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Mamíferos “escolhem” o sexo de seus filhotes, diz estudo

Controlado pelas fêmeas, mecanismo de escolha tem como objetivo conseguir o maior número de descendentes

Por Da Redação
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h18 - Publicado em 16 jul 2013, 11h28

Um estudo liderado pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, confirmou uma teoria debatida há mais de 40 anos no ramo da biologia evolutiva: fêmeas de mamíferos são capazes de “escolher” o sexo dos filhotes. Elas fazem isso com a intenção de obter maior sucesso reprodutivo – em outras palavras, gerar o maior número possível de descendentes. Para fazer a descoberta, os pesquisadores analisaram 90 anos de registros de reprodução do Zoológico de San Diego e estudaram três gerações de 198 espécies diferentes de mamíferos.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Winning the Genetic Lottery: Biasing Birth Sex Ratio Results in More Grandchildren

Onde foi divulgada: periódico Plos One

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Quem fez: Collette M. Thogerson, Colleen M. Brady, Richard D. Howard, Georgia J. Mason, Edmond A. Pajor, Greg A. Vicino e Joseph P. Garner

Instituição: Universidade de Stanford, EUA, e outras

Dados de amostragem: 1.627 fêmeas e 703 machos de 198 espécies de mamíferos, dos quais os pesquisadores conseguiram identificar três gerações

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Resultado: Os pesquisadores descobriram que as fêmeas são capazes de escolher o sexo de seus filhotes, com objetivo de ter o maior número possível de descendentes no futuro. Essa escolha é feita de forma inconsciente e leva em consideração a posição da fêmea e de seu parceiro no grupo, o ambiente em que ela vive e as condições que terá para “investir” na criação do filhote.

“É quase como se as fêmeas estivessem em um jogo de apostas”, diz Joseph Garner, principal autor do estudo publicado no periódico Plos One, em entrevista ao site de VEJA. Machos de diversas espécies de mamíferos têm haréns com dezenas e até centenas de fêmeas. Todas as fêmeas desse grupo podem se reproduzir. Entre os machos, apenas aqueles que detêm o harém vão procriar – os demais, não.

“Do ponto de vista da fêmea, se ela tiver uma filha estará fazendo uma aposta segura: essa filha vai produzir um filhote por ano, todos os anos. Se ela tiver um filho, estará fazendo uma aposta arriscada. Se quiser que o filho tenha condições de lutar e ganhar um harém, vai precisar colocar muito esforço na criação dele. Mas, se tiver sucesso, esse filhote lhe dará centenas de netos”, explica Garner.

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Dessa forma, essa decisão é tomada – de forma inconsciente – com base na posição que essa fêmea ocupa no grupo, no status do parceiro e nos recursos que terá para criar os filhos. O que a fêmea tem a fazer é intuir se seu filho tem condições de superar os outros machos que estão sendo gerados por outras fêmeas.

Poder feminino – Em diversas áreas de estudo, a influência maior sobre a escolha do sexo do filho acaba, de certa forma, recaindo sobre o macho. “Em fisiologia reprodutiva, falamos sobre o esperma determinando o sexo do bebê. Em comportamento animal, falamos o tempo todo em machos competindo por fêmeas”, diz Garner. Mas o pesquisador lembra que são as fêmeas que fazem o maior investimento nos filhos. “Elas vão amamentá-los e carregá-los por meses ou anos. Então por que a fêmea iria aceitar passivamente a escolha do sexo? Bom, ela não vai.”

Essa teoria da escolha do sexo dos filhotes nos mamíferos foi proposta pela primeira vez em um estudo de 1973, feito por Robert Trivers e Dan Willard. Eles desafiaram a ideia de que a determinação do sexo dos filhotes é aleatória. No lugar dela, propuseram que os mamíferos podem manipular o sexo de sua cria a fim de gerar mais descendentes. A teoria foi reforçada em 1984, com um estudo de T.H. Clutton-Brock publicado na revista Nature. A pesquisa mostrava que, entre os veados-vermelhos, as fêmeas dominantes produziam uma quantidade maior de filhos machos do que aquelas de posição mais subordinada.

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“O problema é que em nenhum desses exemplos alguém já tinha sido capaz de olhar para os filhos dessas fêmeas e dizer se eles foram mais bem sucedidos do que os outros, porque ninguém conseguiu acompanhar animais na natureza por três gerações”, explica Garner. Além disso, os trabalhos anteriores tinham o enfoque em apenas uma espécie.

Por isso, Garner e sua equipe decidiram utilizar os animais do zoológico para o estudo – o que não os poupou de um intenso trabalho de reconstrução do histórico reprodutivo de cada uma das espécies analisadas. No final, conseguiram 1.627 avós e 703 avôs do mundo animal, dos quais eles tinham os dados completos de três gerações. Os principais grupos de mamíferos foram representados na amostra: primatas, carnívoros, animais de casco fendido, como o boi e o búfalo, e animais de casco ímpar (ou seja, com um ou três dedos em cada pata), como os cavalos, que têm um só dedo. Os resultados mostraram que as fêmeas estavam apostando de forma correta: dentre aquelas que produziam mais machos, seus filhos tinham 2,7 mais vezes mais filhotes do que aqueles cujas mães tiveram um número balanceado de filhos machos e fêmeas.

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Hipóteses – O mecanismo através do qual as fêmeas fazem esse controle, porém, ainda não foi descoberto. “Sabemos que, independente do que seja esse mecanismo, ele está ocorrendo no momento da fertilização do óvulo. Em muitas espécies nas quais ocorre essa escolha do sexo dos filhos, as fêmeas só ovulam uma vez ao ano. Então, elas têm que fazer algo no momento da fertilização do óvulo. E elas não podem fazer isso matando seletivamente embriões masculinos ou femininos, por exemplo”, explica Garner.

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Outra coisa que se sabe sobre esse mecanismo é que ele não tem nenhuma relação com o esperma. “Sabemos que mesmo machos que têm mais filhos machos produzem esperma com chances iguais de gerar um filhote macho ou fêmea”, afirma Garner. Um das teorias para explicar esse fato afirma que as fêmeas conseguem acelerar ou atrasar o gameta masculino e feminino, que têm formatos diferentes, à medida que eles se movem pela mucosa do sistema reprodutivo.

Lembrando que os seres humanos também são mamíferos, Garner afirma que diversas evidências mostram que essa escolha inconsciente do sexo dos filhos ocorre também entre os humanos. Um estudo deste ano, feito com bilionários americanos, mostrou que eles têm mais chances de ter filhos do que filhas – provavelmente porque os homens tendem a ser os herdeiros. Estudos realizados em sociedades poligâmicas mostram que a primeira esposa tem mais chances de ter filhos homens do que as demais. Segundo Garner, homens mais agressivos também tendem a ter mais filhos homens, uma vez que no passado a agressividade poderia garantir a sobrevivência do macho. “Mas isso não quer dizer que se uma mulher desejar muito ter uma menina ou um menino ela vai conseguir”, explica Garner. “Seu subconsciente e seu corpo estão tomando essa decisão por você”.

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