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A recuperação do G-20?

Cúpula de países ocorrerá na Austrália e precisa retomar protagonismo para fazer com que o mundo volte a crescer numa velocidade maior

Por Wayne Swan
12 out 2014, 12h35

A reunião do G-20 que acontecerá em Brisbane, Austrália, chega num momento em que a economia mundial requer a adoção de decisões importantes. No entanto, parece muito longe de se saber quem terá a voz necessária para estabelecer uma agenda corajosa – e depois comandar sua implementação.

Os dados econômicos revelam que a economia mundial está mais frágil do que em qualquer outro momento dos últimos anos. O capitalismo está lutando para gerar a demanda adequada. A riqueza e a renda estão cada vez mais concentradas, enquanto a renda da classe média no mundo desenvolvido está estagnada. A evasão fiscal por parte das empresas multinacionais está enxugando os rendimentos dos países em desenvolvimento, ao limitar sua capacidade de investir em educação e infraestrutura, e muitas medidas são necessárias para abordar o maior e mais urgente ponto fraco estrutural de todos: a mudança climática.

Muitos economistas e legisladores de destaque estão prevendo um futuro econômico ameaçador. Stephen Roach sugeriu que, na economia mundial pós-crise, “a recaída é a regra”. O economista Brad Delong, referindo-se às “consequências de nossa maior depressão”, argumenta que a pretensa recuperação da zona do euro desmoronou. Já o Presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, reconheceu a necessidade não apenas de uma reforma estrutural, mas também de uma expansão fiscal para impulsionar a demanda agregada.

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No centro de suas preocupações figura a falta de uma demanda sustentada para alavancar o crescimento. Embora reformas estruturais, em particular no lado da oferta, sejam necessárias tanto em países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos, elas não são suficientes para abordar o que o ex-Secretário do Tesouro dos Estados Unidos Larry Summers chamou de “estagnação secular”, ou seja, a dificuldade para sustentar demanda suficiente que permita níveis normais de produção.

Desta forma, a missão fundamental do G-20 tem de ser a de criar estrutura para o crescimento forte e sustentável. Os paises membros devem apresentar reformas que tenham como objetivo obter uma meta de crescimento anual de 2%, conforme acordado entre ministros da Fazenda no início do ano.

Uma reforma estrutural que poderia impulsionar o crescimento mundial seria um investimento importante em infraestrutura, tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos. Lamentavelmente, nenhum dirigente do G-20 fez uma referência séria a essa necessidade, muito menos tentaram influenciar a favor de uma solução. Fora da apresentação por parte do Banco Mundial de um possível programa piloto de infraestrutura, houve poucas indicações sobre como o objetivo de 2% poderia ser alcançado a médio prazo.

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Os Governos do G-20, sobretudo aqueles que têm contas sólidas, deveriam solicitar um investimento público e privado de grande escala para aumentar a capacidade produtiva das economias de países-membros. Em matéria de evasão de divisas, as discussões precisam abranger as economias desenvolvidas pois, como enfatizou recentemente o Fundo Monetário Internacional, os orçamentos de economias em desenvolvimento são afetados desproporcionalmente pelas astutas estratégias contábeis das empresas multinacionais.

Infelizmente, a julgar pelas iniciativas que já figuram na agenda de Brisbane, parece que a cúpula vai adotar uma política de continuidade. Se o G-20 não dá consistência à sua retórica, correrá o risco de parecer fraco e irrelevante. Sua própria credibilidade está em jogo. De fato, alguns no mundo desenvolvido prefeririam um órgão menor e mais exclusivo: um G14 ou até mesmo um novo G-7. Iniciativa semelhante prejudicaria o mundo em desenvolvimento, especialmente a região da Ásia e Pacífico, incluindo a Austrália.

Uma razão pela qual alguns desejam um grupo mais restrito é que o G-20 batalha para atingir um consenso, mas esta não é a solução. É mais difícil conseguir acordos justamente porque todos os principais líderes (que representam dois terços da população mundial e 80% do PIB mundial) e cujo apoio é necessário para qualquer decisão verdadeiramente global, estão dentro da sala de reunião.

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Desta forma, a Cúpula de Brisbane precisa redescobrir o ativismo que desempenhou em 2008 e 2009, no auge da crise financeira. Os Estados Unidos e outras economias avançadas deveriam encabeçá-lo, com o apoio das maiores economias emergentes.

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Como anfitriã, a Austrália tem um papel a desempenhar. Trata-se de um país respeitado tanto por países em desenvolvimento quanto pelos desenvolvidos, que frequentemente serve de ponte entre eles e é amplamente visto como um intermediário honesto.

Lamentavelmente, o governo atual formulou poucas propostas sobre os grandes problemas estruturais que estão por trás do mal-estar econômico mundial. As modestas iniciativas apresentadas refletem a retórica do governo em oposição ao setor público. Para piorar, quando tanto os países desenvolvidos quanto os emergentes estão começando a levar a sério a mudança climática, a Austrália está se movimentando na direção oposta.

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A cúpula de Brisbane será uma prova decisiva para a Austrália, o G-20 e a possibilidade de uma coordenação política verdadeiramente global.

Wayne Swan, é ex Vice-Primeiro Ministro da Austrália e foi participante regular nas Reuniões de Ministros das Finanças do G-20. Seu livro mais recente é The Good Fight: Six years, two prime ministers and staring down the Great Recession.

(Tradução: Roseli Honório)

© Project Syndicate 2014

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