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Falha ação do Planalto para forçar bancos a baixar ‘spread’

Dilma colocou em abril a Caixa e o BB para forçar competição e reduzir juros, mas a desaceleração da economia pôs tudo a perder

Por Da Redação
9 ago 2012, 22h53

De um lado, os bancos aumentaram as provisões para perdas com calotes e, de outro, desaceleraram as concessões de novos empréstimos. Análise da Febraban, que foi considerada uma afronta pelo governo, mostrou-se correta: “o cavalo não quis beber água”.

Números parciais dos balanços dos bancos no segundo trimestre consolidaram as suspeitas: o apoio das grandes instituições privadas à campanha do governo brasileiro para ampliar os empréstimos e reduzir os spreads – diferença entre as taxas de captação e empréstimo – ficou no plano político.

Embora publicamente apoiem a cruzada do Palácio do Planalto por juros mais baixos para sustentar o crescimento de longo prazo, gigantes como Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil mostram com os resultados de abril a junho que, na prática, prevaleceu a ‘ortodoxia’ na gestão bancária – corrente que recomenda a prudência em tempos adversos, como os de desaceleração econômica e aumento da inadimplência.

De um lado, os bancos aumentaram as provisões para perdas com calotes e, de outro, desaceleraram as concessões de novos empréstimos. Além disso, os banqueiros enfatizaram que uma redução maior dos spreads só virá com queda da inadimplência e menos encargos, como impostos e compulsórios. “Não é normal ter spreads reduzidos com inadimplência alta”, disse o presidente-executivo do Santander Brasil, Marcial Portela, ao comentar os resultados do segundo trimestre.

Em abril, ao cobrar queda de juros pelos bancos, a presidente Dilma Rousseff afirmara ser inadmissível que o Brasil, tendo um sistema financeiro sólido e lucrativo, continuasse com um dos juros mais altos do mundo. Mas os banqueiros enxergam o problema de forma diferente. “É errado acreditar que o spread esteja relacionado apenas aos lucros dos bancos”, disse recentemente o diretor de controladoria do Itaú Unibanco, Rogério Calderón. De fato, cerca de 70% do spread refere-se a outros itens que não a rentabilidade do banco.

Provisão recorde – Segundo estimativas da Thomson Reuters, as reservas dos cinco maiores bancos no país para créditos de má qualidade alcançaram a cifra recorde de 30 bilhões de reais no primeiro semestre. As grandes instituições financeiras privadas também reduziram as perspectivas de crescimento do crédito e mantiveram as margens, levando os bancos estatais a abocanhar maior fatia do mercado em junho, segundo dados do Banco Central.

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As linhas que sofreram maiores reduções nas taxas de juros vieram acompanhadas de exigências nada triviais, como a de condicionar os clientes a ter conta corrente no banco e um pacote de serviços. É o caso de programa “Bompratodos”, do Banco do Brasil. Já o Itaú Unibanco inovou com o lançamento do Itaucard 2.0 – que reduz o juro do cartão de crédito pela metade, mas cobra encargos dos clientes a partir da data da compra e não do vencimento da fatura, como o usual. “O produto, em vez de reduzir, vai aumentar a receita do Itaú”, disse o analista do Barclays, Fabio Zagatti.

Reunião com banqueiros – Num sinal contundente de que a ofensiva deflagrada em abril não surtiu os efeitos desejados, o ministro da Fazenda, Guido Mantega chamou nesta quarta-feira para uma reunião em Brasília os representantes dos maiores bancos do país para pedir maior “proatividade” no crédito, segundo relatou uma fonte com conhecimento do assunto.

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Segundo a Serasa Experian, a fadiga no endividamento fez a demanda do consumidor por crédito cair 7,4% no primeiro semestre ante igual período de 2011. Para o economista e presidente da agência de classificação de risco SR Rating, Paulo Rabello de Castro, o aumento da inadimplência diminuiu a oferta de crédito, anulando o efeito positivo da redução dos juros nessas transações. “O momento não é propício para colher os frutos dessa estratégia”, disse. Os dois maiores bancos privados do país, o Itaú e o Bradesco, já avisaram que suas operações de crédito neste ano vão crescer menos do que o previsto inicialmente.

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Alta do spread – Além disso, o spread voltou a subir no começo de julho, depois de cair por quatro meses consecutivos, revelam dados preliminares do Banco Central. Derrubar o spread foi justamente o principal objetivo declarado pelo governo, quando fez os bancos estatais saírem na frente com cortes agressivos de juros.

Febraban acerta – Embora doloroso, o quadro atual lastreia o diagnóstico feito em maio pelo economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg, quando escreveu “você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água”. A declaração do economista foi interpretada como um afronta ao governo, levando a presidente Dilma Rousseff a exigir retratação pública dos bancos.

Além de colher um resultado prático mais tímido do que o pretendido, o governo brasileiro tem sido alvo de alertas sobre o perigo de forçar demais o crédito num momento em que o mundo enfileira crises financeiras, causadas em parte justamente por financiamentos concedidos sem critério no passado.

Num deles, na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para a necessidade de melhorar a supervisão bancária e a disponibilidade de taxas de longo prazo no país. O organismo internacional viu na crescente inadimplência um sinal claro de desequilíbrio financeiro dos consumidores, que poderia se exacerbar diante de uma crise.

(com agência Reuters)

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