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‘Cinquenta Tons de Cinza’ banaliza violência contra a mulher, diz estudo

Segundo pesquisadora americana, comportamentos abusivos em relação a mulheres retratados com naturalidade e 'glamour' em obras da cultura pop ajudam a tornar essa situação socialmente aceita

Por Da Redação
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h18 - Publicado em 13 ago 2013, 16h41

O romance Cinquenta Tons de Cinza (Editora Intrínseca, 480 páginas), de E.L. James, se tornou um fenômeno literário desde que foi lançado, em maio de 2011. A série, composta por três volumes, já vendeu 70 milhões de exemplares em mais de 40 países. No Brasil, o primeiro volume ultrapassou 1 milhão de cópias vendidas em apenas três meses. Com todos os livros já publicados, a ansiedade dos fãs agora é dirigida à adaptação cinematográfica da obra, prevista para o segundo semestre de 2014.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: “Double Crap!” Abuse and Harmed Identity in Fifty Shades of Grey

Onde foi divulgada: periódico Journal of Women’s Health

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Quem fez: Amy E. Bonomi, Lauren E. Altenburger e Nicole L. Walton

Instituição: Universidade Estadual de Ohio, EUA

Resultado: Analisando o livro Cinquenta tons de cinza a partir das definições do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) para abuso emocional e violência sexual, as autores concluem que a relação entre os protagonistas da obra é permeada de absusos e violência contra Anastasia.

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Graças a isso, a obra virou alvo do interesse das ciências humanas. Um estudo conduzido por Amy Bonomi, professora do Departamento de Estudos sobre a Mulher, Gênero e Sexualidade da Universidade do Estado de Ohio, concluiu que o romance pode alimentar a violência contra a mulher, colaborando para que episódios de abuso sejam considerados normais pela sociedade.

Na história, Anastasia Steele, uma jovem ingênua e desastrada, se envolve com Christian Grey, empresário rico e atraente. Os livros da série retratam as experiências sexuais do casal, que incluem episódios de dominação e sadomasoquismo.

Para Bonomi, que realizou uma análise do primeiro romance da série, junto com suas colaboradoras, Anastasia sofre abuso emocional e sexual ao longo da narrativa. “Este livro está perpetuando padrões de abuso perigosos e está sendo considerado um livro romântico e erótico para mulheres. O conteúdo erótico poderia ter sido obtido sem a temática do abuso”, afirma a autora do estudo, publicado no Journal of Women’s Health, opinando sobre o que ela crê que deveria ser o conteúdo do livro.

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Para estipular o que era abuso emocional e violência sexual, a pesquisadora se fiou nas definições do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, assim como as reações associadas às mulheres que sofrem abuso.

Abusos – O estudo relata que o abuso emocional está presente em quase todas as interações entre os dois protagonistas. Entre as medidas utilizadas por Christian consideradas abusivas estão perseguição, intimidação e até mesmo o uso de bebidas alcóolicas para conseguir o consentimento de Anastasia.

O milionário segue Anastasia deliberadamente, aparece em lugares inesperados e utiliza computador e telefone para monitorar o paradeiro da namorada. De acordo com o estudo, ele a intimida tanto verbalmente quanto através de comportamentos, como sobre a decisão do que ela pode comer e com ameaças de punição, além de limitar seu contato social.

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Segundo a autora, Anastasia apresenta reações típicas de mulheres que sofrem tais abusos na vida real. Ela se sente constantemente ameaçada e perde sua identidade própria, muda seus comportamentos para evitar brigas – como esconder informações sobre os lugares em que esteve, para evitar a ira de Christian – e perde o poder no relacionamento, à medida que suas reações se tornam mecânicas em resposta aos padrões abusivos do companheiro.

“Relações consensuais de dominação sexual são muito diferentes do que se observa no relacionamento de Anastasia e Christian”, afirma Bonomi. Para a pesquisadora, o relacionamento entre os dois não é considerado consensual, uma vez que Christian faz uso dos artifícios citados. “Enquanto Anastasia é descrita sentindo prazer em alguns momentos de interação sexual do casal, nossa análise mostra que ela está ao mesmo tempo confusa e com medo de se machucar, e deseja uma relação ‘normal'”, completa.

Leia também:

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“Glamour” – Em um dos exemplos citados nos estudos que, segundo Bononi, constituiria abuso emocional, Anastasia decide viajar para visitar sua mãe em outro estado. Sem que ela saiba, o namorado muda seu assento no avião para a primeira classe, deixando a poltrona ao seu lado vazia. “Esta é uma forma de perseguição na qual Christian identifica o voo de Anastasia e faz com que ela se lembre de sua presença e controle sobre ela através da mudança para a primeira classe”, afirma o estudo.

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Durante a viagem, Anastasia envia uma mensagem a Christian contando que fez uma massagem com um massagista no aeroporto. Em resposta, ele escreve que “sabe o que ela está tentando fazer” e que “na próxima vez ela estaria no compartimento de carga do avião, amarrada e amordaçada em uma caixa”. Ela pede a ele que não fique bravo e, ao chegar a seu destino, escreve um e-mail relatando, entre outras coisas, que ele a assusta. Christian responde, porém, explicando que era tudo uma brincadeira e que nada que ela não quisesse aconteceria. Em outro episódio que também configuraria perseguição e intimidação, de acordo com a pesquisadora, Christian vai até o estado da Georgia atrás dela, impedindo-a de ficar com sua mãe.

Bonomi argumenta que quando comportamentos violentos e abusivos em relação à mulher ganham atenção e glamour na cultura pop, como em livros, filmes e músicas, isso colabora para que eles sejam socialmente aceitos, inclusive pelas próprias mulheres que convivem com esse tipo de situação. “De 25% a 44% das mulheres são vítimas de violência de parceiros”, afirma a pesquisadora.

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