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Críticas na internet levam China a combater poluição

Após moradores de Pequim e outras cidades começarem a medir qualidade do ar, governo chinês anunciou projeto para monitorar níveis de poluentes

Por Sharon Lafraniere, do The New York Times
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h46 - Publicado em 12 fev 2012, 16h19

Cansados de esperar que as autoridades alertassem os moradores sobre o poluente mais perigoso de Pequim, um grupo de cidadãos chineses procurou uma solução para o problema. Eles gastaram 4.000 dólares em um aparelho que monitora a qualidade do ar e começaram a postar os resultados diariamente na internet. Isso deu início a uma reação em cadeia. Voluntários em Xangai e Guangzhou compraram aparelhos semelhantes em dezembro. Os moradores de Wenzhou estão vendendo laranjas para conseguir o dinheiro necessário para também comprar o equipamento.

Funcionários do governo afirmam há anos que a qualidade do ar melhora constantemente na China. Eles dizem que a cidade de Pequim, por exemplo, teve 274 dias de “céu azul” em 2011. Contudo, essa estatística é facilmente desmentida pela grossa camada de poluição que cobre os céus da cidade durante boa parte do ano. Confrontados com uma nova onda de críticas na internet, os altos muros do discurso oficial sobre o meio ambiente começam a desabar. Recentemente, o governo mudou de atitude e passou a monitorar os níveis dos poluentes mais perigosos: as partículas com 2,5 micrômetros de diâmetro ou menos, também conhecidas como PM 2,5. O projeto começa nas 30 maiores cidades ainda este ano e, no ano que vem, serão mais 80.

Após anos escondendo a verdade sobre os poluentes, no mês passado a cidade de Pequim começou a publicar de hora em hora os dados registrados em uma estação de monitoramento. Ma Jun, diretor do Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais, uma organização sem fins lucrativos da capital chinesa, acredita que o povo chinês foi responsável por esses avanços. “No início do ano passado, já havíamos perdido as esperanças de que o governo adotasse o padrão PM 2,5”, afirmou Ma. “Mas, no final das contas, a população falou tão alto que foi impossível ignorá-la”.

Doenças – Geradas pela poeira, emissões veiculares, combustão do carvão, fábricas e construções, as partículas finas estão entre as mais perigosas, já que chegam com facilidade até os pulmões e acabam penetrando na corrente sanguínea. A exposição crônica pode aumentar o risco de problemas cardiovasculares, doenças respiratórias e câncer no pulmão. Ainda que a China tenha feito progressos no sentido de limitar a presença de toxinas no ar, os dados sobre PM 2,5 estão longe de serem positivos. Todos os anos, centenas de pessoas morrem prematuramente em decorrência da poluição na China.

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Em um relatório produzido em dezembro e ainda não publicado, o Banco Mundial utilizou estatísticas do governo chinês para determinar as concentrações de PM 2,5 em cidades do norte da China. Segundo a instituição, os níveis são de cinco a seis vezes maiores que os limites recomendados pelo governo dos Estados Unidos, e quatro vezes maiores que os níveis identificados nas cidades do sul da China. Nove das 13 maiores cidades do país não foram capazes de cumprir com metas anuais estipuladas pela Organização Mundial da Saúde para países em desenvolvimento.

Wang Yuesi, cientista chefe de poluição do ar no Instituto de Física Atmosférica da Academia Chinesa de Ciências, estimou em janeiro que Pequim precisaria de ao menos 20 anos para atingir essa meta. Segundo Steven Q. Andrews, consultor ambiental que vive em Pequim, um equipamento da Embaixada dos Estados Unidos demonstrou que a concentração de partículas finas no ar era cerca de três vezes mais alta que a meta e dez vezes mais alta que a diretriz da Organização Mundial da Saúde.

Internet – Queixas sobre a poluição na China estão se tornando cada vez mais comuns nos weibos, a versão local dos microblogs como o Twitter. Em novembro, Pan Shiyi, magnata do mercado imobiliário de Pequim, perguntou a seus 7 milhões de seguidores no microblog se a China deveria empregar padrões mais rigorosos para a qualidade do ar. Shi Yigong, famoso biólogo molecular que deixou seu cargo na Universidade de Princeton em 2008 para dirigir o departamento de ciências da Universidade de Tsinghua, reclamou em seu blog que a poluição atmosférica era a única “coisa realmente ruim” de seu retorno para a China.

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Estatísticas do governo chinês indicam que a qualidade do ar das cidades melhorou na última década, à medida que as cidades mudaram as fábricas de lugar, diminuíram o consumo de carvão e adotaram padrões mais rigorosos para a inspeção veicular. A análise dos dados do governo realizada pelo Banco Mundial determinou que a média de concentração de partículas caiu 31 por cento entre 2003 e 2009 em 113 grandes cidades. Ainda assim, apenas algumas cidades foram capazes de alcançar as metas mais difíceis impostas pela China, que permitem o dobro dos valores indicados pela Organização Mundial da Saúde.

Wang, o pesquisador da Academia Chinesa de Ciências, afirma que, embora os níveis de PM 10 tenham caído cerca de 30 por cento em Pequim entre 2006 e 2009, eles voltaram a crescer desde então. Contudo, é difícil dizer se as estatísticas do governo são confiáveis. Ainda que muitos argumentem que a liberação de dados mais detalhados torna a falsificação mais difícil, Andrews, o pesquisador ambiental, afirma que o governo tem manipulado de forma sistemática os dados e as normas para criar mais dias de “céu azul”. Boa parte da atenção está focada em Pequim, mas há pelo menos outras 16 cidades mais poluídas na China, de acordo com o relatório do Banco Mundial.

A Organização Mundial da Saúde estimou em 2007 que 656.000 chineses morrem prematuramente todos os anos em decorrência de problemas causados pela poluição atmosférica, tanto em ambientes fechados quanto em locais abertos. O Banco Mundial determinou que o número de mortes causadas pela poluição ambiental em locais abertos é de cerca de 350.000 a 400.000, mas esses números foram extrapolados dos dados de um relatório de 2007, feito sob pressão do governo chinês.

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