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Copom eleva Selic a 10,75% — mesmo patamar de quando Dilma assumiu

Trata-se da oitava elevação consecutiva do juro básico da economia; inflação e câmbio continuam pesando na decisão do Comitê

Por Da Redação
26 fev 2014, 20h46

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aumentou em 0,25 ponto porcentual, para 10,75% ao ano, a taxa básica de juros (Selic) nesta quarta-feira, em decisão unânime, sem viés – ou seja, a decisão é válida até o próximo encontro, em abril de 2014. Trata-se da oitava elevação consecutiva do juro básico da economia desde o início de 2013. A trajetória de alta teve início em abril do ano passado quando a autoridade monetária subiu a Selic de 7,25% (mínima histórica) para 7,5%. É a maior taxa de juros desde janeiro de 2012 – e também é exatamente a mesma cifra de quando a presidente Dilma Rousseff assumiu o comando do país, em 2011. Segundo dados do BC, desde o ano de 2004 não havia uma trajetória tão longa de alta dos juros.

Votaram por essa decisão o presidente do BC, Alexandre Tombini, e os diretores Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, Luiz Awazu Pereira da Silva, Luiz Edson Feltrim e Sidnei Corrêa Marques. Assim como no encontro do Comitê em janeiro, o comunicado divulgado junto com a nova taxa não deu qualquer sinalização sobre as razões que nortearam a decisão.

A manutenção do ritmo de aperto monetário foi motivada pelo cenário inflacionário e pelo câmbio. Ainda que em trajetória de desaceleração, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 5,59% em 12 meses terminados em janeiro, bem acima do centro da meta, que é de 4,5% ao ano. Já o IPCA-15, prévia do índice oficial, avançou 0,70% em fevereiro, acima do esperado. A desvalorização do real ante o dólar também é um componente importante na pressão sobre os preços, sobretudo devido ao aumento das importações verificado ao longo de todo o ano passado e início de 2014.

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Para este ano, o BC ainda terá de considerar um impacto extra que poderá jogar contra o controle da inflação: a energia. Ainda que o impacto do religamento das térmicas não chegue aos bolsos dos consumidores em 2014, o risco de racionamento ainda é real. O governo aguardará até o mês de abril para decidir se haverá ou não um plano emergencial para sanar o problema de estiagem que afeta os reservatórios do Centro-Sul do país. O ministro Edison Lobão, que antes desconsiderava qualquer possibilidade de aumento da conta de luz, aventou o tema no início de fevereiro. Segundo o ministro, se os consumidores quiserem mais segurança energética, terão de pagar mais.

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Outra variável no radar da autoridade monetária é a Petrobras. Diante das dificuldades de caixa enfrentadas pela empresa e do aumento de 36% de seu endividamento no ano passado, um novo reajuste nos primeiros meses do ano é previsto. Em 2013, foram três elevações nos preços fixados pelas refinarias.

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O BC, contudo, tem dado sinais contundentes de que não está disposto a abandonar o jogo. O presidente Alexandre Tombini tem, inclusive, liderado uma ofensiva para convencer o mercado de que o Brasil está fazendo o possível para domar a alta dos preços. Tombini defendeu a política monetária do BC em eventos internacionais, como o Fórum Econômico Mundial, em Davos, e o encontro dos países do G20, na Austrália. Além disso, reuniu-se com jornalistas do Financial Times no início do ano para tentar desarmar o jornal britânico após as inúmeras críticas feitas em suas páginas à condução da economia brasileira. O movimento, até agora, rendeu frutos. Em editorial publicado nesta quarta, o FT afirma que mudou de opinião sobre a condução da política monetária brasileira.

Tombini também deu entrevistas à imprensa nacional detalhando de forma mais clara – algo pouco usual desde que se tornou chefe do BC – a atuação do órgão para frear o tombo do real. Em 12 meses, a moeda americana se valorizou 18,8% ante o dólar.

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Efeito bumerangue – A elevação da Selic nesta quarta-feira era esperada, mas não deixa de ser emblemática. Ao retornar ao mesmo patamar de janeiro de 2011, quando Dilma entrou na presidência e nomeou Tombini para o BC, os juros são exemplo claro de como deu errado a truculência da presidente em tentar mudar à força o tripé econômico do país. Depois de ordenar a queda dos juros entre agosto de 2011 e novembro de 2012, sem que os fundamentos econômicos (e a inflação) oferecessem condições reais de queda, o governo foi criticado e o BC enfrentou um duro momento de perda de credibilidade. A volta ao mesmo patamar de três anos atrás mostra que, nem sempre, as vontades palacianas se sobrepõem às do mercado.

O corte orçamentário anunciado na semana passada é outra demonstração de que decisões de cunho contracionista (que apertam a economia em vez de estimulá-la) são necessárias, ainda que, bem lá no fundo, o governo determine tais ajustes (de 44 bilhões de reais) muito a contragosto – sobretudo em ano eleitoral, quando as torneiras costumam ser escancaradas.

Tanto a alta dos juros quanto os cortes mostram que o Palácio do Planalto está determinado a recuperar os três anos perdidos em que tolerou uma inflação mais alta para permitir que a economia crescesse com mais vigor. Diante do pibinho de 2012 (crescimento de 0,9%) e dos 2% esperados para a manhã desta quinta-feira, não é exagerado dizer que o sacrifício da inflação em nome do PIB foi em vão.

Evolução da Selic no governo Dilma

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