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Em momento dramático, Europa sofre com a falta de estadistas

Sem líderes com pulso firme, região pena para administrar a falta de confiança do mercado. Desentendimentos entre governantes agravam essa deficiência

Por Naiara Infante Bertão
17 jun 2012, 12h39

Na década de 1980, Margaret Thatcher, então primeira-ministra do Reino Unido, já dizia que a missão de um político não é agradar a todos. Conhecida como “a dama de ferro” por seu modo impositivo e pouco flexível de agir, ela conseguiu reerguer seu país que, na época, atravessava grave crise econômica. Para tanto, tomou medidas extremamente impopulares, como o fim do salário mínimo, o fechamento de minas de carvão improdutivas e a privatização de estatais. Suas ações, enquanto não se traduziam em resultados visíveis para a economia, ganharam o repúdio da população. Enfrentou com altivez demoradas greves, violentas manifestações sindicais e elevada impopularidade. A liderança dela, contudo, fez toda a diferença. O Produto Interno Bruto (PIB) britânico deu um salto de 30% durante sua gestão, de 1979 a 1990.

Passadas três décadas, a Europa tem dado um exemplo bem diferente. Segundo especialistas ouvidos pelo site de VEJA, o que se vê hoje no continente é uma escassez de lideranças como Thatcher, que tomem medidas firmes e tempestivas, ainda que impopulares, para combater a crise fiscal e estimular a combalida economia regional (veja infográfico dos líderes europeus). Essa opção pelo “remédio amargo” teria de ser tomada, dizem os analistas, ainda que com o sacrifício da própria imagem perante o eleitorado. A atuação errática dos líderes, que têm a chanceler alemã Angela Merkel à frente, mais atrapalha que ajuda no processo de recuperação da Europa.

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Falta ousadia – Para Leonardo Trevisan, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o velho continente passa não só por turbulências econômicas neste momento, mas também por uma “crise de estadistas” (veja infográfico dos líderes europeus). Ele critica o fato de as lideranças atuais darem sinais de que temem tomar decisões muito ousadas, principalmente se forem impopulares. “Existe muito marketing intelectual e poucos líderes com potencial para adotar ações firmes. Alguns governantes teriam de tomar medidas mais duras. Outros teriam de ousar serem mais flexíveis”, disse. “O problema é que não há cacife político para suportar pressões. Muitos estão excessivamente preocupados com a próxima eleição”, acrescentou.

Desconfiança – Para ele, essa deficiência da Europa tem impacto direto na gestão da crise, uma vez que a falta de atitude e credibilidade dos líderes acaba afetando a confiança dos mercados e agrava a já difícil situação econômica local. “A questão técnica, econômica, da qual os países europeus sofrem não pode ser amenizada com política. Contudo, a credibilidade do líder, os acordos entre os países e a percepção de alinhamento entre eles ajudam a conter o nervosismo generalizado dos investidores e a acalmar os cidadãos”, explica o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Samy Dana.

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Ele acredita que hoje o maior problema é a falta de entendimento entre as principais economias da zona do euro: Alemanha e França. “São países com economias e culturas diferentes e a discussão em torno da saída da Grécia só piora a credibilidade do bloco do euro”, afirma.

Fora do euro – Nem mesmo o Reino Unido – tradicional celeiro de grandes líderes europeus, como a própria Thatcher e Winston Churchill, que foi primeiro-ministro durante e após a Segunda Guerra Mundial – fica de fora desta crise de estadistas. O economista Silvio Campos, da Tendências Consultoria, lembra que, por ora, o primeiro-ministro David Cameron está se saindo bem. Seus problemas são relativamente menores que de seus pares da eurozona simplesmente porque os britânicos não adotam a moeda comum, o que dá ao país maior flexibilidade para fazer política monetária. Por outro lado, a situação de Cameron pode piorar se a Inglaterra não sair da recessão em que entrou no primeiro trimestre. “Ele passa uma boa impressão interna, mas pode ser questionado se o país não conseguir recuperar”, destaca.

Sua compatriota Thatcher, em mais um momento marcante de sua liderança, opôs-se a grandes líderes europeus de sua época justamente porque não acreditava que a zona do euro seria um projeto possível. Ela afirmava que a união falharia ao juntar em um mesmo ambiente monetário países com níveis de produtividade muito distintos, sem contar as diferenças culturais marcantes, como a forma que encaravam o valor do trabalho. “A moeda única europeia está prestes a falhar, economicamente, politicamente, e ainda socialmente”, disse ao Parlamento no final dos anos 1980. A palavra da primeira-ministra hoje soam premonitórias. Caberá à líder da maior economia do bloco, a chanceler Angela Merkel, provar se tem um pulso semelhante, capaz de conduzir líderes tão vacilantes a uma solução para a crise.

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