empresa sinalizou que tem feito hedge cambial para se proteger da volatilidade do dólar, bem como acordos com a Petrobras para fixar preço do combustível. Isso já não ajuda na margem de lucro?

Fazemos hedge não especulativo – uma política com revisão mensal que busca obter o máximo de proteção, sem que isso se converta em um risco de exposição desnecessário. A atenção para o tema (câmbio) foi redobrada nos últimos 24 meses. Adicionalmente, a gente sempre discute com parceiros e fornecedores alternativas de hedge, além daquela clássica (preço fixo para o dólar). Um exemplo é essa precificação de valor fixo pela Petrobras, que vem intensificando a negociação conosco e mostrando resultados positivos.

Muitos dos custos que são alvo de reclamação das aéreas passam por algum tipo de controle ou interferência do governo. Nesse sentido, como o setor aéreo está se comunicando com o Palácio do Planalto?

A comunicação é feita através da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). Felizmente, começa a haver uma sensibilização maior com nossa indústria. Nosso setor possui uma especificidade técnica muito elevada. O que vejo é um aumento do interesse nessa interlocução. Todos os dias, sem exceção, a Abear está contato com algum dos diversos órgãos relacionados ao poder concedente (governo) que influenciam direta ou indiretamente a aviação. Vemos esse nível de interesse não só para nos receber e ouvir, mas dos próprios parlamentares que tentam abrir um espaço para esse tipo de debate e análise, como ocorre, por exemplo, com as audiências públicas.

Como a Gol vê a privatização dos aeroportos? Isso deve ajudar a operação da companhia?

A gente tem uma perspectiva positiva. A iniciativa privada possui disposição para fazer investimentos. Os aeroportos que já foram privatizados vêm apresentando às companhias aéreas propostas muito interessantes de aumento da capacidade e eficiência operacional. Isso não é só bem-vindo como é desejado para o país como um todo. A gente faz comparações de custos com operações no mercado externo – e essa é uma componente importante. O nível de eficiência da operação tem uma correlação com o custo. Mais aeroportos, com mais pistas, com agilidade no atendimento, etc, têm impacto na operação. Nós vemos o cenário com muito bons olhos.

E a questão da concorrência no setor aéreo?

A concorrência é sempre boa e principalmente do ponto de vista do passageiro e do cliente. A competição e a liberdade tarifária (em vigor desde 2002) fizeram com que as tarifas caíssem – e mais pessoas pudessem voar. Muita gente fala que existe concentração no setor aéreo brasileiro, e que não existe concorrência. Se olhar com mais cuidado, verá que todas as rotas têm disponibilidade de dois a três competidores. Esse é um modelo que existe, por exemplo, no mercado norte-americano. Lá, tem trechos em que existem de quatro a cinco empresas fazendo a mesma rota, e o mesmo acontece aqui. A concorrência é saudável e tem de existir.

Em alguns países, como nos Estados Unidos, existe concorrência entre aeroportos para atrair as companhias aéreas. Isso acontecerá no Brasil?

Na verdade, a competição entre aeroportos pode beneficiar as próprias companhias aéreas. Por isso, a gente vê com muito bons olhos a iniciativa privada assumindo essa infraestrutura e tomando medidas que visam aumentar a eficiência para, inclusive, atrair mais empresas. Porém, esse aumento da concorrência tem de ocorrer em um cenário de viabilidade econômica. Não é o que está acontecendo hoje no Brasil em função do câmbio, do combustível e das tarifas aeroportuárias. Este quadro faz com que seja imperiosa a necessidade de diminuição de custos e ampliação da eficiência. Isso significa trabalhar com aviões mais cheios. É preciso reduzir o custo da nossa operação como um todo – e a maneira de fazer isso é diminuir a oferta. Reduzindo ou racionalizando a oferta, teremos aviões mais cheios e o consumidor vai precisar comprar com mais antecedência para encontrar as mesmas tarifas que encontrava antes.

Teremos em breve grandes eventos no Brasil. No ano que vem, haverá a Copa das Confederações, por exemplo. Como conjugar a redução de oferta que hoje se verifica com essa probabilidade de aumento de demanda por causa dos eventos?

Nossos contratos permitem essa possibilidade de aumento de oferta, mas não enxergamos, com esses eventos, um grande aumento de demanda. Estamos preparados para Copa do Mundo e para a Copa das Confederações.

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