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‘Não é uma coisa de outro mundo’, diz brasileira que pode ir a Marte

Sandra da Silva, professora universitária de Rondônia, deixou para trás mais de 200 mil concorrentes e é a única brasileira entre os 100 finalistas da missão para colonizar o planeta vermelho. Nesta entrevista, ela explica por que decidiu embarcar na aventura e conta como tem se preparado para encarar a viagem só de ida ao espaço

Por Juliana Santos
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h06 - Publicado em 1 mar 2015, 09h35

Na semana passada, a missão Mars One anunciou os 100 finalistas de um processo que vai escolher 24 pessoas para colonizar Marte a partir de 2025 – com passagem só de ida. Dos mais de 10.000 brasileiros que se cadastraram, restou apenas uma: a professora universitária Sandra da Silva, de 51 anos, de Rondônia.

Sandra da Silva, professora universitária que pode ir para Marte ()

Chamada de maluca pelos próprios familiares, Sandra encara com tranquilidade a perspectiva de abandonar a Terra para nunca mais voltar. “Desde pequena, gosto de ficção científica. Eu não poderia virar as costas para um sonho”, disse Sandra ao site de VEJA. Professora de administração e sistemas de informação da Faculdade Porto Velho, ela também se dedica a montar aquários, tem um clube de ciências para crianças e escreve livros – foi pesquisando para um deles que ela descobriu a possibilidade de ir a Marte.

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Por trás desta empreitada está uma fundação privada holandesa, que pretende criar uma colônia humana em Marte. A estimativa é que a viagem que levará os primeiros quatro colonizadores dure sete meses e custe 6 bilhões de dólares. Em Marte, os escolhidos terão de cuidar de seu próprio suprimento de água, oxigênio e comida, além de se dedicar à pesquisa científica.

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O Mars One desperta ceticismo na comunidade científica. Muitos duvidam que a tecnologia necessária para chegar ao planeta e manter uma colônia por lá está longe de ser alcançada. Ao analisar o projeto, um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), chegou à conclusão de que os astronautas começariam a morrer após 68 dias em Marte.

Mesmo alguns dos mais notórios apoiadores do projeto já não botam a mão no fogo por ele, a exemplo do cientista holandês ganhador do Prêmio Nobel de Física em 1999, Gerard’t Hooft. Em entrevista ao jornal The Guardian, na segunda-feira, Hooft afirmou que a missão “vai demorar um pouco mais e ser um pouco mais cara” que o previsto. O cientista estima que um projeto tão grandioso leve mais 100 anos para ser realizado e custe dezenas de bilhões de dólares. Sandra discorda dos especialistas: “A Nasa possui um projeto para levar astronautas a Marte em 2030, cinco anos depois do Mars One. Eu não vejo porque é viável para a Nasa e não para o Mars One”.

Seleção – Sandra passou por três etapas do processo de seleção e deixou para trás mais de 200 000 candidatos de 140 países. Na quarta e última fase, os finalistas terão de demonstrar habilidade para viver situações extremas e de trabalhar em conjunto. As principais qualidades esperadas deles são “capacidade de adaptação, tenacidade, criatividade e compreensão dos outros”, segundo Norbert Kraft, diretor médico da Mars One. Os 24 escolhidos serão, então, divididos em seis grupos de quatro pessoas e farão a viagem com dois anos de intervalo.

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Enquanto aguarda as instruções sobre a etapa decisiva do processo seletivo, Sandra se prepara como pode para virar colonizadora. Na entrevista a seguir, ela conta que faz exercícios físicos, aulas de inglês e estuda sobre Marte na expectativa de ir para lá e nunca mais voltar.

Boa parte da comunidade científica não acredita nessa missão. Por que a senhora pensa diferente? Todo dia alguém me chama de maluca, mas eu não esquento a cabeça com isso. É falta de informação, o brasileiro infelizmente não tem uma educação voltada para a ciência. A Nasa possui um projeto para levar astronautas a Marte em 2030, cinco anos depois do Mars One. Eu não vejo porque é viável para a Nasa e não para o Mars One, quando ambos estão utilizando tecnologia da mesma fonte. A SpaceX, empresa privada que cria foguetes para a Nasa, também é fornecedora do Mars One, por exemplo. É algo que ninguém fez antes, então sempre haverá críticas.

Como sua família reagiu quando a senhora se inscreveu no programa? A princípio, escondi dos meus familiares. Depois de um tempo contei para minha irmã, que me chamou de maluca, e para meu pai, que reagiu melhor. Agora eles me apoiam, mas não gostam a ideia. Eu não tenho filhos, e se tivesse não faria uma coisa dessas. Marido é mais fácil largar, mas eu não sou casada. As pessoas imaginam que é um processo de absoluto isolamento, e não é, a gente vai continuar conversando pela internet e pelas redes sociais. Não é uma coisa de outro mundo.

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Por que a senhora se inscreveu no Mars One? Desde pequena gosto de ficção cientifica. Um dia estava fazendo uma pesquisa para um dos meus livros e encontrei o portal do Mars One. No começo vi com incredulidade, pois esperava que as agências espaciais se encarregassem dessas missões, mas li o projeto e entendi que havia viabilidade técnica. Pensei por duas semanas e decidi que não dava para virar as costas para um sonho.

Qual é o sentido desta missão para a senhora? A exploração espacial é essencial porque estamos explorando demais a Terra. Não há como a população parar de se reproduzir, então teremos de buscar recursos em outros lugares daqui a cinco, seis gerações. Se não começarmos a explorar o espaço agora, a espécie humana pode ficar comprometida.

O que espera encontrar em Marte? Bastante trabalho. A gente terá de extrair água, produzir oxigênio e comida e construir as novas estruturas para tornar o ambiente o mais confortável possível, já que se trata de um lugar inóspito. Eu espero também fazer pesquisa. Diversas universidades já apresentaram seus projetos para o Mars One. Eles serão levados para Marte e executados pelos colonizadores que estiverem lá.

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Como está se preparando para a missão? Minha maior barreira é o inglês, que nunca aprendi bem, mas será essencial para me comunicar com as outras pessoas. Por isso, faço aula com um professor seis vezes por semana. Também me exercito diariamente para emagrecer e leio bastante sobre o projeto. O Mars One fornece material de estudo sobre Marte, a missão e as questões técnicas a respeito dela.

O projeto prevê os primeiros lançamentos para daqui a dez anos, quando a senhora terá, no mínimo, 61 anos. A idade pode ser um empecilho para a sua ida? O projeto reconhece que a idade não é problema, desde que você tenha condições de saúde adequadas, boa forma física e equilíbrio emocional. Eu tenho disposição física e acredito que 60 anos hoje, com o estilo de vida que levamos, não são os 60 anos nos tempos dos nossos avós.

Qual será o aspecto mais dicífil da vida em Marte? Um astronauta da Estação Espacial Internacional (ISS) certa vez disse que, mesmo convivendo com as pessoas dentro da estação, você sente a falta de contato com outros humanos. Ele disse também que sente saudade de coisas que nem percebemos que existem – no caso dele, o cheiro de terra. Eu acredito que só depois de ser colocada naquele ambiente eu vou perceber algumas coisas. Certamente sentirei saudade da minha família e do convívio com a natureza, pois vivo na Amazônia e estou acostumada com a exuberância da floresta, os rios, a fauna. Mas eu estou consciente de que, se for selecionada, será uma missão sem volta.

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