Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

A costura entre banqueiros, PMDB e o Planalto que manteve Levy no cargo

Em semana decisiva, ministro da Fazenda desistiu de renúncia depois de apelo de Lázaro Brandão, Luiz Carlos Trabuco e aliados de Michel Temer

Por Ana Clara Costa, de Brasília
4 set 2015, 13h45

O último sábado, 29 de agosto, foi um dia decisivo para o ministro Joaquim Levy. Enquanto defendia publicamente a volta da CPMF, o imposto do cheque, diante de uma plateia cheia de empresários descontentes, em evento em Campos do Jordão, o governo decidia, em Brasília, sepultar a ideia do novo imposto. O Planalto esqueceu-se de avisar Levy sobre o recuo e o titular da Fazenda transmitiu a uma parcela generosa do PIB a imagem de que estava desinformado – ou fora das tomadas de decisão importantes. Cogitou seriamente abandonar o barco e fez com que a Presidência soubesse de seu descontentamento. No mesmo fim de semana, o presidente do conselho do Bradesco, Lázaro Brandão, encontrou-se com o vice Michel Temer, também pego de surpresa pela decisão atrapalhada de renascimento e morte do imposto. Preocupado com o ânimo de Levy, Brandão pediu que o peemedebista interviesse na situação. A ala próxima de Temer no PMDB havia abandonado a defesa do ajuste depois de sucessivas derrotas do ministro no Congresso e dentro do próprio governo, onde tem como antagonista o titular do Planejamento, Nelson Barbosa. Temer se comprometeu com Brandão a criar um cordão de proteção para Levy, em especial contra o fogo amigo – cuja origem, segundo interlocutores petistas, está no próprio Palácio do Planalto.

Na segunda-feira, quando a presidente Dilma Rousseff convocou Levy e Barbosa para o anúncio do orçamento deficitário de 2016 e orientou para que reforçassem a ideia da transparência dos números, o ministro da Fazenda hesitou novamente. A tese do déficit era defendida por Barbosa, enquanto Levy alinhavava outro plano, que previa corte de gastos obrigatórios e programas sociais, com o objetivo de perseguir a meta fiscal de 0,7% do PIB no ano que vem. A presidente decidiu ouvir o ministro do Planejamento e engavetar o programa de Levy.

LEIA TAMBÉM:

Em dia D, Levy decide ficar no governo e ir ao G20

Continua após a publicidade

Imprensa internacional: a derrocada do ministro ‘mãos de tesoura’

Enquanto Barbosa seguiu à risca a orientação da chefe no discurso de apresentação do orçamento, Levy falou em acabar com “ambiguidades” e intensificar cortes. Falou ainda sobre a necessidade de se construir uma “ponte”, que, segundo interlocutores da Fazenda, seria um novo imposto temporário para recalibrar a arrecadação, mas sem o carimbo polêmico da CPMF. Diante das divergências claras de discurso, o enfraquecimento do ministro da Fazenda se intensificava – e o mercado financeiro respondia com mais descrença em relação à retomada da economia, com o dólar em forte disparada. Até então, o aceno do PMDB prometido a Brandão ainda não havia chegado a Levy. Acontecia justamente o contrário. No dia do anúncio do orçamento, parlamentares ligados ao vice e a Renan Calheiros diziam apoiar a ideia de orçamento deficitário porque estavam céticos sobre a possibilidade de cortes profundos serem aprovados no Congresso.

Na quarta-feira, Levy conversou com a presidente Dilma por telefone e reclamou do isolamento. Disse que do jeito que as coisas estavam, não poderiam ficar. Ouviu da chefe um “deixa disso”. Encontrou-se também com Temer, que reforçou o compromisso de apoio prometido a Lázaro Brandão. A virada ocorreu neste mesmo dia, com a visita do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, a Brasília. Padrinho de Levy no governo, Trabuco encontrou-se com a presidente Dilma e, com a cordialidade que lhe é característica, sinalizou que a saída do ministro minaria a pouca credibilidade que resta ao governo sobre a possibilidade de retomada da economia. Trabuco aconselhou a presidente a encampar os cortes propostos por Levy para acalmar o mercado. Em seguida, conversou com o ministro. Na quarta à noite, estava decidido que Levy não sairia.

Continua após a publicidade

LEIA TAMBÉM:

Orçamento com rombo cria mais um embaraço para Levy

Barbosa: ‘Eu e Levy falamos a mesma coisa’

Continua após a publicidade

Na quinta-feira, dia em que partiria para a Turquia, no encontro de ministros da Fazenda do G20, Levy decidiu cancelar a viagem. Diante do impacto dos rumores de sua saída na cotação do dólar, que chegou a 3,81 reais, alertou assessores sobre a necessidade de acalmar o mercado. Sua ausência, naquele momento, poderia intensificar os temores de investidores, provocando a oscilação da moeda americana e da bolsa de valores. No Planalto, a presidente Dilma convocou uma nova reunião em que instruiu os ministros Nelson Barbosa, Aloysio Mercadante e Edinho Silva a reforçar a jornalistas que o governo apoiava o plano de cortes de gastos desenhado por Levy. Mercadante, um dos principais inimigos do ajuste, falou, em coletiva à imprensa, até mesmo em reforma previdenciária — tabu para muitas alas do PT. Os ventos realmente haviam mudado. O aceno da presidente devolveu a política fiscal ao titular da Fazenda e colocou Barbosa de volta ao segundo plano – ao menos temporariamente. Até que os ventos mudem outra vez.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.