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Criação de empregos de 2012 é a pior dos últimos 3 anos

Governo faz investida protecionista para garantir criação de empregos, mas recebe em troca número decepcionante do Caged

Por Naiara Infante Bertão
25 jan 2013, 14h15

A presidente Dilma Rousseff e sua equipe econômica bem que tentaram alavancar a economia brasileira e o emprego em 2012, mas não conseguiram ter sucesso em nenhum dos casos. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgados nesta sexta-feira mostram que o saldo líquido (diferença entre criação de vagas e demissão) de empregos no ano passado foi de 1,302 milhão – queda de 33,05% em relação a 2011, quando foram criados 1,944 milhão de empregos. Os números constam no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O resultado de criação de empregos é o menor desde 2009, ano de forte impacto da crise mundial, quando foram criadas 1,296 milhão de vagas líquidas.

O resultado é pior do que esperavam os analistas consultados e mostra, novamente, o setor de serviços como o grande motor da criação de empregos. De acordo com o Caged, 666.160 vagas líquidas foram abertas no setor de serviços, enquanto a indústria empregou apenas 86.406 postos. O comércio e a construção civil foram responsáveis por 372.368 e 149.290 vagas, respectivamente. E o setor de extrativismo mineral e agricultura aumentaram em 10.928 e 4.976 seus funcionários, enquanto a administração pública foi a que menos contratou – apenas 1.491 pessoas.

Em dezembro, o saldo líquido ficou negativo em 496.944, o pior resultado para o mês desde 2008 – a previsão da equipe econômica do Bradesco era de 403.000 demissões. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, houve recuo de 17,86%. O economista Fábio Romão, da consultoria LCA, explica que dezembro é um mês tipicamente ruim para o saldo de empregos. Trata-se do período em que os funcionários temporários deixam os postos, as pessoas se aposentam ou ainda decidem deixar o emprego em que estão. A desaceleração econômica, neste caso, também é um agravante. O economista acredita que houve maior retenção de funcionários por parte das empresas e, com isso, necessidade de menos contratações no ano. “Os empresários estão esperando que 2013 seja melhor e, portanto precisarão de mão de obra já familiarizada com o trabalho para aumentar a produtividade”, disse. Isso significa que, não fosse pela expectativa do empresariado de retomada do crescimento, o resultado poderia ter sido pior.

Discurso furado – O emprego foi usado em muitas ocasiões pelo governo como explicação para decisões arbitrárias – sobretudo as que envolviam o protecionismo. No decorrer de 2012, o Palácio do Planalto foi autor de diversos atos controversos, alegando que seriam bons para o mercado de trabalho, em especial para o emprego industrial: houve anúncios e prorrogações de benefícios fiscais e tributários; mudanças na regulação e na política de investimentos de setores importantes da indústria; ampliação das exigências de conteúdo nacional; e inúmeras medidas de estímulo ao crédito e ao consumo.

Tantas mudanças regulatórias e situações instáveis em alguns setores deixaram o empresariado acuado – em vez de despertar seu “espírito animal”, como diz o jargão econômico. Com isso, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador que mede o volume de investimento na economia doméstica, mostrou a quinta redução trimestral consecutiva entre julho e setembro. O Banco Central prevê ainda um declínio de 3,5% nos investimentos para o quarto trimestre, segundo o Relatório Trimestral de Inflação, divulgado em dezembro. “O investimento do empresariado não vai reagir praticamente nada em 2013. Só em 2014, com a execução dos planos de concessões de infraestrutura. Mesmo assim, será de uma forma tímida, pois, da maneira como os planos foram montados, há muita interferência do governo”, afirma o economista da consultoria MB Associados, Sérgio Vale.

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Como resultado de tantas políticas que ainda não se mostraram eficazes, o investidor estrangeiro também olhou com cautela para o mercado brasileiro ao longo do ano passado. Segundo dados do Banco Central divulgados na quarta-feira, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) recuou 2% em 2012, na comparação com o ano anterior. Foi a primeira queda do IED desde 2009, momento em que o fluxo de capital estrangeiro foi fortemente afetado pela crise financeira nos Estados Unidos. Já o fluxo de dólares recuou 74,3% no ano passado, como resultado das inúmeras tentativas do governo de impedir a entrada do chamado ‘capital especulativo’ no mercado financeiro nacional.

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Ainda que a taxa de desemprego esteja num patamar reduzido, de 4,9% em novembro do ano passado, a desaceleração do mercado de trabalho é implacável. Números de agosto a outubro – o trimestre “natalino” no qual se observa o maior número de contratações temporárias em fábricas – mostram que foram criados 104 mil postos de trabalho na indústria ante 114 mil no mesmo período de 2011, enquanto na tabela dos anos anteriores esse saldo superava os 200 mil trabalhadores. As demissões só não foram maiores porque, em 2012, diversos segmentos estavam “amarrados” com o governo, como é o caso do setor automotivo. Em troca do recebimento de benefícios fiscais, empresas tiveram de congelar demissões.

Temor no Planalto – Assim como é pretexto para muitos desmandos, o emprego também é o principal pilar que sustenta a popularidade da presidente Dilma. Com a tendência de desaceleração e sem perspectivas de um crescimento econômico robusto no horizonte, é possível que os números do Caged balizem muitas das políticas do governo nos próximos meses. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já adiantou que novas medidas de desoneração para a indústria estão por vir. E, nesse “toma lá, dá cá” econômico, é possível que mais demissões sejam postergadas – porém, dificilmente evitadas. “A tendência ainda é de queda no saldo de empregos ao longo do ano. A indústria e parte do setor de serviços seguem demissionários”, diz Sérgio Vale, da MB Associados.

O cenário pode piorar se a retomada do crescimento, de fato, não vier – e o PIB avançar de maneira pífia em 2013. O economista Fernando Barbosa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), vê aumentar o risco de demissões em massa se novamente, pelo terceiro ano consecutivo, o governo prometer um PIB que o país não terá condições de cumprir. “Se os empresários tiverem sua expectativa com a atividade frustrada ao longo do ano, deverão investir menos e há riscos de demissões significativas”, afirma.

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