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Carlos Wanzeler, de lavador de pratos a sócio da TelexFree

Conheça a história do idealizador da pirâmide financeira que está foragido da Justiça americana. Ele é acusado de operar, junto com James Merrill, um esquema fraudulento de US$ 1 bilhão

Por Naiara Infante Bertão
16 Maio 2014, 07h49

De lavador de pratos em restaurantes a sócio de uma empresa que pode ter movimentado mais de 1 bilhão de dólares no Brasil e nos Estados Unidos. A trajetória que poderia ser a história de sucesso de um brasileiro, na verdade, está próxima de um fim trágico. O capixaba Carlos Wanzeler, 45 anos, é o idealizador da TelexFree, uma companhia que afirmava vender serviços de telecomunicação por VoIP (Voz sobre Protocolo de Internet). No entanto, investigações mostram que o negócio era apenas a fachada para um esquema conhecido como pirâmide financeira. Nesse tipo de fraude, a sustentação financeira vem da entrada de novos participantes (que pagam uma taxa de adesão) e não da venda dos produtos. Desde a sexta-feira, 9 de maio, ele é considerado foragido pela Justiça americana. Sua esposa, Katia Wanzeler, foi presa na noite da última quarta-feira no aeroporto de Nova York ao tentar deixar o país.

Em 1988, aos 19 anos, Wanzeler foi morar nos EUA e começou a trabalhar em dois restaurantes lavando pratos. Eventualmente fazia o turno da noite como zelador do UMass Memorial Medical Center. Em 1993 sua mãe, irmã e irmão mudaram-se de Vitória, Espírito Santo, para Massachusetts. Quando procurava emprego em companhias de limpeza para sua família, Wanzeler conheceu, por acaso, o empresário americano James Merrill, com quem foi trabalhar posteriormente. Eles acabaram se tornando sócios de uma empresa de limpeza que, no auge, chegou a ter 40 clientes corporativos e faturar 800 mil dólares.

Segundo informações levantadas pela Securities and Exchange Commission (SEC), órgão que regula o mercado financeiro americano, e divulgadas pelo jornal Boston Globe, o brasileiro é o idealizador da TelexFree. As autoridades do país acreditam que ele também tenha deixado o país e está no Brasil. Wanzeler e Merrill, detido na semana passada, são acusados de operar o esquema de pirâmide de 1 bilhão de dólares. Se condenados, os executivos podem pegar até vinte anos de prisão.

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Embrião – A ideia de uma companhia de telecomunicações surgiu das constantes queixas de Wanzeler sobre as caras ligações telefônicas que sua mulher fazia ao Brasil para falar com a mãe. Foi então que surgiu a WorldxChange, empresa dos dois que comercializava aparelhos que faziam ligações internacionais com descontos de até 70% em relação aos preços praticados no país, na época.

Com a adesão em massa de imigrantes que viviam nos EUA, em poucos meses, a WorldxChange já teria uma rede com milhares de vendedores e clientes, sendo um negócio de sucesso por anos nos Estados Unidos. Com o advento da internet, os sócios tentaram criar um sistema de ligações feitas pelo computador, mas como os outros sócios da empresa não queriam, Merrill e Wanzeler fundaram, em 2002, outras companhias; Common Cents Communications Inc., que revendia os serviços da WorldxChange; Disk Avontade; e Brazilian Help Inc. Aí nasce o embrião da TelexFree.

Carlos Costa, atual diretor-comercial da TelexFree e já amigo de Wanzeler, foi escalado para participar das redes. “Costa é o homem do marketing”, disse Merrill em depoimento à SEC. Os três se tornaram sócios da TelexFree – Wanzeler com 50%, Costa com 30% e Merrill os outros 20%. Posteriormente Costa vendeu sua participação a Merrill, mas continuou sendo um importante líder da empresa no Brasil.

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Wanzeler aparece em um vídeo de um evento como presidente da Disk à Vontade em 2009. Na mesma gravação, há uma entrevista de Carlos Costa, hoje diretor comercial da TelexFree, identificado nas imagens como líder nacional de marketing da própria Disk à Vontade.

Desvio de dinheiro – A ligação de Carlos e Wanzeler não limita apenas à TelexFree, da qual Carlos já foi sócio. Um fato interessante é que a Justiça brasileira identificou, em meados do ano passado, dois desvios de recursos da empresa logo após os bens terem sido congeladas. Segundo a Ação Civil Pública a que VEJA teve acesso na ocasião, consta que a TelexFree do Brasil, cuja razão social é Ympactus Comercial Ltda., tentou desviar cerca de 100 milhões de reais para contas de terceiros – uma de titularidade da WorldxChange (dois depósitos nos valores de 41,78 milhões de reais e 9,9 milhões de reais) e outra da Simternet (um depósito no valor de 49,98 milhões de reais).

Costa não está sendo investigado pela polícia dos EUA.

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TelexFree é multada em R$ 5,6 milhões por operar pirâmide

Cenário – Os bens da TelexFree foram bloqueados pela Justiça de Massachussetts no mês passado e o diretor financeiro da empresa, Joseph Craft, foi pego tentando fugir com inúmeros cheques no valor de 38 milhões de dólares destinados aos donos da TelexFree nos EUA, James Merrill e Carlos Wanzeler. Segundo a procuradora Carmen M. Ortiz, que assinou parecer sobre o caso, o escopo da suposta fraude “é de tirar o fôlego”. “Esses réus planejaram um esquema que captou centenas de milhões de dólares de pessoas que trabalham duro no mundo todo.”

A filial brasileira está sob investigação desde o ano passado por prática de pirâmide no Brasil, com os bens bloqueados e impedida de funcionar por uma decisão da Justiça do Acre. Ela foi recentemente condenada pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, órgão da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon/MJ) a pagar uma multa de 5,59 milhões de reais por operar “esquema financeiro piramidal”, que é crime contra a economia popular no Brasil.

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Conheça os executivos envolvidos no escândalo da TelexFree:

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