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BC transmite incerteza – e coloca economia em risco

Copom deve, uma vez mais, baixar a Selic nesta quarta-feira e seguir com sua estratégia de afrouxamento monetário, mesmo que os efeitos da crise ainda não tenham chegado ao Brasil

Por Ana Clara Costa
19 out 2011, 07h13

Para analistas, política de baixar os juros hoje representa uma estratégia arriscada. Se o BC não estiver certo em seu diagnóstico, terá de subir a Selic abruptamente e a credibilidade do regime de metas de inflação desaparecerá de vez

Em meados de agosto, o economista que afirmasse possuir a expectativa de que o Banco Central começaria a cortar a taxa básica de juros (Selic) seria chamado de lunático. Afinal, a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), superava desde abril o teto da meta de 6,5% no critério da variação acumulada em doze meses – e não havia sinais claros de desaceleração na alta dos preços. Contudo, o próprio Banco Central encarregou-se da maior das surpresas. Em 30 de agosto, anunciou uma queda de 0,5 ponto porcentual na Selic. Desde então, prever os passos da autoridade monetária no governo Dilma, que já era tarefa complicada, tornou-se quase impossível. Tanto que, dentre 26 instituições financeiras consultadas pela agência Reuters nesta semana, há seis que projetam uma queda da taxa de juros superior a 0,5 ponto porcentual na reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) do BC, que se realiza nesta quarta-feira.

A confusão nas análises econômicas tem razão de ser. A política adotada pelo BC em 2011 inaugurou um procedimento nunca antes testado no regime de metas: aquele em que um movimento de alta progressiva da Selic é seguido por uma queda brusca, sem que tivesse passado por um período de estabilidade da taxa. Um súbito afrouxamento da política monetária (queda dos juros) seria compreendido se o mundo estivesse passando por uma situação de colapso semelhante à de 2008, quando houve a quebra do banco norte-americano Lehmann Brothers e os mercados “derreteram”. Com a desconfiança generalizada que se instalou entre as instituições financeiras, as linhas de crédito secaram em todo mundo. Trilhões de dólares em aplicações nos mercados viraram pó da noite para o dia e boa parte da riqueza que fazia a economia mundial girar desapareceu. À época, a situação exigiu uma atuação mais incisiva dos BCs em todo o globo para impedir a iminente contração econômica. No entanto, afirmam os economistas, não é isso que ocorre em 2011; ao menos não é o que, por ora, se percebe.

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Risco europeu – A situação europeia é crítica, principalmente pelo alto risco de contaminação que a Grécia oferece a países e bancos da zona do euro – podendo resultar em um efeito cascata que levaria todo o bloco a um cenário recessivo. No entanto, ainda não há clareza sobre quais são os efeitos que o Brasil poderá sentir caso a crise da dívida da Europa transforme-se em uma crise bancária que venha afetar economias fora da união monetária. O grande temor para o país é que a China pise no freio e reduza as importações de produtos nacionais. Quanto a isso, tampouco há indicadores muito positivos. O Produto Interno Bruto (PIB) chinês cresceu 9,1% no terceiro trimestre – o menor avanço desde 2009.

A economia brasileira, por sua vez, mostra leves sinais de desaceleração na atividade industrial – a produção caiu em agosto 0,2% em relação a julho. Para todos os demais indicadores, porém, o cenário ainda é de crescimento – sobretudo para a inflação. A taxa de desemprego manteve-se em 6% em agosto, número muito próximo do plano emprego; o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continua se acelerando e terminou setembro com alta acumulada de 7,3% em doze meses, muito acima da meta de 6,5% para 2011; e o consumo das famílias teve alta de 5,5% no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2010.

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Erro do passado – Segundo o economista-sênior do banco Santander, Cristiano Souza, a atitude do BC só pode ser entendida se interpretada como uma precaução em relação a males futuros, e não a um fato consumado. “Há uma ideia de que o BC agiu muito tarde para reverter a contração econômica durante a crise de 2008. Com isso, o PIB do ano seguinte foi muito castigado e passou de 5% em 2008 para retração de 0,2% em 2009. Agora, a mensagem que o BC passa é a de que quer se antecipar ao que está por vir”, afirma o economista.

O mercado, ainda que a contragosto, já assimilou a tendência de queda, mas não quer mais se surpreender. “Seria muito precipitado se houvesse corte superior a 0,5 ponto porcentual”, afirma o ex-presidente do BC, Carlos Thadeu de Freitas Lopes.

Risco elevado – O problema detectado pelos analistas ouvidos pelo site de VEJA é prever até que ponto essa medida de “cautela” e “precaução” poderá castigar a economia do país ao criar as condições para um descontrole da inflação. Na avaliação do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, se o diagnóstico do BC em relação à economia global não se mostrar acertado, o cenário da economia poderá mudar radicalmente. “Se ele falhar, terá de reconhecer isso na prática, tirando o pé do acelerador e até mesmo, eventualmente, voltando a aumentar a taxa de juros. Num quadro desses, se o BC fraquejar e não agir, ficará claro que o regime de metas de inflação foi abandonado”, afirmou Fraga em entrevista a VEJA desta semana.

Diante de tantas incertezas e um cenário cheio de análises desconexas, a única alternativa é aguardar quanto será a queda da Selic – e torcer para que o período de reviravoltas súbitas e inexplicáveis na condução da política monetária tenha chegado ao fim.

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