Contrariados, bancos estatais estão pessimistas com crédito em 2014
Caixa e BB estão retendo menos lucro, e governo pressiona por redução do 'spread' bancário
Pela primeira vez em cinco anos, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal estão pessimistas. Os dois bancos públicos trabalham com cenário de desaceleração do crédito em 2014 e moderação nos planos de aquisições, no momento em que se preparam para uma nova fase do sistema financeiro mundial, a Basileia 3.
O calendário estabelece que de 2016 a 2019, uma série de reformas de regulamentação bancária serão implementadas, como, por exemplo, o aumento gradual da exigência do índice mínimo de alocação de capital até 13%. Hoje o Banco Central (BC) brasileiro exige 11%. No ano passado o BC divulgou um cronograma de adequação dos bancos nacionais às novas regras, baseado nas recomendações do Comitê de Supervisão Bancária de Basileia, com sede na Suíça.
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Uma das principais ferramentas dos bancos para reforçar o patrimônio líquido é a retenção de lucros. Contudo, a pressão do governo federal desde o ano passado para baixar os spreads bancários (diferença do custo de captação pelo banco e do valor cobrado por ele nos empréstimos) tem pressionado as margens.
A rentabilidade sobre o patrimônio (ROE) do setor, historicamente superior a 20%, vem caindo no Brasil e a previsão de executivos dos bancos é de continuidade da queda nos próximos anos. A Caixa tem conseguido manter níveis maiores: no terceiro trimestre, seu ROE foi de 27%. Contudo, a retenção de lucro tem sido menor, dada a necessidade do governo de receber dividendos para ajudar a reforçar o superávit primário.
Em setembro, o índice de Basileia de Caixa era de 17,7% e o do BB estava em 15,2%. Em relação ao piso atual de 11%, ambos poderiam ampliar a oferta de crédito sem se preocupar com as necessidades de capital. O problema é que as condições para reforçar o capital pioraram e os bancos querem ter alguma folga, por isso a saída é pisar no freio.
Ambas as instituições estatais agora acusam o esgotamento da política anticíclica adotada no fim de 2008 e que nunca foi completamente desmontada. De lá para cá, a participação da Caixa no crédito do sistema financeiro nacional quase triplicou, para 18%.
Superávit – Reservadamente, executivos dos dois bancos atribuem parte da piora de expectativas à deterioração fiscal do governo, somada a comunicação errática sobre o que pretende fazer para corrigi-la, levantando temores crescentes de rebaixamento da classificação de risco do país. Em setembro, o governo apresentou um déficit primário inesperado de 9 bilhões de reais, o maior em quase cinco anos.
Em junho, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s reduziu a perspectiva do rating do Brasil de “estável” para “negativa”. Em outubro foi a vez de a Moody’s trocar a perspectiva de “positiva” para “estável”. O Brasil é avaliado no segundo menor nível de grau de investimento pelas três maiores agências de risco, incluindo também a Fitch.
“O governo está dando sinais desencontrados sobre política fiscal”, disse um alto executivo de um dos bancos públicos à Reuters, sob condição de anonimato. “Precisa dizer claramente o que vai fazer.”
“O Arno não está ajudando”, reclamou outro executivo, referindo-se ao secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que tem sido apontado por críticos do governo como um dos responsáveis pela piora das contas públicas.
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Diante da deterioração do quadro macroeconômico nos últimos meses, BB e Caixa notaram uma piora das condições de captação externa, também refletindo a maior instabilidade do mercado com sinais de que o Federal Reserve (BC dos Estados Unidos) gradualmente reduzirá os estímulos à economia norte-americana, retirando parte da liquidez global.
A Caixa, que pretendia emitir 2,5 bilhões de dólares em sua estreia com bônus no exterior, levantou metade disso em setembro. O BB, que tem sido frequentador assíduo do mercado de bônus nos últimos anos, ainda considera captar neste ano, após ter feito sondagens mais cedo e decidido esperar mais.
Crédito moderado – Nos últimos anos, BB e Caixa conseguiram sustentar elevadas taxas de expansão do crédito, e reforçaram a estrutura de capital com recursos do Tesouro ou captações a baixo custo, dada a forte liquidez internacional.
Em 12 meses até setembro, a expansão da carteira de crédito do BB foi de 22,5%, mais que o dobro da média dos principais concorrentes privados. No caso da Caixa, a expansão foi de 40%.
No começo do mês, o vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores do BB, Ivan Monteiro, fez um comentário na direção de alta mais moderada do crédito. “Deve haver uma acomodação, porque o desempenho foi muito forte e é difícil repetir”, disse.
Os dois bancos estatais estão prestes a fechar o orçamento de 2014 e devem divulgar suas previsões para crédito nas próximas semanas. Consultados, BB e Caixa preferiram não comentar o assunto. O Tesouro não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Sem aquisições – Além de desacelerar o crédito, os bancos estatais estão revendo planos de aquisições. O BB, que comprou o argentino Patagônia e o Eurobank, nos EUA, nunca levou adiante os planos de entrar no varejo bancário de Colômbia, Chile e Peru. Neste ano, desistiu da compra da unidade norte-americana do espanhol Bankia e de aumentar a participação no Banco Votorantim. O plano do BB de comprar uma fatia minoritária de um grande banco de investimentos internacional foi substituído pela meta de criar uma estrutura própria.
A Caixa, que vinha mostrando interesse em aquisições de empresas nos setores de serviços financeiros, como cartões e seguros, também preferiu esperar.
(com agência Reuters)