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Silvio Santos está livre de qualquer dívida. Entenda como

Em intensa negociação, empresário consegue arrancar 3,8 bilhões de reais do FGC para saldar passivo do Banco Panamericano

Por Ana Clara Costa
1 fev 2011, 00h21

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) estendeu sua linha de crédito ao Panamericano em 1,3 bilhão de reais para cobrir o restante do rombo detectado por auditores e pelo Banco Central, segundo apurou o site de VEJA. Ao todo, a dívida do banco fundado por Silvio Santos soma 3,8 bilhões de reais e será completamente coberta pelo crédito do FGC – que já havia emprestado 2,5 bilhões de reais à instituição em novembro do ano passado.

Após deixar o prédio do BTG Pactual, em São Paulo, Silvio Santos afirmou a jornalistas que havia se livrado de qualquer dívida. E, de fato, ele não mentiu. Em uma complexa engenharia financeira envolvendo os dois bancos, o FGC, a Caixa e o Banco Central, Silvio não terá de pagar nenhum real. E o banco de André Esteves dificilmente sairá da negociação desembolsando mais do que os 450 milhões de reais utilizados para comprar a participação de Silvio no banco.

Com a assinatura do contrato de venda do banco, Silvio Santos apresentará ao FGC uma espécie de titulo recebível garantindo que o BTG Pactual saldará a dívida total até o ano de 2028, a juros pré-fixados. Tal dívida, no entanto, não é de 3,8 bilhões de reais, como a lógica atestaria. Se for paga agora, será de ‘apenas’ 450 milhões de reais. Se for paga em 2028, terá o valor máximo de 3,8 bilhões de reais. “Isso significa que, se o BTG quiser saldar essa dívida já, o FGC terá de arcar com a diferença”, afirma uma fonte que acompanhou a operação.

Em contrapartida, estão sendo acertados junto ao Banco Central os termos de um acordo que obriga o BTG e a Caixa a fazerem significativos aportes financeiros periódicos para garantir a liquidez e a saúde da instituição. Como exemplo, a Caixa anunciou que, no curto prazo, irá adquirir direitos creditórios e aplicará em depósitos interfinanceiros do banco – uma forma de injetar recursos. No final do dia, todos saíram ganhando, com exceção do FGC. O BTG, que adquiriu um banco com 3,8 bilhões de reais em caixa por 450 milhões de reais; a Caixa, que não teve prejuízo algum com o rombo, a não ser a desvalorização (reversível) de suas ações; e Silvio Santos, que entregou ao mercado um banco quebrado e se livrou completamente de qualquer dívida. Já o FGC corre o risco de amargar um prejuízo de até 3,35 bilhões de reais – caso o BTG resolva saldar sua dívida o quanto antes. O que, diante do patrimônio atual de 5,6 bilhões de reais do banco de André Esteves, não seria um cenário improvável.

Bastidores – Todas as minúcias que deram origem ao contrato de ‘ganha-ganha’ para a maior parte dos envolvidos foram discutidas na sala de reuniões do BTG Pactual, ao longo dos últimos três dias. Durante todo o fim de semana, incluindo as madrugadas, André Esteves se alimentou à base de pizza e números do balanço do Panamericano – acompanhado da área jurídica do banco, dos advogados do Panamericano, de representantes da Caixa e do FGC.

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A grande questão colocada como entrave para a realização do negócio não era o valor da compra em si, como foi anunciado pela imprensa nos últimos dias. O ponto de discordância foi delimitado por Silvio, que exigiu vender o banco e, de quebra, não arcar com nenhum passivo relacionado ao rombo. Tal ultimato fez com que o BTG titubeasse em fechar o negócio, além de deixar a Caixa e o Banco Central de cabelos em pé. Mas, assim como em 2010 o empresário conseguiu arrancar do FGC os 2,5 bilhões de reais necessários para salvar o banco, desta vez não foi diferente. Apenas quando seus advogados e Esteves conseguiram chegar a um acordo, Silvio se dirigiu à sede do BTG para assinar a venda.

A canetada – Às 17h30 da segunda-feira, acompanhado do fiel escudeiro Wadico Bucchi e da filha Renata Abravanel, Silvio Santos se dirigiu ao nono andar do prédio do BTG, na esquina da avenida Faria Lima com a Juscelino Kubitschek, um dos endereços mais nobres de São Paulo. Na sala de reuniões, também foi acompanhado por seus advogados. Estavam presentes André Esteves e o novo presidente do banco, José Luiz Acar Pedro, sócio do BTG desde outubro. A diretoria do FGC, pilotada por Antonio Carlos Bueno, também se juntou ao grupo. Após cerca de 3 horas de conversas, entre goles de chá gelado, café e biscoitos, o Panamericano finalmente passou para as mãos de André Esteves. Ao assinar o contrato, Silvio utilizou o usual sarcasmo misturado ao bom humor: “Pronto. Agora já posso voltar para Orlando?”, disse.

Por volta das 21 horas, o empresário e apresentador foi acompanhado por André Esteves até o lobby do prédio, onde se despediram cordialmente antes que Silvio fosse tragado pela multidão de jornalistas e fotógrafos que esperavam, aflitos, pelos números da negociação. Como é de praxe, ele fez piada e não quis falar de valores. “Eu não sei de nada, quem sabe são meus advogados”, brincou.

Meia hora depois, André Esteves voltou ao lobby para checar se o caminho estava livre para que os três diretores do FGC pudessem descer. O banqueiro subiu novamente e escoltou o trio até o térreo. Minutos depois, já na sala fervilhante que ocupa – junto com todo o restante daquele andar do banco – e que mais parece uma redação de revista, Esteves conseguiu por fim jantar. Como nas madrugadas anteriores, pediram pizzas. E assim, como na maioria das vezes, termina a história.

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