Campeãs nacionais viram mico na carteira do BNDESPar
Braço de investimentos do BNDES teve queda de 93,1% no lucro em 2012 - todas as participações acionárias em empresas tiveram retorno ruim
Os investimentos feitos pelo governo em empresas brasileiras por meio do BNDESPar, braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), se mostraram péssimas escolhas em 2012. O fundo registrou lucro líquido de 298 milhões no ano passado, queda de 93,1% frente a 2011 (4,308 bilhões de reais). O tombo foi provocado pelo resultado com participações acionárias, que caiu 97,9%, de 6,455 bilhões de reais em 2011 para 138 milhões de reais ano passado, conforme destaca o Relatório da Administração enviado pela instituição à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), na sexta-feira. O resultado evidencia que as “campeãs nacionais”, empresas cuja expansão foi financiada pelo BNDES com o objetivo de torná-las multinacionais, como é o caso da JBS, não têm se mostrado investimentos tão rentáveis assim.
Uma das mais importantes baixas contábeis apresentadas no balanço foi da ordem de 657,594 milhões de reais – número próximo dos 700 milhões de reais que poderiam ser reportados como baixa em decorrência do pedido de recuperação judicial da LBR, empresa do empresário Marcos Elias, que é a detentora da marca de leites Parmalat no Brasil. O documento não confirma se o valor da baixa se refere à LBR. “A principal perda por redução ao valor recuperável reconhecida no exercício corrente para um ativo individual foi constituída no montante de 657,594 milhões e decorre da não consecução dos planos de negócios originalmente previstos e que foram recentemente revistos pela coligada”, afirma o documento, sem especificar qual é a empresa coligada.
Os 700 milhões de reais que a empresa poderia perder viriam de um aporte feito para a constituição da LBR, em 2011.
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Ações – A carteira de ações do BNDESPar tombou de 89,694 bilhões de reais, em 2011, para 78,215 bilhões de reais, no encerramento do ano passado, recuo de 12,8%. Do total da carteira, 16,668 bilhões de reais referem-se a investimentos em empresas coligadas, avaliados pelo método de equivalência patrimonial; enquanto 61,547 bilhões de reais dizem respeito a investimentos em companhias não-coligadas, avaliados pelo valor justo, que considera o valor de mercado em bolsa.
Segundo o relatório, o resultado com as participações acionárias “reflete o desempenho das empresas que compõem o portfólio da BNDESPar e, como tal, é sensível a mudanças na situação econômica do país e do mundo”.
O fundo conseguiu ter resultados ruins com participações acionárias em exatamente todas as linhas que o compõem, como receita com dividendos e juros sobre o capital próprio (JCP), resultado de equivalência patrimonial e provisão para perdas por impairment. A provisão para perdas gerou prejuízo de 3,325 bilhões de reais – 608 milhões de reais referentes à carteira de coligadas e 2,717 bilhões de reais à carteira de não-coligadas.
Campeãs nacionais viram mico – Além da LBR, outras empresas onde o fundo detém participação relevante e influi na administração são a Fibria Celulose, a JBS, a Copel e a Marfrig. Mas o BNDESPar afirmou que a redução dos ganhos com dividendos e juros sobre o capital próprio deveu-se sobretudo às empresas não-coligadas. O BNDESPar teve receita de 2,507 bilhões de reais com esses itens ano passado, 30,6% a menos em relação aos 3,612 bilhões de reais de 2011. Somente Vale, Valepar e Petrobras geraram receita de 1,559 bilhão de reais ano passado, contra 2,806 bilhões de reais em 2011.
Os resultados ruins acumulados pelo BNDESPar no ano passado vai impactar o resultado do banco como um todo – o balando do BNDES ainda não foi divulgado. Como o braço de participações é uma sociedade por ações, com registro na CVM desde 1998, é obrigado a informar seus resultados ao órgão regulador. Já os resultados do BNDES como um todo dependem de divulgação do próprio banco – os dados ainda não estão disponíveis na seção de Relações com Investidores do site do banco, nem para o BNDESPar nem para o BNDES.
(Com Estadão Conteúdo)