Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Dívida alta agrava crise das elétricas

Para especialistas, os números ainda não representam um problema de liquidez no setor, mas refletem como a vida das companhias será apertada

Por Da Redação
25 nov 2012, 11h01

O elevado endividamento das empresas de energia elétrica é um importante indicador de como o setor perderá capacidade de investimentos com a renovação das concessões. De acordo com dados da Economática, a dívida das seis principais companhias com vencimentos entre 2015 e 2017, e que têm ações negociadas em Bolsa, soma 77,2 bilhões de reais ante uma geração de caixa de 23,1 bilhões de reais – valor que sofrerá forte redução com as novas tarifas propostas pelo governo federal.

Na avaliação de especialistas, os números ainda não representam um problema de liquidez no setor, mas refletem como a vida das companhias será apertada daqui pra frente, especialmente para o Grupo Eletrobras – cujas ações caíram 52,94% neste mês. Quase dois terços das dívidas totais pertencem à estatal, que está presente em projetos bilionários, como as hidrelétricas de Belo Monte, Santo Antônio e Teles Pires.

A geração de caixa do grupo hoje está na casa de 16,6 bilhões de reais, mas a estatal já anunciou que terá uma queda drástica de receitas de 9,6 bilhões de reais com a renovação das concessões. Segundo a agência de classificação de risco Fitch, que reduziu a nota da estatal para negativa, as medidas do governo devem pressionar a geração de caixa e ter severas implicações para a capacidade de investimentos dos participantes do setor, em especial para a Eletrobrás.

O analista do Itaú BBA, Marcos Severine, acredita que a empresa precisará de um aporte de recursos do Tesouro entre 15 bilhões de reais e 20 bilhões de reais para honrar compromissos futuros. Mas, na avaliação dele, não adianta mais ficar discutindo a MP 579 já que a empresa anunciou que vai aderir ao programa de renovação das concessões. “Agora é preciso saber que tipo de ações a estatal vai adotar para evitar uma destruição maior de valor da empresa”, avalia Severine.

Segundo ele, o mercado quer saber se a Eletrobras vai adotar regras mais rígidas de gestão, redução de despesa e qual o destino que vai dar para as distribuidoras do Grupo. “Com a venda dessas concessionárias, por exemplo, o caixa da estatal poderá ter um alívio de 1,5 bilhão de reais. Isso pode ser algo bastante positivo no atual momento.” Pelos cálculos dele, as receitas da Eletrobras vão despencar 70% com a renovação das concessões.

Leia também:

Eletrobras perde um terço de seu valor em três dias

Eletrobras vale em bolsa só 10% de seu patrimônio

Elétricas já somam R$ 35,29 bilhões em perdas na bolsa

Mantega desafia empresas a apontar ilegalidade na MP 579

Na avaliação da Fitch Rating, a nota das empresas poderá ser rebaixada em vários graus se as companhias aceitarem a proposta do governo, “sem usar parte dos recursos do pagamento recebido para fortalecer suas estruturas de capital, a fim de compensar o precipitado declínio de sua capacidade de geração de fluxo de caixa”.

Continua após a publicidade

A preocupação tem fundamento. Segundo os dados da Economática, o índice Ebit/dívida, que mede a capacidade das companhias de pagarem os juros da dívida, é de apenas 7, ou seja, a empresa gera apenas 7 reais de lucro para cada 100 reais de dívida. “Esse índice é péssimo”, destaca o gerente de relacionamento institucional da Economática, Einar Rivero, responsável pelo levantamento.

Considerando que a taxa básica de juros está em 7,25% ao ano, qualquer redução no caixa poderia deixar a empresa em situação delicada. O índice da estatal é o pior entre as demais companhias. O indicador da Taesa, empresa de transmissão da Cemig, também não é confortável. Está em 8,4, segundo a Economática. Cesp, Cteep, Copel e Cemig têm números bem mais satisfatórios: 30,1; 21,4; 17,9 e 14,9, respectivamente.

Riscos – Na avaliação do diretor de Project Finance do HSBC, Sergio Monaro, o principal risco da MP 579 é a sinalização que o governo passa para os investidores. A medida, avalia ele, traz uma série de incertezas regulatórias em relação ao setor elétrico que pode resultar em aumento de custo da energia. Um investidor que antes aceitava entrar num empreendimento com uma taxa de retorno menor, agora vai querer um pouco mais para compensar o risco, analisa o executivo. Na prática, isso significa energia mais cara, diz.

Desde a publicação da MP 579, os investidores estão numa campanha pesada para tentar mudar as bases do plano do governo. Eles não concordam com a queda brusca de receitas das usinas e com a perda de valor das empresas. Alguns ameaçam entrar na Justiça para evitar prejuízos. Mas a presidente Dilma Rousseff não tem demonstrado disposição para fazer qualquer alteração na MP.

Na semana passada, em entrevista ao Estado, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, disse que mesmo que algumas empresas decidam não renovar as concessões, o governo vai garantir ao consumidor a queda média de 20% no valor das tarifas. “Nosso esforço é manter os 20% de redução. Há outros mecanismos, como encargos e impostos, que estamos estudando.”

Continua após a publicidade

(com Estadão Conteúdo)

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.