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Novo índice vai medir a qualidade do crescimento dos países

Em entrevista exclusiva ao site de VEJA, o diretor da ONU Anantha Duraiappah explica como vai funcionar o Índice de Riqueza Inclusiva, que pretende preencher lacunas do Produto Interno Bruto e do Índice de Desenvolvimento Humano

Por Juliana Arini
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h33 - Publicado em 17 jun 2012, 16h26

“O que chamamos de Riqueza Inclusiva, ou a base produtiva de um país, é formado pela sua industrialização e pelo capital humano, natural e social, componentes importantes para manter e melhorar o bem-estar”

O Índice de Riqueza Inclusiva, lançado neste domingo (17) na Rio+20, pretende preencher as lacunas dos tradicionais Produto Interno Bruto (PIB) e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mostrando de uma nova maneira o quanto cada país cresceu nas últimas décadas. Um dos autores da proposta, o malaio Anantha Duraiappah – diretor executivo do Programa Internacional de Dimensões Humanas da Universidade das Nações Unidas sobre Mudanças do Meio Ambiente Global (UNU/IHDP) -, falou com exclusividade a VEJA para explicar como funciona o índice.

Veja – Quando surgiu a ideia de propor uma nova forma de calcular a riqueza de um país?

Anantha Duraiappah – O PIB foi projetado para medir os níveis de produção econômica de um país. Mas, para muitos, o progresso também significa qualidade de vida e bem-estar. Nesse caso, o PIB acaba restrito apenas à questão econômica. Há anos existe a reivindicação de que surja uma abordagem holística, uma forma de medir riqueza que inclua também o bem-estar, algo dificil de captar.

Veja – Qual é o objetivo do índice? É destinado a orientar as políticas que taxem a indústria e as atividades do governo?

Duraiappah – O Wealth Report 2012 pretende apresentar uma medida alternativa de progresso de uma nação em relação aos indicadores econômicos de curto prazo, como o Produto Interno Bruto (PIB) e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Os autores do relatório acreditam que esses indicadores de produção econômicos não refletem o estado dos recursos naturais ou de condições ecológicas, já que ambos têm foco apenas no curto prazo, sem qualquer indicação de que as políticas nacionais são sustentáveis ao longo do tempo. O relatório propõe o Índice de Riqueza Inclusiva (IRI) como um indicador adicional macroeconômico para avaliar o desempenho de uma economia e orientar o desenvolvimentor econômico nacional no sentido da sustentabilidade. Como ele monitora alterações nos ativos de uma nação, ou seja, produção, capital humano e natural, ao longo do tempo o IRI apresenta uma perspectiva de longo prazo no bem-estar humano e sustentabilidade. Ele dá aos governos nacionais e às autoridades de planejamento uma ferramenta para medir como eles estão usando a base produtiva de seu país.

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Veja – E essa é a proposta que vocês vão lançar na Rio+20?

Duraiappah – Sim. O que chamamos de Riqueza Inclusiva, ou a base produtiva de um país, é formado pela sua industrialização e pelo capital humano, natural e social, componentes importantes para manter e melhorar o bem-estar. A nossa proposta de Índice de Riqueza Inclusiva é uma ferramenta que mede a base produtiva de um país e suas mudanças ao longo do tempo. Ela nos permite avaliar se a base produtiva de um país é mantida, melhorada ou está em declínio, e isso então nos permite tirar conclusões quanto ao bem-estar do país.

Veja – Como funciona o cálculo do Índice de Riqueza Inclusiva? Vocês ainda abordam a questão econômica, ou apenas os benefícios sociais?

Duraiappah – O IRI considera componentes-chave da base produtiva da economia de um país e seus valores correspondentes: capital produzido, capital natural e capital humano. Além disso, o índice avalia as mudanças na base produtiva de uma nação durante um período de 19 anos (1990-2008) e, portanto, apresenta uma perspectiva de longo prazo em relação ao bem-estar humano e à sustentabilidade. Dessa forma, as mudanças na riqueza são induzidas por mudanças reais nas diferentes formas de capital, e não simplesmente por flutuações de preço sujeitas a situações passaageiras, como por exemplo as bolhas de mercado.

Veja – De acordo com dados preliminares publicados em Londres, em abril, em um período de 18 anos o Brasil e a Índia cresceram apenas 3% e 9%, respectivamente – não 34% e 120%, como mostrado pelo PIB. Será que vamos encontrar resultados semelhantes em países que degradaram o meio ambiente natural para a industrialização, como o Reino Unido e França, apesar de seus altos padrões de vida?

Duraiappah – Os países industrializados viram uma taxa de crescimento menor de sua riqueza, inclusive ao longo dos últimos 19 anos. E também tiveram um rápido declínio no capital natural, mas isso foi compensado, em certa medida, por investimentos de capital produzido e humanos, especialmente no último, com educação. E assim, os altos padrões de vida são baseados não só no declínio do património natural, mas também sobre o comércio com os países em desenvolvimento.

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Veja – Então por terem reinvestido o dinheiro ganho com a degradação no bem-estar de seus habitantes, esses países seriam mais sustentáveis?

Duraiappah – Não, eles têm melhores classificações no índice, mas têm seus desafios também. Um deles é justamente garantir o desenvolvimento futuro de forma sustentável, porque, com o declínio do capital natural, a perspectiva de manter o padrão de vida de seus habitantes vai ser mais difícil, como testemunham os acontecimentos recentes.

Veja – Se um país exporta capital natural, como o Brasil, que fornece recursos para nações como EUA e China, como é feito o cálculo da perda de seus recursos naturais segundo o novo índice?

Duraiappah – Essa é uma pergunta muito boa e é importante considerar duas coisas diferentes: a primeira são os fluxos físicos de recursos que são exportados pelo Brasil para os EUA e a China, e a segunda a contrapartida monetária desses fluxos físicos pagos pelos países importadores , EUA e China, ao Brasil. Neste caso específico, o cálculo do índice seria o seguinte: para o Brasil, o IRI, por um lado, relaciona a diminuição das reservas de capital natural, ou seja, os recursos exportados; por outro, avalia se a parcela da compensação monetária recebida pelo Brasil dos EUA e da China foi reinvestida, por exemplo, em educação, que é parte do componente de capital humano. Se o Brasil está reinvestindo no bem-estar de sua população o que ganha vendendo os seus recursos naturais, nesse caso o indicador iria apresentar um aumento no IRI geral.

Veja – Como foi a escolha dos 20 países cujos dados serão estudados e apresentados durante a Conferência Rio +20?

Duraiappah – Os países selecionados representam 56% da população mundial e 72% do PIB mundial. A seleção inclui economias alta, média e baixa renda em todos os continentes além de um número de países onde suspeita que o capital natural seria especialmente importante para a base produtiva da economia. Exemplos para estes últimos são elevadas reservas de cobre do Chile e do petróleo e reservas de gás na Nigéria, Venezuela e Arábia Saudita.

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