Em Davos, Brasil é menos Brics e mais América Latina
Agenda de autoridades brasileiras envolve debates sobre a economia regional e menos protagonismo no âmbito dos emergentes
O Fórum Econômico Mundial terá início na noite desta terça-feira em Davos, na Suíça, e trará ao centro do debate não só a questão da desigualdade, mas também da cooperação entre os países para o combate ao terrorismo. Cerca de 2.500 participantes já estão reunidos na estação de esqui para dar o pontapé inicial no evento, que contará com a presença de chefes de estado como Angela Merkel, chanceler alemã, François Hollande, presidente francês, e John Kerry, secretário de Estado dos Estados Unidos. A agenda de Davos, que estava em grande parte voltada para discussões sobre como reduzir a desigualdade e o que está por trás da crise do petróleo, agora tratará com igual prioridade os efeitos do terrorismo, depois que um grupo da Al Qaeda matou dezessete pessoas em Paris há menos de duas semanas, sendo dez jornalistas e cartunistas da revista Charlie Hebdo.
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Diante de uma agenda subitamente voltada para a política externa, a participação brasileira se mostra mais alinhada com a agenda regional dos países latino-americanos. O programa do evento prevê a participação do ministro Joaquim Levy e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, num debate sobre os desafios econômicos do continente, ao lado de autoridades da Colômbia e do México. O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, Marcelo Néri, participará de outra discussão sobre o contexto econômico latino-americano, ao lado do presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal. No debate sobre os Brics, participarão representantes da China, da Índia e da África do Sul. A Rússia, que enfrenta uma grave crise econômica e de política externa, depois que patrocinou os conflitos de separatistas ucranianos, não está envolvida na agenda dos emergentes. O país mandou membros de segundo escalão do governo a Davos.
A presidente Dilma Rousseff havia desistido poucos dias antes de comparecer ao evento. Dilma preferiu estar presente na posse no presidente boliviano reeleito, Evo Morales, e acompanhar de perto as eleições para a presidência da Câmara dos Deputados. Fontes ouvidas pelo site de VEJA relatam que a presidente nem mesmo se deu ao trabalho de cancelar oficialmente a ida a Davos, deixando à imprensa a tarefa de informar sua ausência por meio de reportagens na semana passada.
Joaquim Levy chegará a Davos na noite de terça com algumas histórias para contar a investidores. Com menos de trinta dias no cargo, já mexeu nas regras dos benefícios trabalhistas, ajudou a contingenciar uma parte do orçamento e anunciou aumento de impostos e também a elevação do preço da gasolina. Pretende ainda apertar as regras tributárias para trabalhadores pessoa jurídica.
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O objetivo é angariar recursos para que o Brasil possa fechar suas contas em 2015 no azul, sem contabilidade criativa. A expectativa da visita de Levy em Davos é a realização de reuniões com a maior quantidade possível de autoridades e grandes expoentes da economia mundial para tentar convencê-los de que o Brasil deve recuperar a trajetória de crescimento ainda em 2015.