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BC perdeu a chance de combater inflação em 2013

IPCA estoura a meta em 12 meses e, mesmo que a taxa de juros suba nas próximas reuniões, efeitos não serão sentidos neste ano

Por Naiara Infante Bertão
11 abr 2013, 07h28

Se as previsões de mercado se mostrarem corretas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deverá elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 1,5 ponto porcentual até o final deste ano, como forma de tentar conter o avanço da inflação. Contudo, até os mais otimistas não creem que a alta terá qualquer efeito desinflacionário ainda em 2013, tendo em vista que mudanças nos juros levam de 6 a 9 meses para surtir efeito na economia. Isso significa que há grandes chances de o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltar a estourar o teto da meta de 6,5% no acumulado de 12 meses em outras ocasiões ao longo deste ano. O indicador oficial de inflação avançou 0,47% em março e chegou a 6,59% em 12 meses.

O aumento esperado, contudo, está muito aquém do que os economistas classificam como ideal para que a meta de inflação seja atingida no ano que vem: para eles, o país necessita de uma alta de 4 pontos porcentuais na taxa Selic. Essa diferença entre o que o mercado espera do BC e o que classifica como ideal é um dos efeitos colaterais da atitude da autoridade monetária ao longo dos últimos dois anos. Ao decidir não agir contra o avanço dos preços desde agosto de 2011, o BC conseguiu dilacerar um princípio básico do regime de metas de inflação: o controle da expectativa. Ao usar suas ferramentas – especificamente a taxa básica de juros – para perseguir o centro da meta (que é de 4,5%), a autoridade monetária ajudaria a coordenar a expectativa do mercado em relação à subida de preços. Quando não as usa, como ocorre atualmente, a meta perde credibilidade e deixa de pautar as expectativas. Segundo um texto de autoria do próprio BC, “um dos objetivos centrais do regime de metas é justamente ancorar as expectativas de mercado que, de forma geral, orientam o processo de formação de preços na economia”. Isso significa que, à medida que os movimentos do BC passam a ser mais previsíveis, as expectativas de inflação se formam com maior precisão. É possível dizer que a política monetária tem credibilidade quando os reajustes de preços passam a ser próximos da meta – o que não ocorre no Brasil desde 2009. Quando, em agosto de 2011, enquanto a inflação avançava, o BC decidiu cortar os juros subitamente alegando a crise na Europa, as expectativas ruíram. A deterioração se ampliou em 2012, quando a inflação permanecia muito acima do centro da meta (de 4,5%) e, ainda assim, o Copom continuava cortando juros até chegar à mínima histórica de 7,25%.

Desde que o regime de metas foi criado, em 1999, a taxa básica de juros é o instrumento primordial usado no controle inflacionário. Quando a Selic sobe, impacta diretamente no custo do dinheiro e os juros bancários sobem – causando um esfriamento da atividade econômica e, consequentemente, do consumo. A demanda por bens e serviços cai porque há menos pessoas e empresas consumindo – com isso, os preços tendem a cair também.

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Apesar de comprovadamente eficaz para esfriar a inflação, a alta da Selic impõe um ônus político de desaquecimento econômico e, em muitos casos, desemprego ao país. E esse passivo, o governo não parece disposto a admitir. O BC, que funciona, em teoria, independente do Palácio do Planalto, deve ter a autonomia para subir os juros tão logo a inflação dê sinais de avanço – não importa os efeitos perversos que essa alta possa causar na economia. A única lógica que explica o fato de o BC não usar o instrumento do qual dispõe para exercer sua principal função, que é controlar a inflação, é a lógica política. A Selic em alta pode desacelerar e até jogar para o campo negativo o fraco crescimento da economia brasileira – situação que é de importância primordial para o governo, conforme a própria presidente Dilma já explicitou.

No relatório trimestral de inflação divulgado no final de março, o próprio BC admitiu que a escalada dos preços pode não ser apenas uma fase transitória, mas sim algo que deva ficar por mais tempo. E, mesmo assim, hesita em tomar uma atitude mais contundente. “O BC tem usado vários canais para comunicar que está alerta à inflação, mas chega um momento que é preciso agir”, afirma o economista Fábio Romão, da LCA Consultores. Para 2013, mesmo sem o efeito da alta da Selic, Romão acredita que a inflação deva desacelerar a partir do segundo semestre, devido aos efeitos da desoneração da cesta básica nos preços de alimentos e bebidas, entre outros fatores sazonais.

Já o ex-diretor do BC, o economista Alexandre Schwartsman, acredita que a provável alta da Selic em 2013 – além de não ter efeito algum sobre a inflação deste ano – será apenas protocolar, para acalmar os ânimos e tentar dissipar críticas de leniência por parte da autoridade. Ele também avalia que, mesmo com a alta dos juros, em 2014, a inflação corre o risco de permanecer alta. “O BC só vai subir os juros este ano para controlar as expectativas do mercado e mostrar que está atento, independente e firme. Mas, na verdade, como ele não está atento, nem independente e tampouco firme no propósito (de combate a inflação), então vai falhar.”

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