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Crise de energia pode reduzir expansão do PIB em 2013

Para especialistas, os investimentos dos empresários e a produção industrial devem ser afetados caso haja contenção de consumo de energia

Por Da Redação
9 jan 2013, 10h37

A possibilidade de uma crise no setor energético pode frustrar de novo as expectativas em torno da recuperação econômica do país e levar o Produto Interno Bruto (PIB) de 2013 a um crescimento menor que 3%. Segundo economistas, o risco de um racionamento afeta a confiança dos empresários e pode atrapalhar ainda mais os investimentos e a produção, que patinaram no ano passado.

José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, disse que não tem dúvidas de que a questão da energia “vai afetar investimentos e o nível de atividade neste ano”. Hoje, a previsão dele para o crescimento do Brasil é de 2,7%, mas pode cair para 2,5% dependendo da extensão do problema elétrico.

A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências, afirma que é razoável avaliar se as térmicas vão funcionar durante todo o ano, o que pode diminuir investimentos e a produção industrial, num contexto já de muita incerteza de recuperação econômica do país no curto prazo. “Assim, é possível que o PIB cresça menos do que 3% neste ano”, disse. Em sua opinião, o governo pode retomar com doses vigorosas medidas fiscais para estimular os investimentos e a produção industrial, com o objetivo de elevar o PIB.

Para o codiretor de Pesquisas para a América Latina do banco Barclays, Marcelo Salomon, o risco de racionamento pode levar a uma redução não só dos investimentos diretos no país, como também dos relacionados a portfólio de ações e renda fixa. “O investidor pode resolver aplicar seus recursos no México, por exemplo, onde as perspectivas econômicas no geral são melhores no médio prazo.”

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Mas, para analistas do banco americano JP Morgan, o risco de um racionamento de energia no Brasil como ocorrido em 2011 é improvável. Segundo Gabriel Salas e Pedro Manfredini, em relatório enviado a clientes nesta quarta-feira, a chance de racionamento de energia permanece inferior a 10%, embora a situação atual de chuvas seja similar à seca observada na temporada de 2000/2001.

A presidente Dilma Rousseff se reúne nesta quarta-feira à tarde com a cúpula do setor para discutir os níveis dos reservatórios. O governo, porém, continua negando o risco de racionamento. Na terça-feira à noite, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, disse que o Brasil ainda tem disponíveis no curto prazo mais mil megawatts de capacidade instalada em térmicas que podem ser acionadas em caso de emergência, e descartou que a possibilidade de racionamento, mesmo “branco” – redução de consumo programada da indústria mediante compensação – esteja na mesa do governo.

Inadimplência – A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) previu ainda que a manutenção das termoelétricas ligadas poderá levar a um problema de inadimplência no setor. Isso, segundo o presidente da entidade, Nelson Fonseca, porque o dinheiro adicional gasto para mantê-las (cerca de 2 bilhões de reais desde outubro, de acordo com a Abradee), acaba saindo do caixa das distribuidoras, que pagam a conta à vista e só repassam para os consumidores na data do reajuste de cada empresa.

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“As concessionárias desembolsam o valor no ato e recebem em 12 parcelas mensais. Isso cria um hiato grave para as empresas”, diz o executivo, lembrando que algumas distribuidoras estão pagando os custos agora e só terão reajuste em outubro e novembro.

Pelas contas de Fonseca, os gastos com as termoelétricas representam cerca de 50% do Ebtida (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) das distribuidoras e, na atual situação dos reservatórios, o país não pode abrir mão das térmicas. “Por isso, temos de encontrar uma solução, um acordo geral para evitar uma inadimplência setorial.”

Fontes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) afirmam que o assunto já começou a ser discutido e poderá entrar na pauta das reuniões de diretoria. Uma ideia seria criar um mecanismo que permita o repasse mensal dos gastos para a tarifa do consumidor. Hoje os valores são acumulados e transferidos para a conta de luz de uma única vez – a cada mês de geração térmica, o impacto na tarifa é de 1%. O que pode reduzir esse porcentual é a retirada de alguns contratos do Grupo Bertin, de usinas que não ficaram prontas dentro do cronograma.

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Petrobras – O acionamento das térmicas também tem afetado a Petrobras. A companhia precisa comprar no mercado superaquecido gás natural liquefeito (GNL) para abastecer as usinas termoelétricas. No cálculo da consultoria Gas Energy, o prejuízo é de cerca de 240 milhões de reais por mês. Somado ao prejuízo da companhia com a importação de diesel e gasolina, a Petrobras tem perdido 1,12 bilhão dólares por mês com a importação de combustíveis a preços mais altos do que os de revenda. A estatal refuta o cálculo da consultoria sobre o gás, mas não revela quanto perde.

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Transmissão – Como se não bastasse o cenário de redução do nível de reservatórios, ligamento de térmicas mais caras e risco de racionamento, o atraso na construção de linhas de transmissão também contribui para o complicado cenário do setor elétrico do Brasil. A Hidrelétrica Santo Antônio, em Porto Velho (RO), por exemplo, encerrou 2012 com 9 das 27 turbinas funcionando, mas sem autorização para a entrada em operação da linha que vai levar a energia gerada na usina para o Sistema Interligado Nacional. Desse modo, o mercado deixa de receber 644 megawatts (MW) de eletricidade, o suficiente para abastecer cerca de 3 milhões de residências.

Atualmente, 57% dos empreendimentos de transmissão estão com atraso no cronograma. São 238 linhas e subestações com problemas ambientais e outros questionamentos. A assessoria de Santo Antônio informou que até a entrega do Linhão do Madeira, que conectará definitivamente a usina ao sistema nacional, a energia está sendo transmitida por meio da Subestação Coletora de Porto Velho, que garante a conexão da usina ao Sistema Elétrico Regional, alcançando os Estados de Rondônia e Acre.

A linha de transmissão prevista para Santo Antonio e Jirau terá 2,4 mil quilômetros, e ligará Porto Velho a Araraquara, em São Paulo. De acordo com informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Licença de Operação deveria ter sido dada até setembro de 2012. Quanto às estruturas, somente 73% estão concluídas. O início da operação comercial, previsto para abril de 2012, já está quase com um ano de atraso.

(com Estadão Conteúdo e agência Reuters)

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