Garimpando o espaço
Em entrevista ao site de VEJA, o fotógrafo e cineasta americano Michael Benson conta como vasculhou os arquivos desprezados pelos cientistas em busca de "imagens incríveis" do universo
Antes da internet, a realização do livro Planetfall, do fotógrafo e cineasta americano Michael Benson, seria quase impossível. As imagens feitas pelas sondas espaciais ficavam disponíveis apenas a cientistas e funcionários das agências espaciais. A partir da década de 90, essas imagens se tornaram públicas. E foi garimpando essas imagens que Benson selecionou as melhores, do ponto de vista estético, para compor seu livro.
“Os cientistas entram nesse arquivo para procurar descobertas, estudar a geologia, encontrar luas. Eles procuram novas informações, enquanto eu procuro descobertas estéticas, procuro imagens incríveis”, diz.
Em entrevista ao site de VEJA, Benson fala sobre o processo de criação de seu trabalho e seu interesse pela exploração espacial.
As imagens do seu livro representam aquilo que uma pessoa veria do espaço? Esse foi exatamente o meu objetivo. Eu fui criticado pelo “realismo tradicional” do meu trabalho, mas eu não acho que isso seja ruim. São paisagens que nenhum ser humano já viu, eu acho que é parte do trabalho fazer com que elas fiquem semelhantes ao que o olho humano veria. Com esse tema eu agi como um fotógrafo que queria boas imagens, usei técnicas tradicionais, mas eu queria que ele ficasse o mais próximo possível do que nós veríamos se estivéssemos lá.
A técnica que o senhor utiliza para colorir as imagens é semelhante à da Nasa? Se a intenção é conseguir fotos coloridas, a técnica deve ser basicamente a mesma. Mas as imagens que eu uso não foram processadas e lançadas pela Nasa, existem centenas de milhares de imagens de material bruto. Os cientistas entram nesse arquivo para procurar descobertas, estudar a geologia, encontrar luas. Eles procuram novas informações, enquanto eu procuro descobertas estéticas, procuro imagens incríveis. Qualquer um pode explorar os arquivos, assim como qualquer um pode ir a uma biblioteca e utilizar as informações.
O senhor vem trabalhando com imagens do espaço há anos, qual a sua inspiração para escolher esse tema? Eu sou fascinado pelo fato de que estamos abrindo novas fronteiras no espaço. À medida que as missões eram lançadas eu sempre procurava prestar atenção e ver o que elas estavam descobrindo. Mas nesse meio tempo eu estava me tornando cineasta, fotógrafo, e fazia outras coisas, mas sempre estive interessado nisso. E sempre pensei que esses avanços pertenciam também à fotografia, mas era difícil ter acesso ao material bruto no início da exploração espacial, eu só via algumas fotos que eram lançadas pela Nasa. Nos anos 90 a internet surgiu e se tornou possível que “pessoas comuns”, e não só cientistas, tivessem acesso ao material bruto. Eu comecei a usar a base de dados para investigações próprias do sistema solar. Era incrível que como eu podia saber tudo o que estava sendo descoberto. Estava tudo disponível para o público, mas a maior parte das pessoas não prestava atenção.
O que mudou desde as primeiras imagens espaciais até agora? Desde a década de 60, de quando são as primeiras imagens espaciais, até 2013, nós abrimos todo o sistema solar, temos muito mais conhecimento sobre todos os planetas, então tudo mudou. A diferença da quantidade de conhecimento que nós tínhamos nos anos 60 para a que temos agora é como a diferença de uma página de um livro de 2.000 páginas e todas as 2.000 páginas. É uma diferença enorme. E as imagens têm uma qualidade muito melhor agora, nós ficamos muito bons nesse jogo de fazer imagens com robôs e naves espaciais.
Quais são os seus próximos projetos? Algum deles envolve o espaço? Eu tenho dois próximos projetos. Um deles não está indo muito bem porque eu preciso ter acesso a um microscópio eletrônico de varredura. Trata-se de um livro sobre o espaço, mas sobre espaços pequenos. Ele se chama Nanocosmos, é sobre pequenos espaços e fenômenos naturais em escalas microscópicas. Enquanto não consigo o microscópio, eu tenho um projeto de outro livro, também sobre espaço. Esse seria um livro de representações não fotográficas do cosmos, como cartografia das estrelas. Até o final do século 19, os astrônomos tinham que fazer desenhos, porque a fotografia não era boa o bastante, então tem muito material interessante.
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Para saber mais sobre o trabalho de Michael Benson, acesse o site: https://michael-benson.net/