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Empreendedor vive bom momento para investir em inovação

Tirar ideias do papel ainda é um desafio no Brasil, mas o cenário nunca foi tão promissor para as PME’s; distância entre academia e mercado, porém, ainda é um obstáculo

Por Raquel Grisotto
16 out 2012, 07h40

Formado em química, com mestrado e doutorado dedicados ao estudo dos polímeros -macromoléculas, muito comuns na indústria do plástico, formadas pela repetição de pequenas e simples unidades químicas -, o carioca Fabio Barcia, de 40 anos, passou boa parte da vida acadêmica fazendo experimentos. Durante esse período, nunca abandonou o sonho de um dia usar seu conhecimento a favor da indústria. Em suas pesquisas de modificação de resinas epóxi, Barcia conseguiu desenvolver um superadesivo capaz de suportar as altas temperaturas das caldeiras siderúrgicas e resistir às condições adversas do fundo do mar. “Tirar minha invenção do laboratório foi uma enorme conquista”, diz Barcia. Hoje, ele é dono da Polinova, empresa especializada em revestimentos e adesivos de alta tecnologia que atende clientes como Gerdau, Votorantim e Petrobras. O faturamento previsto para este ano é de 400 000 reais, mais que o dobro de 2011.

Fábio Barcia, diretor técnico da empresa Polinova
Fábio Barcia, diretor técnico da empresa Polinova (VEJA)

Para ir além dos laboratórios da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde seu negócio ficou incubado por vários anos, o empresário recebeu em 2010 um aporte de 1,5 milhão de reais do Criatec – fundo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que investe em empresas inovadoras em estágio inicial. “Agora, ninguém me segura”, comemora. “Sinto o maior orgulho de ter construído um negócio a partir de algo que criei.”

Histórias como a da Polinova são cada vez mais comuns. O Brasil ainda não pode ser considerado um terreno fértil para inovação, encontrando-se distante da realidade dos países desenvolvidos e até de um grupo de emergentes, como a China. Contudo, nunca foi tão favorável como agora a conjunção de fatores para empreendedores que querem desenvolver produtos e serviços. Eis alguns: aumento da demanda por soluções inovadoras, acesso mais barato a novas tecnologias e recursos em maior volume.

Avanços – O próprio desenvolvimento econômico abre espaço a quem planejar inovar. “À medida que o país ganha relevância mundial e o consumo interno cresce, é preciso desenvolver novas soluções para diferentes áreas da economia”, diz Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). As oportunidades para pequenos e médios empresários venderem suas soluções estão, sobretudo, nos setores de agronegócio, saúde humana e animal, logística, petróleo e gás e finanças (softwares que ajudem a aprimorar as análises de risco de operações de crédito).

O interesse de grandes empresas por serviços inéditos é tamanho que a americana PepsiCo, por exemplo, acabou de lançar um programa para propesctar projetos entre empreendedores no país. “Pequenas empresas têm mais dinamismo para criar coisas novas e são fundamentais para que possamos enfrentar um mercado em constante transformação”, diz Camila Maranezzi, gerente de mídia e relações com consumidores da PepsiCo.

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Há também mais dinheiro disponível. No plano Brasil Maior, o governo reforçou suas promessas de apoiar projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D), anunciando crédito para compra de máquinas e equipamentos. Há também novas linhas para PME’s com foco em inovação com juros subsidiados e prazo de pagamento estendido. A essas ações somam-se as linhas de crédito e fundos que já operavam no país com dinheiro público e também o aumento das operações de fundos de capital de risco com foco em negócios emergentes.

Chamados fundos de capital ‘semente’, ou seed, do original, em inglês, esses fundos aportam recursos na empresa durante seu estágio inicial em troca de uma participação acionária – e ajudam a sustentar as pesquisas enquanto o produto não chega ao mercado. “Muitas vezes, apostamos apenas na ideia do empreendedor”, afirma Robert Binder, da Antera, gestora especializada em operações de capital semente. “Até o início da década, praticamente não havia fundos com esse perfil no Brasil, somente operações de private equity, que tem como foco empresas maiores”, explica Binder, que é também coordenador do comitê de empreendedorismo da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap).

Do ponto de vista legal, também houve avanço na última década, principalmente com a sanção da Lei de Inovação Tecnológica (nº 10 973/2004) e da Lei do Bem (nº 11 196/2005). Contudo, os especialistas alertam para o fato de a maior parte dos benefícios não ser eficiente para os empresários de pequeno porte – caso da possibilidade de renúncia fiscal prevista na Lei do Bem para quem investe em pesquisa e desenvolvimento. “Os negócios emergentes, em sua maioria, são adeptos do Simples e não conseguem aproveitar outros tipos de benefícios fiscais”, explica Santos, do Sebrae.

Em 2011, o total de recursos destinados à pesquisa e desenvolvimento alcançou 1,2% do PIB, ou algo próximo a 48 bilhões de reais. A meta é que, em 2014, o montante chegue a 1,8% do PIB, segundo estimativa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). É um porcentual parecido com o de nações com alto grau de inovação. Só que, diferentemente do que acontece nesses países, a metade do dinheiro aqui vem do governo. “Ampliar a participação da iniciativa privada é de extrema importância para o avanço da inovação no país”, diz José Hernani Filho, sócio da Pieracciani, consultoria especializada no segmento. “Do contrário, os recursos ficam presos nas universidades, com menos chances de se transformar em negócios capazes de gerar riqueza.”

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Gargalo – Atualmente, 70% dos pesquisadores do país estão na academia e apenas 30% na iniciativa privada, segundo o MCTI. Nos países desenvolvidos, a proporção é inversa. Apoiar pesquisas nas universidades, por si só, não é um problema. Mas um gargalo para a inovação pode surgir quando a distância entre academia e mercado torna-se muito grande – como acontece no Brasil. Para ter acesso a algumas linhas de fomento à pesquisa no país, o interessado precisa necessariamente ter vínculo com uma universidade. Além disso, dizem especialistas, muitos editais são desenhados de maneira a exigir do bolsista apenas produção acadêmica, como artigos científicos. “Em geral, as métricas estão erradas porque incentivam apenas a ciência pura e não a aplicada”, afirma Binder, da Abvcap.

O resultado disso pode ser percebido, entre outras coisas, no baixo número de patentes internacionais conquistadas por brasileiros. Um levantamento recente do escritório Montaury Pimenta, Machado & Vieira de Mello, que atua na área de propriedade intelectual, mostrou que, segundo estatísticas da Organização Mundial de Propriedade Intelecutal (Ompi), o total de patentes depositadas no exterior por brasileiros representou apenas 0,3% do total em 2011. A participação da China, por exemplo, chega a 7%.

“O maior desafio tem sido aproximar universidade e iniciativa privada e nós sabemos disso”, diz Álvaro Prata, secretário nacional de inovação do MCTI. “Para transformar invenção em inovação, o papel da indústria é muito importante.”

Uma das ações para tentar superar esse gargalo tem sido fomentar o número de incubadoras e parques tecnólogicos ligados às universidades. Nesses locais, empreendedores têm acesso à infraestrutura e ao conhecimento gerados na academia, ao passo que os pesquisadores ganham orientações sobre realidade de mercado e como estruturar um negócio. É uma troca importante, mas ainda pequena diante dos desafios de colocar o país, definitivamente, no caminho da inovação.

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