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Fechamento do Banco Rural deve impactar bancos médios

Até março deste ano, a instituição detinha apenas apenas 0,07% dos ativos e 0,13% dos depósitos do sistema financeiro nacional

Por Talita Fernandes
2 ago 2013, 22h20

A liquidação extrajudicial do Banco Rural, que estava no epicentro do esquema do mensalão, deve ter pouco impacto no sistema financeiro do país. De acordo com economistas ouvidos pelo site de VEJA, o fechamento da instituição se deve mais a questões pontuais do que sistêmicas.

Como a credibilidade do segmento de bancos pequenos e médios já vem sendo colocada em cheque desde a crise financeira de 2008 – e agravada com as fraudes no PanAmericano e das liquidações do Cruzeiro do Sul e do banco BVA -, a queda do Rural é considerada mais uma mancha para dificultar (e encarecer) a captação de recursos por parte de alguns bancos menores. “Os clientes começam a combinar a situação decorrente do mensalão com a chegada de um período difícil para os bancos médios, de queda de rentabilidade”, explica o economista Roberto Troster, afirmando que mais uma liquidação complica a conjuntura para o segmento.

Para Troster, apesar de a imagem dos bancos menores sair (mais uma vez) chamuscada, o mercado saberá entender que o caso do Banco Rural é específico. “Trata-se de um caso muito especial. A presidente está condenada no processo. Não é um banco normal”, diz ele referindo-se à Kátia Rabello, condenada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão.

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O Banco Rural tinha problemas administrativos amplamente conhecidos, já que serviu como caixa para, pelo menos, três escândalos políticos. Contudo, sua insolvência começou a se desenhar apenas a partir de 2010. “O Banco Central só decreta liquidação quando a instituição está insolvente. É provável que o BC tenha analisado as contas e entendido isso”, diz o economista e ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas.

Bancos de médio porte, caso do Banco Rural, têm mais dificuldades para captar depósitos do que as instituições financeiras maiores, que têm atuação de varejo. Assim, estão mais expostos a situações de instabilidade do que grandes instituições, como Bradesco e Itaú. “Um banco de médio porte tem custos muito elevados para competir com um banco grande, que tem economia de escala, o que um banco médio não tem. As instituições de médio e pequeno porte têm um ônus maior porque não elas não têm a facilidade de captação para depósito à vista”, explica Freitas. Enquanto no caso dos bancos grandes, de varejo, os níveis de capital são fortalecidos pela enorme quantidade de depósitos provenientes de seus correntistas, no caso dos bancos menores, a captação depende de outros bancos.

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Sobre o impacto no mercado, Freitas explica que “sempre há algum arranhão”. Mas que o impacto deve ser muito pouco, especialmente devido ao momento de bastante liquidez no sistema financeiro. “Uma liquidação de um banco médio não vai criar uma crise sistêmica, porque os bancos estão bem capitalizados, mas sempre tem algum arranhão.” De acordo com dados do Banco Central, o Conglomerado Financeiro Rural, formado pelo Banco Rural de Investimentos S.A.; o Banco Rural Mais S.A.; o Banco Simples S.A.; e a Rural Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A, detinha apenas 0,07% dos ativos e 0,13% dos depósitos do sistema financeiro (dados de março de 2013).

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Investidores pessoa física que tenham investido em títulos de renda fixa emitidos pela instituição financeira deverão ser ressarcidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) em até 250 mil reais. A quantia é válida por CPF ou, no caso de contas conjuntas, 250 mil reais por conta.

Sem capital – Depois do escândalo que sepultou sua credibilidade já contestável, o Banco Rural tornou-se uma instituição quase moribunda, que apenas cumpria com suas obrigações. Nos últimos anos, deixou de operar com crédito consignado e crédito rural – mercado que passou a ser dominado por grandes bancos – e direcionou sua atuação para o crédito a empresas médias. Contudo, a instituição sempre enfrentou problemas para conseguir cumprir com as exigências mínimas de capital determinadas pelo Banco Central, justamente porque os escândalos dificultavam a captação de recursos junto a outras instituições financeiras no Brasil e no exterior. Entre 2011 e 2012, o Rural teve de fazer várias injeções de capital, totalizando 158 milhões de reais, como forma de assegurar que o índice de capitalização permanecesse acima do nível mínimo requerido pelo BC.

Ao longo do segundo semestre de 2012, sua classificação de risco foi rebaixada pelas agências Moody’s e Standard & Poor’s para níveis que sugeriam que banco apresentava nível de capital muito baixo. As agências afirmaram que o Rural apresentava risco elevado de não cumprir com suas obrigações financeiras em decorrência do julgamento do mensalão. “A capacidade interna de geração de receitas do Rural para reabastecer o capital tem sido limitada pelo alto custo de captação e por altos níveis de provisão para crédito de liquidação duvidosa, refletindo também o ambiente de negócios competitivo no segmento de crédito a pequenas e médias empresas, sua principal operação”, destacou o comunicado da Moody’s, à época.

Para piorar, também em 2012, o Rural teve 100 milhões de reais em valores bloqueados devido a uma derrota na Justiça do Trabalho, que considerou que houve “fraude de execução” em negócio realizado entre a instituição financeira e uma das empresas de Wagner Canhedo, dono da Vasp.

Em abril deste ano, uma assembleia geral de acionistas do banco foi convocada para, entre outras ações, alterar seu estatuto social. As alterações foram feitas em pontos que denotavam que a diretoria já se preparava para o pior. Uma das mudanças dava aos diretores poderes de solicitar ao Banco Central a intervenção da instituição. Outro capítulo do estatuto informava que, em caso de liquidação do BC, competiria à assembleia de acionistas determinar o modo de liquidação, eleger o liquidante e o Conselho Fiscal que deveria funcionar durante o período de liquidação.

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